quarta-feira, maio 06, 2020

Este meu Dia da Mãe -- e todos os dias de todas as mães





Não sou de ligar ao dia de, em especial quando sinto que se mercantiliza uma coisa que não tem preço. 

Apesar disso, este ano, no dia da mãe, recebi um boiãozinho de vidro pintado, com terra e uma florzinha pequenina lá dentro. Foi obra da minha filha. Gostei e fiquei sensibilizada. Levou também um para a minha mãe. Muito bonitos, uma ternura.

Vou guardando tudo. Ontem estava a fazer uma limpeza e dei com um vasinho pintado, coisa do meu filho, teria uns cinco anos, e também um bonequinho de madeira com cabelo de lã, já nem sei de qual deles. Por todo o lado me aparecem pecinhas assim. Fico sempre com o coração a sorrir. Quando eram pequeninos, pelos meus anos ou pelo natal, eu sempre dizia que gostava era de receber coisas feitas por eles, fosse o que fosse, mesmo que um papelinho com um desenho, com uma dedicatória. É o que fica. Pelo menos para mim é. 


Em contrapartida, nunca fui de oferecer coisas à minha mãe no dia da mãe. Sempre achei que, se o fizesse, estaria a trair o que penso, que dia da mãe é sempre, todos os dias, sem folgas ou feriados, sempre, dia e noite. Por mil anos que passem, os nossos filhos serão sempre os nossos filhos queridos e a nossa mãe será sempre a nossa querida mãe -- todos os dias de todos os anos. Mas, quando me lembro disso, costumo dizer-lhe, mais por graça, mais para fazer de conta que estou a fazer o favor à convenção, mais para parecer que, por uma vez, sou capaz de me alinhar: feliz dia da mãe. Mas desta vez não disse. Feliz não seria palavra que pudesse condizer com aquele dia.

O meu filho também não me desejou feliz dia da mãe. Sabia que não ia ser um dia feliz.


Mas o dia teve momentos bons. Não vou dizer que não. Teve sim. Estive com a minha mãe. Estive com os meus filhos. Acabei o dia em casa do meu filho, nós numa ponta da mesa, da mesa grande do jardim, eles e os meninos na outra ponta. Tudo muito estranho. O mais pequeno intrigado. Sabe do corona mas não percebe bem que a sua Tá, que sempre o agarra e abraça e enche de beijos, agora se ponha de longe. Fica a olhar de lado, desconfiado, quase sentido. No fim, fez adeus de uma forma carinhosa, uma maturidade naquele sorriso inocente que me enterneceu. Os mais crescidinhos compreendem. Contaram coisas, perguntaram coisas, mostraram coisas. Muito bom, estar com todos eles. Que vontade de os agarrar. A toda a hora a pensar: mas faz isto sentido? será que é mesmo necessário? que mal poderia haver se eu os abraçasse e beijasse? Mas, pronto, tudo isto é estranho e uma pessoa vai interiorizando a estranheza. 


Hoje o dia também esteve assim, cinzento, abafado e triste. Mas, ao fim do dia, quando consegui ir dar um passeio por entre as árvores, ao som de um coro de pássaros felizes, quase já estava a dá-lo por perdido, eis que o céu se abriu e, em fez de se pôr, o sol nasceu. E, de súbito, sobreveio aquela poalha dourada que pousou sobre as árvores, sobre o alecrim, sobre o rosmaninho e sobre a madressilva, aquela luz mansa que adoça o olhar e a alma. E eu, que ainda tinha limpezas para fazer, fui-me a elas com mais gosto e energia.

Estive a trabalhar até há pouco. Depois da jornada do costume, que acabou tarde, vieram as limpezas e, a seguir à janta, que foi o resto do almoço, engrenei no turno da noite. Agora aqui estou, já liberta, e, como habitualmente, fui espreitar os ilustres da galeria lateral. E fui da ternura à saudade, da surpresa ao agrado, da admiração ao riso, da aprendizagem à estranheza. Até que cheguei a um que me derrubou tal a força do abraço que continha. Every Day is Mothers’ Day. Uma maravilha, um aconchego. Provêm de lá estas fotografias -- que são todas do autor do blog, Steve McCurry, excepto a última que é de Dorothea Lange -- tal como de lá vêm também as citações que mais abaixo podem ser lidas bem como a Reverie de Scott Buckley.


Motherhood: All love begins and ends there.
    – Robert Browning

It may be possible to gild pure gold, but who can make his mother more beautiful?
    – Mahatma Gandhi

All that I am, or ever hope to be, I owe to my angel mother.
    – Abraham Lincoln

Mother is the name for God in the lips and hearts of little children. 
    – William Makepeace Thackeray

Mother: the most beautiful word on the lips of mankind.
    —Kahlil Gibran

A mother’s love for her child is like nothing else in the world. It knows no law…
   – Agatha Christie


Todas as mães têm uma força imensa, uma força que move o mundo