O mundo assiste, perplexo, à palhaçada com que Trump continua a brindar os americanos e o mundo em geral. Com a pandemia a explodir em novos records todos os dias, Trump, que dizia que despediria Fauci, agora entretém-se a anunciar a vacina e como fará a distribuição. O grande contagiador, essa infame criatura a quem Anderson chamou tartaruga obesa, fala como se ainda não tivesse percebido que perdeu as eleições, como se não soubesse que os outros países já o isolaram, felicitando Biden como o presidente democraticamente eleito, como se a comunicação social não estivesse de olhos postos no que virá a ser a nova Administração e não na sua desorquestrada côrte constituída por filhos, advogados caquéticos e louras burras.
Que país é este? Que democracia é esta que alberga tais palhaços como se fossem dignos de governar em liberdade?
Sou ferozmente contra todas as formas de autoritarismo mas não posso dizer que esteja contente com a deriva fofinha por onde navega a democracia. Não sou politóloga, socióloga ou filósofa para poder opinar sobre as coordenadas geográficas onde se deve colocar a linha vermelha. O que sei -- ou melhor, o que sinto -- é que a democracia não pode ser a casa da mãe Joana onde entra quem quer. Populistas, fascistas, racistas, xenófobos, narcisistas ou psicopatas não deveriam estar autorizados a ir a votos, a ocupar lugares de representação e, em geral, ocupar lugares de poder. São um atraso de vida e um verdadeiro perigo.
Os Estados Unidos que, talvez ingenuamente, nos habituámos a olhar como um lugar de democracia, são agora o palco onde todas as cegadas são possíveis: um maluco governou aquele gigante país durante quatro anos, só dizendo e fazendo parvoíces, prestando-se ao escárnio, incentivando o que de pior a natureza humana esconde. Agora que foi derrotado porta-se como uma menina birrenta, um maluco desatinado, um ditadorzinho de caca, um palhaço que ainda não percebeu que está na hora de levantar a tenda. Uma vergonha.
Até há algum tempo não dei conta de que fosse costume usar-se a expressão 'vergonha alheia'. Agora é banal. E eu, que me aborreço com banalidades, não posso agora deixar de usá-la: assistir ao comportamento de Trump faz-me sentir vergonha alheia.
Na distraída deambulação que por aí faço, dei com o mangas de alpaca, Rui Rio de seu nome, na pacóvia gozação com quem o critica, no Twitter, pois claro, sendo glosado de perto (ou melhor: gozado implacavelmente) pelo alarvezeco de meia tigela que o ex-láparo, em tempos, promoveu a figura pública. Vejo isso e pasmo. Não quero perder tempo com figuras rasteiras de quem nunca nada de aproveitável alguma vez virá mas fico com pena: pessoas assim ainda merecem votos de confiança de alguém...? Como é tal possível...? Que desconsolo.
Felizmente, estando para aqui eu neste desânimo, fui dar com mais uma da rapaziada do Lincoln Project. Grande equipa. Mais um vídeo à maneira. É ver.
Um apelo aos Republicanos:
9 comentários:
Citando o Sinozinho Malta: "Não me digue nada!"
Um belo fim de semana.
"Populistas, fascistas, racistas, xenófobos, narcisistas ou psicopatas não deveriam estar autorizados a ir a votos, a ocupar lugares de representação e, em geral, ocupar lugares de poder"
Pois não deviam. Mas como e quem os peneira?
Há um livrinho óptimo para aliviar esse género de angústias através da demonstração de como, ao longo dos séculos, o gráfico de evolução de "bem" e "mal", progressismo e reacção, razão e superstição, é um invariável e cansativo sobe e desce, em dente de serra. https://lishbuna.blogspot.com/2015/01/blog-post_7.html
Não é uma desculpa para cruzar os braços. Mas ajuda a compreender que, se neste momento, estamos no plano inclinado descendente (e, justamente, esperneamos por causa disso!), algures lá para a frente, a inclinação do plano há-de inverter-se. E, depois, o contrário. E por aí fora...
Lembra-se de Novembro de 2008? https://lishbuna.blogspot.com/2008/11/v-l-p-agora-no-faas-muita-merda.html
A mim preocupa-me a quantidade de votos de Donald Trump, mesmo com as suas frases e loucuras. Ou seja, é uma espécie de "fantasma" que continua a cativar.
Olá Francisco,
Espero que o sábado, apesar de chuvoso tenha sido bom.
No outro dia não consegui responder-lhe quando falou na morte da sua Tia. Daqui lhe envio hoje os meus sentimentos. Que tenha partido em paz é o que sempre desejamos em relação àqueles a quem queremos bem, que não sofram, que partam em paz, e se foi assim que se pensa que ela partiu então é um sentimento também de apaziguamento para quem fica.
Um abraço, Francisco.
E a vida continua e que, no meio desta tormenta, encontremos motivos para irmos sorrindo e encontrando momentos de aconchego.
Um bom domingo.
Olá João,
Bem sei, bem sei... É verdade que há caminhos que não devem ser percorridos pois a ideia de que há uns, ungidos por uma isenta superioridade moral, que podem julgar os outros é perigosa demais para ser tentada.
Mas com tanta coisa que se descobre, tanto avanço científico, não haverá maneira de peneirar a maldade e deixá-la longe da tentação dos pobres de espírito que, justamente, gostam de os seguir? É uma pergunta retórica e, se um dia aparecer tal mecanismo, não será nos meus dias e, se calhar, ainda bem.
E também bem sei que isto é mesmo assim, um carrossel de desgraça. Queda e recomeço, esperança, satisfação, e, à mínima, ao mais pequeno abanão, logo sobrevém o esquecimento e a quebra de reconhecimento, caindo-se, de novo, no fosso em que os miseráveis gostam de recolher apoios para todos chafurdarem durante uns tempos. Até que, fartos, se inicia o caminho da utopia e up again. Bem sei.
Mas falta-me a sabedoria e o espírito devidamente zenificado para assistir aos momentos maus com compreensão e paciência, esperando que, mais tarde, se retirem os pés da lama.
Mas, pronto, agora estamos num dos momentos em que acreditamos que nova viragem se irá dar, agora no bom sentido, que os populistas, cabotinos e estupores sintam que o tapete lhes está a ser retirado, que entremos numa era de respeito pelo conhecimento, pela dignidade, pelo ambiente.
Esperança. Eu, pelo menos, sinto esperança. Não sendo pessoa dada a arroubos de fé sou, contudo, uma pessoa que se deixa animar pela esperança.
Obrigada pelo seu comentário, João, e pelas oportunas referências.
E um bom domingo.
Olá Último a fechar a porta,
Sim, também me causa apreensão. Ainda há muita gente que, apesar de tudo a que se lhe assistiu, continua a acreditar e admirar Trump. Gente tão ou mais bronca que ele. Quando vejo aquelas manifestações, gente com ar de troglodita, daquele tipo de gente que anda armada até aos dentes ou evangélicos com os neurónios fritos, fico estupefacta: tantos milhões de gente parva, mentecapta, perigosa...? Não é bom.
Mas pode ser que sejam burros de todo e sigam qualquer um que se lhes apresente à frente. E que, apeado o Trump, passem, em parte a delirar com Biden. Pelo menos alguns. Porque a perspectiva de haver setenta milhões de broncos à solta é daqueles pesadelos em que é bom não estar dentro.
Um bom domingo, Último.
Olá UJM,
foi recentemente publicado um artigo (https://science.sciencemag.org/content/370/6516/533) na revista científica Science (revista de topo onde são publicados os breakthroughs de várias áreas, desde a Biomedicina, à descoberta de galáxias, dinossáurios, novos estados da matéria, etc) em que são integrados resultados de disciplinas diversas com vista à análise do ambiente político partidário nos EUA. Os autores concluem que os votantes no partido Republicano e no partido Democrático tornaram-se:
“...POLITICALLY SECTARIAN -- fervently committed to a political identity characterized by three properties: (1) othering (opposing partisans are alien to us), (2) aversion (they are dislikable & untrustworthy), and (3) moralization (they are iniquitous).”
Dizem ainda que nenhuma destas propriedades isoladas é particularmente problemática. Mas, combinadas são especialmente tóxicas; instilam um sentimento de apreensão - um sentimento de que a derrota política é uma ameaça existencial que deve ser contornada a qualquer preço.
O senso comum diz-nos que estas conclusões podem ser aplicadas a outras situações mas para generalizar é preciso ter evidências. Estas são para os partidos nos EUA.
É o nosso cérebro reptiliano em background que se não leva em cima uma camada de cortex, de conhecimento, de cultura ... emerge no esplendor que estamos a ver nos EUA.
João
Olá João,
Mas é mesmo isso: sectarismo, tribalismo, fundamentalismo. Alarveirice, em suma. E se a isso, como diz, se juntar a ignorância, está tudo estragado. E se a isso juntarmos ainda aquela falsa religiosidade que de religioso não tem nada com que eles se 'inspiram', aquele sentimento de seita, um moralismo deformado e irracional, então temos aqueles espectáculos cavernículas, trogloditas, a que temos assistido. Um esplendor do avesso, às escuras.
Numa entrevista recente, Barack Obama disse que tudo o que está a passar-se é muito mau para a democracia pois o país está dividido ao meio e cada parte assenta as suas convicções em realidades diferentes. E é. Quando há antagonismo entre duas facções e uma privilegia a ciência e a razão e a outra não está nem aí, como encontrar um chão comum em cima do qual construir alguma coisa? Impossível, não é? Gera-se o tal ambiente tóxico que coloca em perigo a existência, pelo menos a existência digna e feliz que desejamos.
E não é só lá nem só na política, tem razão, João. Evidências...? É só começar a elencar. Não faltam.
Mas talvez seja aquilo a que o outro João L. (o João Lisboa) disse no outro dia: Umas vezes a história prega partidas e a coisa derrapa e afunda-se e, a seguir, começa a subir e volta a haver esperança.
E, já agora, gracias pelo comentário: aprendo sempre.
E uma boa semana! Boas pedaladas, boas fotos naqueles lugares tão lindos e misteriosos. A quem tem uma super bike e uma Serra por perto não há covid ou confinamento que assuste, certo?
Muito obrigado, Riqueza!
O fim de semana foi bom, até o tempo nem tem estado nada fio, já vi que o seu heaven também está maravilhoso.
Um bom serão e uma 3.ª radiosa.
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