sexta-feira, março 19, 2021

Divórcio: porque são as mulheres que rompem.
[E, a despropósito, a receita da minha sopa de bacalhau]

 


Esta quinta-feira a coisa foi um bocado dura. Telefonemas em cima de telefonemas, crises, dramas. Depois a coisa foi-se compondo. Tenho para mim que grande parte dos dramas resultam de se ter assuntos a cargo de gente pouco inteligente e que, para piorar, gente que não tem consciência das suas limitações, empolando cada pequena dificuldade. Incapazes de arranjar soluções para os problemas, gente pouco dotada o que sabe fazer é sacudir a água do capote, fazer-se de vítima, aparecer a apregoar resoluções bombásticas que não passam de pura parvoíce. E a gente ouve todo quele foguetório sem sequer perceber de que é que estão a falar e a única coisa que conclui é que, vindo de quem vem, a coisa não deve ser tão dramática quanto apregoam e que o melhor a fazer é bem capaz de ser tirar o assunto das mãos de quem não revela a mínima capacidade para resolver problemas. E assim foi e, poucas horas depois, com a coisa já noutras mãos, nas mãos de quem percebe do assunto, logo tudo começou a compor-se.

Mas aconteceu de tudo, a nível profissional e pessoal. Por volta das seis e picos a coisa acalmou. Ainda fiz mais um telefonema de trabalho mas as forças negativas do universo afinal pareciam estar a aquietar-se. 

Fui, então, fazer o jantar. Fiz sopa de bacalhau. Fiz assim:

Numa panela coloquei água, duas cebolas grandes, duas cenouras grandes, duas batatas normais, uma batata doce das que são cor-de-laranja (são as que prefiro), uma maçã royal gala, um alho francês, salsa. Juntei também cinco ovos com casca. Não coloquei sal. Pus a cozer.

Enquanto isso, num tacho pequeno coloquei um pouco de água, uma cebola (esta tal como todos os legumes, sempre devidamente lavados, descascados, partidos) e umas postas de bacalhau, uma das quais muito alta. Por recear que a água ficasse salgada, não juntei sal.

Quando a água do tacho de bacalhau ferveu, baixei o lume e cozinhou poucos minutos. Retirei o bacalhau para um prato. Passei a cebola para a panela da sopa, para que acabasse de cozinhar. 

Quando os legumes ficaram cozidos, desliguei.

Retirei os ovos para uma tigela de água fria, para serem mais fáceis de descascar. Descasquei-os. 

Juntei um ovo à sopa. Juntei azeite. Com a varinha mágica triturei bem, até ficar bem cremoso.

À água de cozer o bacalhau juntei cotovelinhos pequeninos e deixei que cozessem.

Entretanto, tirei as espinhas ao bacalhau e parti-o em bocados. Não é desfiar: é apenas cortar aos pequenos para que se sintam. Juntei à sopa.

Abri um frasco de grão-de-bico cozido e com um garfo retirei grãos para aí de meio frasco para a sopa. Quando as massinhas estavam cozidas (não muitas), juntei tudo à sopa, incluindo o caldo que transportava o sal do bacalhau -- e envolvi tudo bem. Provei: não precisava de sal.

Miguei os outros quatro ovos para uma tacinha. Levei também mozzarella ralada para a mesa. Como já era muito de noite já não fui apanhar hortelã. Devia ter-me lembrado mais cedo.

Em cada prato, sobre a sopa, colocámos ovos aos bocadinhos e o queijo.


Gostaram bastante. Um dos meninos e o meu marido ainda juntaram pão torrado. Gostam de sopas de tipo enfarta-brutos. O menino, então, tinha o prato atascado de pão ensopado na sopa à qual juntou ovo e sobretudo montes de queijo. Dizia que nunca tinha comido nada tão bom. O irmão, depois da sopa, começou a fazer mini-sandes de ovo cozido, queijo e um fio de azeite. Depois da fruta, ainda comeram biscoitinhos de chocolate. É como se estivessem na engorda. Contudo, como correm e brincam que se fartam (depois das aulas, claro), não estão nem um bocadinho gordos.

Pode parecer que a receita é longa e, por isso, difícil. Nada. De caras. E não tem como sair mal. Saborosa e nutritiva. Claro que quem estiver de dieta é melhor não comer grandes pratadas, em especial à noite. Mas, mesmo para quem estiver a pão e água, uma vez não são vezes...

Depois, aqui chegada, dei uma volta pelas notícias: excepto uma, nada que me interessasse. 

Desta vez o que despertou a minha atenção foi que são as mulheres que pedem 75% dos divórcios. Não sei se a estatística é universal, se apenas em França já que o artigo faz parte do Madame le Figaro. É interessante. Antes, eram os homens. As mulheres, por, em grande parte, dependerem financeiramente dos maridos, sujeitavam-se a tudo. E havia o estigma social, a censura. Agora, apesar de, em média, as mulheres ganharem menos que os homens e, portando, ficarem mais frequentemente em situação mais precária do que os homens em iguais circunstâncias, as mulheres não querem saber. Vão em frente.

Uma mulher que vive em casal, quer viver bem em casal, quer ter qualidade emocional - leio; e concordo. 

«Quand une femme rompt, la décision est liée à sa maturité, à son illusion déçue de constater qu'il n'y a pas de “danse de couple”.» Autrement dit, pas, ou plus, de magie. [Quando uma mulher rompe, a decisão está ligada à sua maturidade, à decepção de não existir a ilusão de uma dança a dois. Ou seja, que já não há magia]

E se ao fim de pouco tempo, a percentagem de homens que já vive de novo em casal é maior do que a das mulheres, já que as mulheres parece quererem ponderar melhor ao envolverem-se de novo com outra pessoa, a verdade é que, quando isso acontece, depois de terem dado o tempo necessário para se readaptarem e para fazerem uma boa escolha, sem a pressa que os homens parecem demonstrar, as mulheres parece que renascem. Mostram-se livres, seguras, determinadas a enveredarem por uma nova vida. São outras, mais fortes.

O artigo é interessante e a quem se entender bem com o francês, aqui fica o link: Divorce : pourquoi ce sont les femmes qui rompent


E, por hoje, nada mais. Ainda estive a ver vídeos sobre japoneses que vivem para além dos 100 anos e é muito interessante... mas já não é para hoje. 

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As mulheres com máscara são obra de Volker Hermes e são bem acompanhadas pelos The Paper Kites que interpretam Dearest 

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E uma bela sexta-feira!

2 comentários:

Maria Dolores Garrido disse...

Bela sexta-feira também para si. Já agora, um pedido: que fale dos japoneses centenários, porque muitos de nós não temos a revista. Quando puder, é claro, mas continue a falar das outras coisas, incluindo árvores, heaven e andorinhas. Hei de experimentar a sopa. Confio que seja fácil de fazer e saborosa.

Estevão disse...

Quanto à sopa, desconhecia esta versão melhorada do meu bacalhau com grão, mesmo quando longe da meia-desfeita. Também na sopa, segundo entendi, o azeite não ferve, o que é sempre saudável num extra-virgem igual ou inferior a 0,2 de acidez.