segunda-feira, março 29, 2021

O mistério Nuno Rogeiro, a Cleópatra da Malveira, os padres que rezam para que lhes comprem queijo e uns quantos Photoshops um bocadinho exagerados

 



Pouco tenho a acrescentar. Dia tranquilo, com uma ou outra demanda e com as dúvidas que nos têm ocupado a mente. De manhã caminhámos e, como ultimamente tem acontecido, cruzámo-nos com muitas pessoas. Notoriamente já ninguém consegue manter-se fechado em casa. É normal. Ainda por cima com este tempo amável puxando as pessoas para os seus braços... Mas, ao ar livre, e havendo um mínimo de distanciamento -- e, se não for garantido, com máscara -- acho que tudo bem. Arzinho livre mais bom...!

Enquanto almoçávamos, ligámos a televisão. Estava a Nuno Rogeiro a comentar cenas. E, uma vez mais, senti-me beige. Onde é que ele desencanta toda aquela informação? Li há algum tempo que ele se arma em bom, travestindo-se de espião, fazendo de conta que está a fazer revelações escaldantes, quando, na verdade, diz coisas que estão disponíveis em todo o lado. Não vou nessa. Nos jornais normais, pelo menos, não vêm. Ele mostra fotografias, ele revela conversas, ele sabe de telefonemas, ele divulga relatórios secretos. E mostra as provas. Ouço-o e fico sempre sem perceber: é ele um garganta funda que actua às claras? Um descarado dedo-duro? Um alcofinha new age? E tudo o que ele diz é verdade ou anda há séculos, com ar de quem tem a manga recheada, a espalhar fakes por tudo o que é sítio? Por acaso gostava que me esclarecessem. É que, se tudo aquilo é verdade, gostava que me dissessem como é que ele tem acesso a coisas tão improváveis? E mesmo que me digam que é tudo público, gostava que fizessem o favor de me dizer como é que ele selecciona e relaciona tudo aquilo. É muito jogo. E há um outro mistério a envolver o caso: é que, sendo tudo aquilo tão extraordinário, como é que a coisa não dá brado? E, reparem, nem falei no penteado. É que se juntasse esse pormenor, ainda a situação assumiria contornos mais inexplicáveis.

Mas adiante.

Agora à noite, perante a indigência que é a programação televisiva dominical, fiz zapping e passei pela mais estrídula, descabida e narcisística criatura de que há memória nos escaparates. Pior que a Guilherme. Pior que tudo o que se conhece. Desta vez apresentava-se mascarada de cleópatra ou o escambau. Um carnaval ambulante enfeitado de guinchos e escancaradas fake gargalhadas. O meu marido entrou na sala, olhou para a televisão e, ao vê-la a interagir com um bizarro painel, disse: 'Parece tudo muito rasca, não é...?'. E é, concordei. Desandei rapidamente do canal em busca do que se pudesse ver. Ele disse: 'Não queres acreditar mas a única coisa que se consegue ver é o futebol'. Uma tristeza.

E, portanto, acho que não tenho muito mais a dizer: não sei de nada, não vi notícias nem comentadores. Mantenho-me longe dessa praga que é pior do que a lagarta do pinheiro. 

Circulo pelo internacional e, tirando aquelas desumanas e insanas notícias que me fazem ter vontade de hibernar, só coisas sui generis é que call my name. Desta vez foi a notícia de que os monges de uma abadia em França estão a orar para que apareçam clientes para as toneladas de queijo que têm feito e que, graças à covid e à falta de fiéis e devotos a visitar a abadia, correm o risco de passar o prazo de validade. Assim vamos. Penso que é a isto que se chama o novo normal: os padres a rezarem para terem clientes para o queijo. Não sei onde é que isto vai parar. Sempre pensei que a fé não tinha nada a ver com pragmatismos ou prazos de validade. Afinal tem. Se calhar com isso e com mais coisas do género. Credo.

Já agora, por falar em queijo: ao jantar comi apenas uma maçã royal gala -- as que prefiro, das miudinhas, destratadas e saloias -- acompanhada por little fatias de um queijinho artesanal recheado com mel. Dá para imaginarem a delícia dos deuses que é? Claro que não moderei. A moderação cansa-me.

E é isto. Nada mais a declarar. Estou por tudo.


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E, vá, para que haja substância nisto, que se junte alguém que faz do perigo a sua profissão -- e que venha o mais rogeiro dizer-me que isto não é nada, que destas tem resmas para mostrar aos espetadores. Espetadores sem c, claro está. 

The world's most dangerous bus route 😱 | Mountain: Life at the Extreme - BBC


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As fotografias mostram pessoas que se retocaram tanto que ficou uma coisa do além. Quem quiser constatar como não há limites para a estupidez humana pode espreitar: Instagrammers Who Edited Their Pictures So Much, They Got Shamed For It Online

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Desejo-vos uma boa semana.

😜

3 comentários:

Corvo Negro disse...

Salvé UJM. A propósito da referência ao Nuno Rogeiro, nos tempos em que ele usava uma farta cabeleira e falava (e aparentemente sabia do que falava) de tudo e de todos, constava-se à boca pequena que ele era agente da CIA. Sustentava-se então essa tese com a pergunta "ai duvidas, então diz-me lá qual é a profissão dele, o que ele que ele faz na vida além de comentar nas TVs?". "Ont dit".

Anónimo disse...

Em relação ao que lhe parece que o Nuno Rogeiro comenta, e colocá-lo ao mesmo nível da Cleópatra da Malveira, sem mais comentários, feliz quinta feira.

Um Jeito Manso disse...

Olá Anónimo

Não coloco nada. O que há de comum é a minha perplexidade, num caso por um motivo, noutro caso por outro. Tenho este defeito: fico perplexa por motivos que nada têm a ver uns com os outros. Se agora passasse o Marques Mendes a voar aqui à minha frente também ficava perplexa. Ou se o Cavaco Silva aparecesse em público a ser simpático e bem educado também ficava perplexa. Ou se o Einstein ressuscitasse e aparecesse ai um da destes a deitar a língua de fora. Ou se esta quinta-feira chovessem euros. Ou se uma bando de sereias desse à costa. Não coloco nada disto no mesmo patamar. Apenas ficaria perplexa.

Será que me fiz entender?

Mas já agora: onde é que o Rogeiro descobre toda aquela informação...? Conte-me tudo. Conta?

Uma feliz quinta-feira também para si.