Hoje não estou para muitas escrituras, estou cansada demais para isso. Já para não falar que acho que já fui picada, estou cheia de comichões. Bolas. Chegámos já de noite, tivemos que estar com a porta aberta e as luzes acesas e isso é fatal. Mosquitinhos ínfimos mas que mordem como gabirus esfomeados. Tenho para aqui uma coisa que se põe na tomada e que supostamente deveria emitir uns infra-sons que deveriam deixar os mosquitos zonzos mas, cá para mim, já não funciona como deve ser. Gaita. Odeio isto. Tenho que ir encher-me de Fenistil, tenhos os braços e as pernas com uma destas comichões...
Bem, adiante.
Vou falar de um assunto que desperta o meu interesse.
Há tantos assuntos que despertam o meu interesse que não sei como dedicar tempo a todos. Não sei como é que há pessoas que não conseguem interessar-se por nada.
É isto: gosto de perceber as pessoas, de tentar reconhecer e prestar atenção a indícios de que qualquer coisa não está bem, gosto de ver em que é que posso ser útil. Identicamente gosto de perceber quando alguma coisa não bate certa. Geralmente é a minha intuição que entra em acção, muitas vezes muito antes do raciocínio começar a funcionar.
As pessoas acham que 'apanho do ar' ou que quase adivinho mas não é isso, é a minha intuição que, como não costuma ser contrariada, está sempre livre para agir. E age e eu presto-lhe atenção. Das coisas que mais me chateiam é quando faço afirmações baseada na minha intuição e não me levam a sério porque não tenho provas. Estupidez. Em vez de evitarem que elas apareçam...
Talvez para perceber os mecanismos da minha intuição ou para a exercitar ainda mais, gosto de aprender a decifrar alguns sinais.
Já vos contei do meu curso de Grafologia no Centro Nacional de Cultura e como, até aqui, tem sempre batido certo.
Uma vez analisei uma letra complicadíssima. Gosto de fazer as análises por escrito para sistematizar bem as ideias, para validar todos os aspectos (as margens, o espaçamento, a inclinação nas linhas, a inclinação da letra, a assinatura, etc). Por isso, nessa vez também escrevi aquilo que vi: que havia ali uma forte ambivalência e uma grande tendência para mentir, e outras coisas. Fiquei sem grande jeito para escrever isso mas, com alguma diplomacia, não escamoteei o que estava a ver. Depois disse que em vez de lhe enviar o papel, gostava de falar com ele pessoalmente para que não ficasse melindrado, para que pudéssemos conversar sobre o assunto. Sobretudo tenho sempre algum receio de estar enganada. Conversando, talvez algumas dúvidas se esclareçam.
Mas, quando cheguei ao pé dele, devia ir com cara de caso pois ele fez um sorriso nervoso e disse que temia que as minhas conclusões não fosse as melhores. Dei-lhe a ler e disse que ele não ficasse aborrecido, que depois conversávamos. Assim aconteceu.
Depois, para meu espanto, ele disse-me que concordava com tudo. E foi de uma sinceridade desarmante e, daí para a frente, tornámo-nos grandes amigos. Ele sabia que eu o tinha visto por dentro e passei a ser a sua absoluta confidente. Eu muitas vezes ficava até quase chocada com a forma como se desnudava e me confessava as maiores safadezas, as pequenas golpadas, as mentiras. Parte dessa sinceridade excessiva era charme. Mas, uma parte, era fruto daquela nossa conversa inicial. Para ele, eu passei a ser um polígrafo. Para que haveria de tentar enganar-me? Sabia que não conseguia e que, aliás, já se me tinha confessado como se estivesse deitado no divã.
Muitas pessoas acham que a grafologia é o estudo da letra, se a letra é feia ou bonita. Mas não tem nada a ver. Por isso, para se poder fazer uma análise deve haver umas duas folhas escritas à mão, para que haja material suficiente. No entanto, há coisas que são muito óbvias. Delas extraem-se leituras incompletas, mas no que dá para ver, já é interessante. Por exemplo, a assinatura de Marcelo Rebelo de Sousa é uma daquelas que não deveria ser exibida daquela maneira. Há ali muita especificidade exposta.
Isto com o estudo da escrita à mão. Mas há outros aspectos para perceber uma pessoa através de manifestações exteriores. Há tempos li um livro de um agente do FBI especialista em linguagem corporal e, desde aí, reparo também nesses aspectos. A forma como as pessoas se inclinam quando falam uma com a outra, a forma como apertam a mão, como escondem as mãos, a forma como evitam o olhar, etc. - tudo muito elucidativo.
Hoje, como estou muito cansada (saí de casa por volta das oito e picos da manhã, e já carregada com coisas que queria trazer para aqui, nomeadamente uns quantos livros, a máquina fotográfica, os carregadores, etc, e só voltei a pisar solo doméstico, depois das 21h30m, sem jantar e a morrer de fome. Isto depois de uma ida ao supermercado ao fim da jornada de trabalho para comprar sacos e sacos de iogurtes, queijos, leites magros, leites meio gordos, leites de sojas, cérelac, bolachas marias, gelatinas, entrecosto, frango, salmão, dourada, ovos, tomate, abóbora, batatas, cebolas, batatas doce, fruta, gel de banho, etc, etc - e isto tudo em cima de uns saltos altíssimos, que burra que fui que não me lembrei de trazer uns sapatos de cunha ou mais baixos). Já sei ao de leve que o Tribunal Constitucional deixou passar o corte de ordenados aos funcionários públicos e imagino o balde de água fria que foi para eles, tão fustigados que têm sido, e que não deixou passar o aborto da CES. Menos mal. Mas sei isto porque vi aqui num site qualquer. Felizmente, aqui in heaven, não temos televisão por cabo, e por isso não há comentadores económicos, políticos burros, papagaios e avençados.
Portanto, estive aqui entretida a ver telenovelas brasileiras e, depois, lembrei-me de ver Pamela Meyer.
Pamela Meyer is founder and CEO of Calibrate, a leading deception detection training company based in Washington DC.
Before writing the bestselling book, Liespotting, she spent years with a team of researchers surveying all of the research findings on deception, and underwent extensive training in facial micro-expression identification, interrogation skills and statement analysis.
Prior to that she was an Internet and media executive, as founder of Simpatico Networks, a leading social media company.
She is a Certified Fraud Examiner, has an MBA from Harvard, a Masters in Public Policy.
Não há mentiras que lhe escapem, não há fraseado, olhar, expressão corporal que a enganem.
E, ao exemplificar com situações concretas, a gente percebe melhor o que ela diz.
E, ao exemplificar com situações concretas, a gente percebe melhor o que ela diz.
Clinton é um dos casos paradigmáticos, um caso de estudo.
Ainda hoje estou para perceber como é que um homem inteligente se meteu numa situação parva daquelas e refiro-me especialmente ao facto de ter falado em público de uma situação que era do foro privado, e, ainda por cima, com explicações que vieram a revelar-se puerilmente falsas.
Diz-se que Hillary, um dia, fula com tanta parvoíce, lhe pregou um valente estalo - e eu percebo-a. Ter um marido que é um incontinente sexual deve ser uma chatice.
Vou mostrar-vos, no fim, a apresentação que Pamela Meyer fez no TED: Como detectar um mentiroso.
Vejam, por favor, pois vê-se bem e é útil. Ao princípio ela está nervosa, sem controlar bem a respiração mas, passado pouco tempo, já está à vontade e prende a atenção. Era bom que os jornalistas que por aí andam à babugem do Salgado do Holy Spirit ou de qualquer outro que lhes pareça poderoso (vide a infelicíssima entrevista que Gomes Ferreira, esse 1º ministro do portugal dos pequenitos, fez a Vítor Bento depois deste estar à frente do Novo Banco, esse curioso holograma), ou mesmo os deputados que irão começar a ouvir os suspeitos do costume nas comissões de inquérito, ou mesmo, todos nós na nossa vidinha doméstica do dia-adia.
Também estive a ver uns truques para as flores naturais durarem mais nas jarras ou para as fazer brilhar em artísticos e simples arranjos. Talvez amanhã fale disso. Hoje não que estou mesmo cansada.
Amanhã vou fazer uma limpeza profunda à casa pois no domingo chegam as tropas e não os quero com alergias a pós e acáros.
A seguir, talvez tome um belo banho em água perfumada com óleos ou com pétalas de rosa. E, a seguir, deitar-me-ei para ler o Expresso e dormir uma repousante sesta.
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Pamela Meyer: How to spot a liar
(...) On any given day we're lied to from 10 to 200 times, and the clues to detect those lie can be subtle and counter-intuitive (...)
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A música lá em cima é Needles por Grand Salvo.
As fotografias das flores são de Kathleen Kamphausen.
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E por agora tenho que me ficar por aqui, estou praticamente a dormir.
Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo feriado.
5 comentários:
parece-me consensual que a sociedade entrava em colapso se não existisse a mentira, para falar a verdade nem haveria sociedade.
por exemplo, se fosse obrigatório o teste adn dos progenitores, ía cá ser uma surpresa.
noutro dia uma equipa , não sei se de aveiro ou do minho queria fazer ao restos mortais de d.afonso henriques, o Governo não autorizou, e bem.
para quê abrir a caixa de pandora.
e se detectassem que era virgem, problema do caraças
também é consensual que as pessoas quando estão preocupadas com a sua sobrevivência, dificilmente se interessam por outras coisas
Há um velho ditado que diz: “mentir não custa, o que custa é saber mentir!”
Provavelmente.
Na França do Séc. XVIII, ao tempo da chamada “Época Libertina, ou da Libertinagem”, contava-se que os homens eram capazes de tudo dizer (mentir) para seduzir as mulheres, com vista a levá-las para a cama, o que aliás, quer entre a aristocracia, quer entre as restantes classes sociais, não era tarefa demasiado difícil. Uma das frases mais populares era, “temos de dizer que as amamos e, quando, em cem mulheres, conseguirdes convencer apenas cinco, é a taxa: o capital está bem investido a cinco por cento!”
E na Antiga Roma, Polemo, dizia-se, podia perceber o carácter de uma pessoa através da observação dos seus gestos e movimentos corporais, como o andar, a posição das mãos, o olhar, etc.
A propósito de mentiras e infidelidades aqui vai uma: “um homem era casado com uma mulher que era uma compulsiva adúltera. Aquilo era coisa que ela não conseguia evitar. O marido, que a amava muito, um dia fartou-se. A paciência de corno manso tem limites. E disse-lhe que já estava farto e que queria o divórcio. Ela choramingou, fez beicinho e prometeu corrigir-se, de uma vez por todas. Ele então disse-lhe que era a última oportunidade que lhe dava. Ela beijou-o agradecida. Um dia, ao chegar a casa, o marido quando vai ao quarto encontra-a na cama com um anão. Indignado berra-lhe: eu sabia que não podia confiar em ti! Mentiste-me! Não tens emenda!
Ela, porém, defendeu-se: querido, se vires e analisares em detalhe esta situação terás de concordar que estou a fazer um esforço!”
Lá está: mentir não custa, o que custa é sabetr mentir!
Já assisti uma vez a uma conhecida minha mentir com uma tal habilidade e naturalidade ao marido, sobre uma traição dela que lhe tinha sido contada por alguém próximo dos dois (uma mulher, pois claro!), que nem o tal Polemo poderia identificar se ela estava a mentir. Eu próprio, conhecedor das marotices dela (nunca consegui perceber como ele acreditava naquele casamento), fiquei “quase convencido”.
P.Rufino
há pessoas (e muitas), que levam uma vida dupla, pois só assim são felizes, e conseguem fazer os outros felizes.
só há uma regra absoluta, nunca sequer, levantar suspeita.assim nem é preciso mentir
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