Os dias têm sido preenchidos, animados, atarefados, uma festa, uma alegria. No fim do dia, quando uns se foram e outros recolhem aos aposentos, encontramos meias espalhadas pela casa, os quadros da parede por cima deste sofá tortos, o tapete da sala todo enrolado, o comando da televisão levou sumiço, há copos vazios um pouco por todo o lado.
Há bocado, ao contar mais um episódio da história da Margaret ('um clássico'), o mano do meio dava cambalhotas para a frente e para trás como se estivesse fresco, acabado de acordar. O mais pequeno intervinha na história como se fosse um personagem. Aliás, os três interromperam-me mil vezes para esclarecer aspectos ou para acrescentar pormenores. Eu a querer que se calassem a ver se lhes dava o sono e eles só a falarem. Sento-me na cama do mais novo. Os dois rapazes dormem no mesmo quarto. Ela vem do seu quarto para se sentar nas almofadas do chão. E o do meio, fica na cama dele às cambalhotas. Para ver se o mais pequeno se cala, faço-lhe festas na cabeça. Às tantas, quando estava a falar do Kikas, o cão traquinas, grita-me ele: 'Eih! Não sou nenhum cão!!!'. E eu, admirada: 'Claro que não. Porque é que dizes isso?'. E ele: 'Estavas a fazer-me festas como se eu fosse um cão!' E eu: 'Que ideia, não estava nada'. E ele: 'Estavas, estavas'. Entretanto, no meio das cambalhotas, o do meio soltou um grande arroto. E logo de seguida: 'Desculpa, avó, sei que isto não se faz. Foi só para sentir o sabor da comida do jantar'. Isto às escuras, eu a inventar a história da Margaret na festa do Avante, já depois de ter inventado a Margaret no cinema. Hesito entre zangar-me, conter a vontade de me rir, desesperar por não lhes dar o sono. A irmã, perante estes desmandos, limita-se a dizer com voz de desdém: 'Porco'.
De manhã tinham estado a brincar às empresas e, de tarde, com os primos, a brincadeira retomou. Pasmo com o que dizem, com a agilidade e oportunidade dos seus raciocínios. E zangam-se e discutem perante situações que forjam mas que, depois, discutem como se fossem reais. Uma das vezes que fui lá, estava o mais crescido em acesa discussão com o irmão porque este tinha vendido 200.000 máscaras sem as ter. E dizia que tinha que se ver como se resolvia isso, se era anulando a venda e compensando as pessoas, porque não queria danos na imagem da empresa ou redução do seu share value. Não garanto que tenha sido share value que ele disse mas que falou em share, falou. O irmão discutia, não aceitava, queria vender na mesma. Sugeri que renegociassem, que faseassem as entregas. Entusiasmados, aceitaram a sugestão. Passado um bocado já estavam outra vez desencontrados. A fábrica das máscaras tinha fechado e o mais novo queria contratar os trabalhadores da fábrica e pô-los a fazer as máscaras. O mais velho dizia que uma empresa que vende máscaras, como uma farmácia, não é a mesma empresa que produz os artigos que vende.
E, em catadupa, iam surgindo questões concretas, que poderiam ser reais.
De manhã, no meio da conversa, ela dizia: 'Esperem lá. Que barulho foi este?!'. Tão realista foi que caí. 'Que barulho? Não ouvi nada?'. Ela fez-me um gesto que não levasse a sério, que fazia parte da encenação'. Foi espreitar e informou: 'Foi um carro que se despistou e veio bater no prédio'. Nesta altura o avô apareceu e logo o do meio correu para o agarrar, que tinha que chamar a polícia. Perguntei: 'Mas então o que é isso agora?'. E logo ele: 'Está bêbedo, andava aí de carro a bater nos prédios, é caso de polícia, vai ter que prestar serviço comunitário'. O avô perplexo sem perceber o que estava a acontecer.
Por vezes tenho vontade de andar de roda deles a fazer filmes com as suas brincadeiras e conversas. Mas geralmente tenho o jantar ou outra coisa para fazer e não consigo andar apenas entregue ao lúdico do momento.
Ao jantar, conversavam sobre quem tinha nascido primeiro, uns ainda se lembravam do dia do nascimento de outros. E falavam das primeiras palavras que tinham dito. Estavam os cinco sentados na mesa redonda. Não precisam de qualquer apoio. A gente serve-os e eles limpam os pratos. Alguns repetem, outros perguntam o que há a seguir. E, pelo meio, conversam em contínuo. E as conversas deveriam mesmo ser gravadas. A graça que é ter o mais crescido, o que fez agora treze anos e que já está a ficar com a voz grossa, a conversar e a explicar tudo ao que fez quatro. Talvez seja porque todos lhe explicam tudo que o mais novo sabe as coisas mais incríveis. Hoje, na brincadeira, fazia de conta que recebia uma chamada. Depois anunciava: 'Boas e más'. O irmão disse-lhe: 'Mas tens que dizer quais são as boas e quais as más'. E ele, acto contínuo: 'As más é que o prédio tem que ser demolido com as pessoas lá dentro. As boas é que sobrevivemos durante um dia'. Provavelmente isto na sequência da irmã ter anunciado que um carro se tinha despistado de encontro ao prédio. E a brincadeira continuou. E eu fico estupefacta, incrédula.
Depois de jantar, aqui na sala, enquanto os rapazes jogavam um jogo na play station e o mais novo tirava fotografias e fazia avarias, ela pintava as unhas à tia e a mim, pedia-me massagens, pedia-me penteados. E a tia via fotografias de quando eu e o pai nos casámos, fotografias de quando ela era pequena, fotografias das festinhas de anos, dela ou do irmão, a família reunida, tios e primos, amigos, a casa cheia. E os meus pais, os meus sogros, os meus tios, os meus avós. Eu com vinte e poucos anos, quase uma outra. E, no entanto, memórias tão próximas. Olho as fotografias e tenho presentes as situações. Chego a sentir na pele o tecido dos vestidos que, naquele momento, usava.
E pronto, estou com sono e daqui a nada os passarinhos levantam-se, começa o chilreio. A ver se amanhã ou depois respondo aos comentários. Hoje já não dá.
Em tempos normais teria comentado a entrevista e os destaques que toda a comunicação social dá à entrevista na qual a homossexualidade do Rangel, há muito conhecida, foi por ele publicamente assumida Mas agora não tenho vontade de dizer nada. O Marcelo anda impaciente com a totozice do Rio e os outros do PSD também. Têm que arranjar alguém. E não estão a conseguir. A laranja secou. Sobra o Rangel mas tinha que ser reciclado. Aqueles vídeos, aquelas coisas que se diziam. Portanto, com o Balsemão a ver se fabrica um sucessor, com a ajuda do Marcelo a ver se cria um facto político com a possível saída do Costa, a SIC começa a preparar o caminho ao Rangel. Pode ser que pegue. Nada como pôr o Daniel Oliveira a perguntar o que dizem os seus olhos a ver se deles brota a célebre lagriminha para a malta começar a aderir.
Mas eu, quanto a tudo isto, não tenho nada a dizer. Não é a minha praia, como sói dizer-se.
Portanto, com vossa licença, fico-me mesmo por aqui.
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Pinturas de Wassily Kandinsky enquanto Roo Panes interpreta There's A Place
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Desejo-vos um belo dia de domingo
3 comentários:
Para além do colinho dos ditos cujos este gay Rangel demonstra uma total hipocrisia, pois aproveita o direito a uma liberdade para a qual nada contribuiu e, se calhar, bem pelo contrário dadas as posições da família politica onde se acolhe nas questões da homossexualidade. É um DEMAGOGO!!
Afinal, o "piqueno" atraca de popa ?
Lembram-se quando esta gentinha trouxe para campanha eleitoral a alegada homosexualidade de José Sócrates?!!...
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