quarta-feira, março 24, 2021

As cartas estão de volta?
Quem me dera que sim... Gosto tanto de cartas

 


Ao fim do dia, tivemos que ir à cidade. Havia comida feita para o jantar. Contudo, o meu marido lembrou-se que os meninos adoram pizza e sugeriu que encomendássemos duas para, no regresso, as irmos buscar. São feitas em forno de lenha, óptimas. Pedimos duas das familiares, gigantes: uma à base de salmão, outra de frango. Mas não lhes dissemos nada. Chegámos e caladinhos. Foram tomar banho e nós nada. O mais novo já lavado, o mais velho ainda a banhos, e as pizzas a serem aquecidas no forno. E, então, deu-lhe o cheiro. Entrou na cozinha, viu o forno aceso, espreitou e... nem queria acreditar, ficou sem palavras. Quando assimilou que eram mesmo pizzas, saiu a correr, entrou na casa de banho e gritou: 'Pizzas!'. O irmão passou-se, não gosta de ser visto em pelota. O mais novo regressou dando pinotes, doido de alegria. Passado um bocado chegou o outro, para confirmar. Parecia que tinham ganho a lotaria.

E foi a alegria: comeram, comeram, comeram. Deliciados. E nós deliciados por vermos a alegria que a surpresa lhes causou. Não é preciso muito para uma criança se sentir feliz. Nem é preciso muito para nos sentirmos felizes: basta sentirmos que estamos a fazer as crianças felizes.

Continuo com muito trabalho pelo que não consigo estar com eles muito tempo. Mas o mais crescido também ainda está com aulas, também não tem muito tempo e o que tem é para estudar pois está com testes. Mas o tempo que estou com eles é uma bênção.

A nível pessoal vão surgindo situações que têm que ser equacionadas e decididas e isso, por vezes, cansa. Sinto, por vezes, que me apetecia que não houvesse nada a resolver, que a vida fosse mais simples. A nível profissional também é sempre a mesma agitação, a mesma canseira. Também me apetecia que, por vezes, não me pusessem problemas para resolver nem que não me caíssem em cima situações das quais não posso fugir. Mas a vida é assim mesmo. As coisas vêm ter connosco e não podemos virar as costas a tudo: algumas vezes temos mesmo que enfrentá-las de frente. Pior ainda quando nos desafiam com carácter de urgência. Eu a querer desviar a cabeça para temas mais interessantes ou para resolver assuntos pessoais e as coisas a aparecerem para ontem. No meio disto apareceu o mapa das férias. Todos temos que marcar as nossas férias. Sei lá quando posso ter férias. O meu marido também. Lá preenchemos aquilo. Mas as férias, agora, parecem coisa hipotética. Sabe-se lá como estão as coisas nessa altura, sabe-se lá que espécie de férias vamos poder ter. 

No meio disto, uma vez mais afastada de notícias, sem saber se o sol ainda é uma bolinha remota cheia de pisca-pisca amarelos e se a terra é um pequeno ponto azul perdido no universo, leio que as cartas estão de volta. Cartas em papel, quero eu dizer. E se eu gosto de cartas. Como gostaria de receber cartas. Claro que bom seria recebê-las em papel, folhas dobradas dentro de um envelope entregue pelo Carteiro. Mas já não vou tão longe: já me derreteria se a recebesse por mail. Cartas de desconhecidos, cartas de alguém que nos fala da sua vida e a quem nós depois respondemos, amizade límpida, transparente, confiança total. Não sei se isso é possível na net. Gostava que fosse. É tão bom a gente fazer o que gosta sem ter medo de ser enganada ou de se desiludir.

A quem tiver disponibilidade e se ajeite com a língua (metaforicamente falando, claro) recomendo a leitura: 

'A letter tells someone they still matter': the sudden, surprising return of the pen pal 

[In the pandemic, many have rediscovered the sheer pleasure of writing to strangers, with new schemes spreading hope and connection around the world (...)]

As fotografias provêm da selecção das melhores da Tokyo International Foto Awards e aparecem na companhia de James Taylor & Yo-Yo Ma que interpretam Here Comes the Sun

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E porque receio que achem que o post não mereceu a visita e me venham pedir de volta o dinheiro do bilhete, aqui vos deixo um vídeo que é uma graça. Melhor: um vídeo com um senhor que é uma graça. 70 anos. E se ele consegue fazer isto porque não haveriam vocês também de conseguir? Não me dizem?

70多岁大爷和美女组合跳鬼步舞,舞步动感灵活不输年轻人


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Um dia feliz

3 comentários:

Maria Dolores Garrido disse...

Bom dia! Não paguei bilhete e tive a sorte de gostar de muitas coisas do 'filme'. Da surpresa das pizzas. E do sabor. E da alegria. E do carinho. E da bênção que é poder estar algum tempo com as crianças. E da lembrança das cartas-cartas. Algumas eram até em 'papel perfumado', outras a contar a história dos dias, outras 'ridículas', outras chatas com letra difícil de ler, outras ternurentas que apetecia ler e reler...
E o vídeo é outra coisa boa. Não gosto de roubar nada a ninguém, mas vou 'roubá-lo' para o meu blogue. Digo a fonte, como deve ser, embora também se veja a fonte de muitas fontes que é o youtube.
Ah! E gostei muito também do quadro que mostra antes do vídeo. E pronto, como os afazeres são mais que muitos, obrigada e adeus que se faz tarde.

Manuel Pacheco disse...

https://coisasquepodemacontecer.blogspot.com/2012/09/os-tempos-mudaram.html

Paulo B disse...

As cartas até podem voltar, já não temos é correios (e até nas encomendas o serviço não é famoso...). Mas temos mais um banco!

Mas por falar em cartas e porque um destes dias anteriores foi dia da poesia, e ainda porque vem aí o dia do teatro: o Tiago Rodrigues vai fazer a sua lindíssima peça By Heart, online, nas redes sociais (https://www.tndm.pt/pt/atividades/dia-mundial-do-teatro-1534/ ).

Abraço!