Dia de sol velado e calor discreto. Caminhámos e, como agora acontece ao fim de semana, encontrámos jovens casais a passear com crianças pequenas em triciclos ou famílias a andar de bicicleta. Hoje também nos cruzámos com quatro rapazes igualmente de bicicleta. Iam a conversar, sorridentes e, ao passarem por nós, desejaram-nos um sonoro bom-dia. Engraçado este hábito. Até os jovens adolescentes que vão entretidos a pedalar e a conversar nos desejam bom-dia. Retribuímos a boa disposição.
Depois de almoço fui sentar-me ao sol, no jardim. Levei um livro. Como o sol estava de frente não consegui ler. Fechei os olhos enquanto um pássaro enviava chamamentos do alto de uma árvore. Fui adormecendo. Depois arrefeci. Vim para dentro, tapei-me com uma daquelas mantinhas finas e aveludadas. Estive a fazer pesquisas, a ler.
As árvores de fruto na horta estão em flor. Há ali um microclima que não sei explicar. Parece que o ar é ali mais morno e húmido. Agrada-me muito.
O fim de tarde estava ameno, sabe bem estar cá fora. Mas começou a esfriar. Vim para dentro.
Quando falei com a minha filha e com a minha mãe já era praticamente de noite. Ainda tentei voltar para o jardim mas a lua estava exuberante a guardar o frio. Recuei.
Angustia-me um bocado isto de trabalhar até ser de noite, sem que sobre um bocadinho de dia para mim. Assim, com os dias maiores, talvez possa usufruir da luz do dia. Durante a semana tenho que aprender a usar a luz do dia em meu benefício.
É verdade: tenho andado a vigiar o ninho das andorinas e ainda não as vi. Será que não vêm? Ficarei com pena. Só espero que, se este ano não vierem, venham para o ano. Custar-me-ia saber que o ninho vai ficar ali, sem vida.
Será que faria sentido ter um porquinho da Índia à solta no jardim? Gostava de ter um animalzinho por aqui. Dizem-me que comem a relva, um descanso: nem é preciso cortá-la. Contaram-me que, às vezes, à noite se vêm ouriços cacheiros a atravessar a estrada. Quem me contou não falava daqui mas de outro lugar assim, em que há campo em volta. Uma pessoa conhecida, contou-me que o filho apanhou um e o levou para o jardim. Penso que os jardins são mais felizes se forem habitados por animais. Ocorre-me sempre aquela ideia de ter patos. Mas será que teria que ter um lago? Ou será que os patos não voariam? Mas depois penso que certamente um dia terei um cão. Será que o cão depois não dará cabo dos ouriços ou dos patos?
Também li que o Zoom está a preparar (ou já o tem disponível, não me lembro) um filtro para adoçar as feições quando estamos em videoconferência. Li que milagrosamente tira rugas, papos, olheiras, manchas. Li que as mulheres que têm muitas reuniões por esta via estão a passar-se de tanto verem as suas imperfeições no ecrã. Só espero que o Teams também apareça com isso. O pior é quando voltarmos a estar ao vivo e sem máscara (seja lá quando isso for), sem apelo nem agravo todas as misérias bem à vista. Sou adepta de não disfarçar nada para evitar decepções futuras. Mas digo isto e, na volta, se me aparecer o filtro mágico, não vou resistir. Não se pode dizer que não seja de me deixar sucumbir perante tentações convincentes.
E é isto. Nada mais a contar. Só me causa espécie que agora ninguém acuse o Costa ou a Marta Temido por sermos o país com os mais baixos números de Covid da UE. Tanto que se babaram todos a acusá-lo de sermos os piores, tanto foguetório atiraram para festejar a crucificação pública de que o Governo foi alvo e agora que vários países estão a braços com a desgraça que começou por bater-nos à porta antes de lá chegar ninguém se lembra de o elogiar e agradecer? Gentinha...
Mas contar, contar, que me lembre não tenho mais nada. A vida corre mansa. O tempo, pelo contrário, corre veloz. E eu estou parada a tentar perceber como melhor me encaixar neste filme.
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As pinturas de Julian Onderdonk vêm ao som de Surrender na interpretação de Birdy
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E agora vou partilhar dois vídeos que prenderam a minha atenção: um muito bonito, um belíssimo pas de deux, e o outro com uma condessa simpatiquíssima e divertidamente depravada (como provavelmente são todas as condessas).
Second Piano Concerto (Shostakovich) – Second movement pas de deux
(Marianela Nuñez, Rupert Pennefather, The Royal Ballet)
A summer spent poolside with a retired countess
Victoria Hely-Hutchinson takes us around her eccentric “bohemian expat retiree” grandparents retreat in the South of France. Known for documenting British lives for publications including New York Magazine and Vanity Fair, Hely-Hutchinson’s short is a relaxingly slow-paced portrait of the “respite for relatives in search of a tan”.
2 comentários:
Riqueza,
Ontem esteve um tempo meio farrusco por aqui, mas hoje aqueceu bem, com aquele "smog" a tapar o Sol, que tem um certo charme.
Ai, UJM, eu sou daquelas pessoas que indubitavelmente vão envelhecer sem complexos, mas cabelos brancos "jamé", quando me começarem a aparecer em força, vai tinta com eles. Para já devem-se contar pelos dedos, ao contrário do meu pai que segundo a minha mãe com a minha idade, que foi quando eles se conheceram, já mandava bastantes e pelos 40s, ele que tinha o cabelo alourado, escureceu muito.
Ainda bem que mudou a hora, eu espero que aquela ideia peregrina de acabar com a mudança de hora fique mesmo em águas de bacalhau, até porque foi sobretudo por conta da Alemanha e dos nórdicos.
Eu também tenho um ninho de andorinha na garagem, também espero que volte a gerar vida!
E num jardim tem que haver bicharada, pois claro, fala aqui a experiência, quanto às espécies há que ter atenção, mas se o cão for habituado de pequeno, possivelmente não fará mal aos outros bichos.
Ui quanto ao sucesso no combate à COVID, quer me parecer que ainda aí muita gente de roupa interior preta, porque mais uma vez com todas as normais falhas meteu-se rédea na coisa.
São Martinho está cheia de ti@s e respetiva descendência e estão muito ecológicos, pois já se locomovem em carrinhas de 9 lugares.
Um bela e radiosa semana.
Que é feito do gato?
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