No post abaixo interrogo-me sobre as fontes de informação do arautozito do regime, Marques Mendes de seu nome. Com segurança e como se estivesse indigitado para o fazer, eis que, semanalmente, no grande palco da SIC, anuncia os grandes segredos da nação. Este sábado enunciou, com pormenor, cada uma das medidas que o Banco de Portugal anunciará este domingo à noite para resolver o imbróglio BES. Na volta, dada a portabilidade de que se reveste, anda no bolso do Carlos Costa a ouvir tudo o que ele diz. Ou no do Cavaco e, quando o Carlos Costa vai lá dar uns palpites ao amigo, o pequno Nóia está no bolso do dono a ouvir tudo. Não sei. Alguma coisa é.
Mais abaixo ainda, mostro um presente que recebi, um Chinel Nº 5.
Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra.
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Vou ser breve e começo com um disclaimer.
Não conheço pessoalmente José Sócrates mas acho que, em especial no seu primeiro mandato, foi um bom Primeiro-Ministro. Acho ainda que, no segundo mandato, acossado por uma oposição desqualificada e oportunista, sem qualquer apoio do Presidente da República e no olho de um furacão que assolava os países mais frágeis, com a União Europeia a patinar sobre a crise financeira e a dizer uma coisa e, a seguir, o seu contrário, com um BCE ainda sem saber como agir, Sócrates não conseguiu sobreviver nem aguentar as rédeas que todos teimavam em tirar-lhe das mãos.
Não acho que a sua governação estivesse isenta de erros e algumas vezes aqui o critiquei mas independentemente de se gostar mais ou menos dele, entre ele e o que se lhe seguiu, penso que não há comparação possível.
[Já agora: no dito post abaixo, mostro o excerto do Expresso onde se revelam dois dos grandes agentes da estratégia que derrubou Sócrates, trazendo para dentro de portas a troika.]
Contudo, para além da questão política, tenho que dizer que admiro a incrível resistência anímica daquele homem. As campanhas de que foi alvo derrubavam qualquer um. Tudo se inventou sobre ele. Contudo, todos os processos foram arquivados por não existirem quaisquer provas contra ele. E a tudo ele sobreviveu. Poucos o teriam conseguido e só isso já seria motivo de admiração.
Desde torpes campanhas pessoais sobre a sua orientação sexual até difamações arquitectadas em sedes de campanhas eleitorais da oposição ou por grupelhos de putos bloguistas, por tudo isso ele passou.
De cada vez que se aproximavam eleições, lá começavam a sair notícias infames. Se vinham a baile suspeitas de casos ligados a determinadas figuras públicas, eis que logo as atenções eram desviadas para notícias plantadas por certa imprensa tentando incriminar José Sócrates. E, se não era ele, era o tio, o primo, a mãe, o pai - quem calhava desde que pudessem usar o nome dele.
Sócrates é assertivo, lutador, um animal feroz, e os animais ferozes despertam ódios e paixões - e não há melhor para vender notícias do que gente que desperta ódios ou paixões. Os media pegam logo no osso que lhe atiram e os que atiram estes ossos em momentos específicos agradecem. A turbamulta irá atrás, sempre pronta a assistir ao estraçalhar público de um animal feroz e eles poderão sossegar: a populaça nunca se lembra dos que se escondem na penumbra.
Já antes, por alturas de outros casos mediáticos em que outros nomes se sussurravam (outros...? outros ou os mesmos?) lá apareciam histórias absurdas, suspeitas implicando nomes do PS. Ferro Rodrigues ou José Sócrates, a mesma coisa: sacrificados junto da opinião pública para desviar as atenções da multidão enquanto outros escapavam de fininho.
Há um padrão nesta situação. E agora de novo.
Numa altura em que as contrapartidas pela compra de equipamento militar (e a este tema voltarei), a corrupção provada na Alemanha envolvendo o negócio dos submarinos, os links de Ricardo Salgado e outros tópicos são temas escaldantes que, segundo se diz, podem vir a implicar alguns nomes, eis que, uma vez mais, a imprensa marron aparece com manobras de diversão, ou seja, sai-se com as bocas do costume.
Digo bocas porque, efectivamente, disso não passam. Notícias é que não são. Que não se sabe, que pode não ser ele mas um primo, que isto mas se calhar também aquilo ou nada disso. Em suma: uma vergonha.
Transcrevo:
(...)
Revista "Sábado": Ministério Público pondera deter Sócrates por causa do Monte Branco.
Revista diz que o Ministério Público já quebrou o sigilo bancário e fiscal do antigo primeiro-ministro.
(...)
Apesar do título "Sócrates apanhado na rede do Monte Branco", "a Sábado não conseguiu apurar se este dinheiro suspeito, ou parte dele, que foi sobretudo encaminhado para contas na Suíça, é efetivamente de José Sócrates", lê-se no texto em causa.
Também estará sob suspeita José Paulo Bernardo Pinto de Sousa, primo de José Sócrates que foi ouvido no âmbito do caso Freeport, e um amigo do ex-líder socialista, seu conterrâneo da Covilhã, que "comprou as casas da mãe de Sócrates". Trata-se do empresário Carlos Manuel dos Santos Silva, que em 2011 e 2012 comprou três casas da mãe do ex-PM.
A Procuradoria-Geral da República de imediato negou as notícias. Sócrates não é arguido ou suspeito, não está a ser investigado; transcrevo do comunicado da PGR: "Na sequência de notícias vindas a público nas últimas horas, esclarece-se que José Sócrates não está a ser investigado nem se encontra entre os arguidos constituídos no Processo Monte Branco".
Mas a PGR nem precisava de o dizer. Já vimos este filme vezes demais. Se os jornalistas e investigadores forem espertos, já devem saber que, de cada vez que estas torpezas são lançadas, há alguém que está a querer passar despercebido entre os pingos da chuva. Eu, se fosse a eles, era atrás desses mesmos que ia.
Até porque isto já cansa, mesmo que esses artistas que inventam e arquitectam estas campanhas negras não sejam culpados de crimes barbudos, pelo menos por lançarem estas difamações deveriam ser publicamente expostos, censurados. E fico-me por aqui, pela censura - porque é tarde, três da manhã, e estou com sono, já sem energia para me insurgir com mais força. Além disso, para mal dos meus pecados, no meu sangue não corre o fervor que corre nas veias de Ana Gomes. Eu, como é sabido, sou mais Chinel e contos eróticos.
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Relembro: sobre a grande amizade entre Carlos Costa e Cavaco Silva, sobre Marques Mendes e o BES e sobre as minhas dúvidas acerca do garganta funda do regime, falo já a seguir. Sobre o dito Chinel (Nº 5) e sobre quedas de estrondo na passerelle, é ainda mais abaixo.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma belo domingo!
1 comentário:
Um bom domingo tb para si.
Deixe-me relembrar que em pelo menos três vezes o MP tb veio desmentir as ligações do R Salgado ao Monte brando... e confessar a minha pura inveja e imparável volta ao miolo sobre o que leva um ex-pm catar um prédio de três milhões, fora a vida de fausto, que as luzes da cidade proporcionam.
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