quarta-feira, dezembro 22, 2021

Uma das grandes diferenças entre o MasterChef Australia e o MasterChef Portugal é que o primeiro nos inspira e nos desperta para um mundo de possibilidades

 


Gosto de cozinhar. Mas, pela minha maneira de ser ou pela permanente falta de tempo para o tanto que sempre tenho que fazer, nunca me dá para fazer cozinhados muito elaborados. Também não sou de consultar ou, muito menos, seguir receitas. Sou de improvisar e de me deixar guiar pelo instinto. 

Por isso, não sei de técnicas ou truques. Simplesmente, vou fazendo, arriscando, provando, ajustando.

Contudo, também aqui como em tudo na minha vida, aquilo que aprecio não é, em geral, aquilo que faço. 

Já o contei: se vissem as pinturas que adquiri e tenho nas paredes, cores neutras, abstractas, não acreditariam nas coisas que pinto, coloridas, provocantes. São o oposto. É como os blogs. Aprecio-os discretos, contidos, com pouco espalhafato, neutros na cor, minimalistas na forma e no conteúdo. O oposto do meu. Não sei porque é isto. 

Ao comentar esta desconformidade, pessoa entendida e que muito prezo escreveu uma coisa sobre mim que me agradou. Transcrevo:

Tem que ver o lado positivo das coisas. Essa contradição permite-lhe juntar um gosto que apesar de não praticar é alimentado teoricamente e uma prática que igualmente aprecia embora a teoria lhe diga o contrário. Perfeito!:)

Tendo a levar a sério o que ele escreve pelo que não tenho por que duvidar que, desta vez, se tenha enganado. Portanto, aceito e agrada-me. Ou seja, acredito que não seja uma doida varrida mas, sim, alguém que consegue conjugar vertentes contrárias.

Isto para dizer que gosto de provar e de ver fazer pratos com criatividade, sofisticação e cuidado na confecção e... no entanto, quando vou para a cozinha é meia bola e força.

Quando falo com a minha mãe, ela refere-me frequentemente esta ou aquela que vão ao programa desta ou daquela. Nunca sei de que fala. Cada vez me falta mais a paciência para prestar atenção ao que dá na televisão. Programas nacionais, então, evito. Parece que está tudo contaminado pela maledicência, pela superficialidade, pela ausência de rigor e de lógica. 

Isto não é um bolo
Mas é televisão e, pelos vistos, também a rádio. 

No outro dia, ia de manhã no carro, estava no Fórum TSF e entrevistavam a Graça Freitas. De uma forma muito objectiva e clara, ela falava dos riscos acrescidos da Ómicron e da conjugação com os riscos acrescidos da época festiva, em que as pessoas tendem a juntar-se em casa, isto é, em ambientes fechados. Dizia ela que é bom conviver mas que não devem ser descuradas as várias camadas de protecção: em primeiro lugar a vacinação, mas também a máscara, o afastamento (possível), o arejamento, a higienização das mãos. E tudo num registo pedagógico de bom senso e afabilidade. Pois bem. A seguir, abriram a antena para o público e, para meu espanto, apareceram uns estupores que falaram com voz irritada como se tivessem ouvido outra coisa, muito diferente do que ela tinha dito. Um dizia que era tempo de acabar com tanta mentira, que há não sei quanto tempo que andam a prometer que vão acabar com a epidemia e que afinal nunca mais acaba. Outro dizia que a Drª Graça e outras pessoas parece que vivem numa cúpula a falarem de usar de máscara como se fosse possível na casa dos pais em Trás-os-Montes convencer alguém a andar de máscara ou a abrir a janela, com o frio que está. E falavam com voz irritada, zangados com a Graça Freitas e contra incertos. Nada do que diziam tinha a ver com o que ela, acertadamente, tinha aconselhado. Limitavam-se a dizer baboseiras, despejando irritação para cima de quem merece agradecimento e não palavras desagradáveis. 

Parece que as pessoas, ou algumas delas, andam parvas, maldosas, venenosas. 

Mas até nos blogs. Volta e meia leio coisas que me deixam perplexa. Penso: mas esta gente lê ou ouve ou vê o mesmo que eu? 

De pessoas ou conversas assim eu guardo distância. Fujo. Se necessário, até que desamparem a loja, fico anos isolada, a deixar crescer o cabelo e a barba, numa toca no meio do deserto. Gente rancorosa é tóxica, corrói a alma, a carne e os ossos de quem está por perto. Xô.

Bem. Mas isto para dizer que há um programa que não perco (excepto quando adormeço...), que me deixa de queixo caído, que me deixa maravilhada, que me deixa com pena de não ter tanta imaginação e habilidade e conhecimentos -- o Master Chef Australia.

Uma coisa extraordinária. Uma permanente superação. Num ápice aquelas pessoas têm ideias, decidem o que fazer, como fazer, num ápice a mestria ganha asas. Aparecem pratos artísticos, aparentemente gostosos, gulosos, elaboradíssimos, verdadeiras obras de arte. 

Bolas. Se estou bem acordada, nem tolero que a minha atenção seja desviada para o que quer que seja. Ver aquilo ali é a gente assistir a milagres que acontecem once in a life time. Que me desculpem os muito crentes mas vou mesmo dizer uma heresia: assistir aos milagres que ocorrem nas bancadas do Master Chef Australia é mais emocionante do que ver aparecer a Nossa Senhora a pairar numa azinheira.

Em contrapartida, no outro dia, pela segunda vez, calhei passar pelo Master Chef de Portugal. Nem dá para perceber. O que é que aconteceu para aquilo ser assim? Não havia melhores candidatos? Somos um país de pés de chumbo culinariamente falando?  É que tudo aquilo, ao pé do de Austrália, é coisa brega, indigente, paupérrima, coitadinha. 

Porque é que chamam àquilo MasterChef? Engodo para atrair gente distraída como eu?

Não me parece nada bem. Devia haver limites para a publicidade enganosa.

Não sei como funciona isso pois supostamente deveria haver padrões de qualidade e exigência uniformes ou, pelo menos, equivalentes. Mesmo a nível de júri. O trio australiano tem pinta, tem graça, tem espontaneidade, tem entusiasmo, imprime ritmo e uma permanente boa onda. O trio português não descola, não tem pingo de piada, não tem jeito, não agarra nem chama audiências. Nem voz têm, parece que falam com a voz agarrada ao rabo. Não têm culpa, claro. E há ainda outra coisa: lamento dizê-lo mas parece que não sabem alimentar-se de forma racional, pouco calórica. E até acho que devem ser simpáticos. Não precisavam era de ali estar. 


Dito isto. Ainda não comprei parte dos mantimentos para o jantar da véspera nem sei bem o que comprar. Também ainda não separei os presentes por destinatário, não tenho embalagens nem papel de embrulho, nem vejo quando vou tratar disso. Para agravar a situação, sinto preguiça. Apetecia-me ter férias para poder dedicar-me ao espírito natalício, mas dedicar-me como deve ser, com vontade de pôr luzinhas em grinalda à minha volta e tudo. Apetecia-me não ter que fazer nem resolver nada a nível profissional durante uns dias, apetecia-me que não me colocassem não sei quantos problemas por dia, apetecia-me ser artista para fazer pratos surpreendentes, apetecia-me que cá em casa fossem todos de boa boca para eu não me sentir inibida a inventar misturas malucas, apetecia-me que não fossem uns gozões da pior espécie para não sentir receio de que, se a coisa desse para o tordo, fizessem pouco de mim durante anos (como acontece só porque uma vez me esqueci de uma colher dentro de um bolo). Olhem, apetecia-me nem sei bem o quê. Essa é que é essa.

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Desejo-vos um dia bem passado
Alegria. Saúde. Máscara. Cuidado. E força nisso.

1 comentário:

Lucy disse...

Jamie Oliver, a sua cara!Feliz Natal