segunda-feira, outubro 20, 2025

85...? Ou 58?

 

Comecei este blog há 15 anos. Talvez haja leitores actuais que me acompanhem desde então. Ou, se não do início, pelo menos há uns quantos anos. Talvez já me conheçam razoavelmente.

Quando penso nas diferenças entre o que sou hoje e o que era há 15 anos o que me ocorre são os saltos altos. Pode parecer a maior das futilidades -- e, não garanto que não seja -- mas é o que me ocorre. Todos os dias da semana de saltos bem altos. Atrás dos saltos vinha tudo o resto. Ainda este domingo a minha filha esteve a vestir algumas dessas peças de roupa e, em relação a algumas, espantava-se: 'Cabias aqui dentro?'. Cabia. E quando se cabe facilmente em peças de roupa de que se gosta, tudo o resto parece que fica mais fácil. E brincos. Não saía de casa sem brincos. E tudo condizia: dos sapatos, ao vestuário, da lingerie aos adereços, da maquilhagem ao perfume. Todos os dias me ocorria um conjunto total. Nunca repetia nada. Saía de casa a sentir-me uma mulher nova -- todos os dias. Tinha uma energia que a mim própria me custa a compreender. De manhã à noite eu estava sempre no máximo. Sem comprimidos (que nunca tomei) e com uns dois ou três cafés por dia, se tanto. Era uma coisa minha. E chegava a casa e depois da janta e da lida da casa, ia pela noite adentro a pintar, a escrever, a fazer o que me desse na veneta. Dormia pouco e era como se a falta de sono não me afectasse. 

Agora estou bem diferente. Geralmente uso ténis (aka sapatilhas) e farto-me de caminhar. E, afinal, os meus pés não me agradeceram. Como tenho pé de bailarina, com o arco pronunciadíssimo, de sapatos altos é que estava bem. Agora uso umas palmilhas personalizadas e parece que a coisa resulta. Mas uso também vestuário mais prático, pouco uso brincos, anéis, colares. Nunca mais usei relógio nem aliança. Uso frequentemente cabelo apanhado (e dantes usava-o quase sempre solto). E já não tenho a mesma energia que parecia inesgotável.

Atribuo ao covid pois foi depois de ter covid que passei a ter mais sono e a precisar de descansar por mais tempo- Mas também pode ser a idade. 

No entanto, não me sinto idosa. Hoje a minha neta, que está a estudar a demografia em geografia, que a partir dos 65 se é idoso. Sou, portanto, idosa. Mas não me sinto. Não consigo ter aquela mentalidade de velha nem tenho paciência para conversas de velhos. Pelo contrário gosto é de conversar ou com gente mais nova ou, se da minha idade, com os mais irreverentes, os que se conservam com aquela doideira saudável que sempre lhes conheci. Se encontro um grupo da minha idade, como quem não quer a coisa afasto-me dos chatos, dos saudosistas, dos que falam do 'tempo deles', dos que dizem mal de tudo, e vou para o pé de quem se ri, de quem se diverte com as pequenas coisas.

Claro que já estou naquela idade em que tenho que aceitar que o corpo pode começar a vacilar. Ainda há tempos apanhámos um susto com um que, como um outro amigo, médico, disse, 'esteve do outro lado'. Fico sempre abalada: pessoa activa, conhecedora dos quês e porquês do corpo quando envelhece, aliás especialista nessa área, supostamente saudável, e, de um momento para o outro, vai-se, ultrapassa a fronteira. Felizmente, foi ressuscitado, regressou. Mas não ficou o mesmo, teve que fazer recuperação. A vida pregou-lhe uma rasteira e oh que rasteira.

Claro que fico um pouco perturbada com isto. 

A semana passada uma pessoa que me é próxima contou-me que o pai, agora, ultimamente, de vez em quando, tem umas coisas, uns esquecimentos, umas baralhações. Também fiquei incomodada. É certo que o pai já tem noventa e que, nos últimos meses, passou por uma cirurgia e por uma perda mas estava tão bem há tão pouco tempo. Enquanto ouvia a descrição desses momentos pensei: 'Se calhar também não é mau que a pessoa, quando perde o familiar querido com quem viveu a vida inteira, quando deixa de ser capaz de ficar autonomamente na sua casa, quando perde a vitalidade, perca também a noção das coisas, se calhar sofre menos, se calhar avança mais despreocupadamente para o desenlace final'.

Apareceu-me aqui no youtibe este vídeo que aqui partilho em que uma bela mulher de 85 anos fala da sua vida. Muito bem arranjada, bonita, sempre com um sorriso. Está divorciada há dois anos e ainda está a procura de ter outro amor. Diz que não se sente com 85. Talvez 58 anos. Ouvindo-a a falar, dir-se-ia que sim, mentalidade de 58. 

Se o corpo aguenta, ou melhor, se vai aguentando, é bom que a curiosidade se mantenha, que a capacidade de encantamento se mantenha. Para mim esses são os verdadeiros segredos para uma vida feliz: gostar de aprender, ter vontade de descobrir o que não se sabe, gostar do que se tem, gostar de tudo, da família, das flores, dos passarinhos, de estar aqui a escrever, de cozinhar, de ver o pessoal todo a gostar do que levo para a mesa, gostar de ver como gostam uns dos outros, gostar de os ver, de os ouvir, gostar de ler, gostar de passear, gostar de ver o mar, de ver o céu, de varrer, de regar, de conversar, de namorar, de ver um homem bonito (ou uma mulher -- conforme os gostos) ou, se não for bonito, de observar um homem interessante (ou mulher, lá está), de brincar e fazer festinhas ao cão, de ir à janela ver a chuvinha boa. E por aí fora, infinitas coisas boas que me fazem feliz. Infinitas. Poderia estar aqui a noite inteira a enumerá-las.

Perguntar a uma mulher de 85 anos sobre os seus maiores arrependimentos na vida

Perguntei a uma senhora de 85 anos sobre os seus maiores arrependimentos na vida. Beatrix Ost é uma escritora e estilista de renome mundial. Imigrou da Alemanha para os EUA após a Segunda Guerra Mundial, e a sua viagem de mais de 60 anos levou-a a aprender algumas lições de vida incrivelmente instigantes. Acho que vai tirar muito proveito desta história.

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Post scriptum

Avançar com o nome de António José Seguro, assim como quem não quer a coisa, a titulo de exemplo, foi uma das várias argoladas de Pedro Nuno Santos. Falava e depois é que pensava. Provavelmente nem lhe ocorreu que ao Tozé aquilo ia soar a convite. Mas ocorreu. E, claro, criou um problemão a muita gente.

À data de hoje, não há nenhum candidato que me faça cair para o seu lado, sem dúvidas. A política está uma tal xaropada que parece que só atrai pessoal das segundas ou terceiras ou quartas linhas. No meio do que se oferece, talvez esteja mais ou menos inclinada para um deles, mas ainda com tantas dúvidas que nem me atrevo a pronunciar-me mais que isto.

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Desejo-vos uma boa semana a começar já esta segunda-feira

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