domingo, outubro 07, 2018

Flores, cristais e obras de arte que dá pena comer





Há uns meses fui a uma nutricionista. Fez-me um interrogatório que me obrigou a fazer uma regressão, não até eu ser outra, numa outra encarnação, mas até à saúde de pais e avós ou até a problemas de saúde de que já não tinha registo na memória activa. Viu-me as orelhas, a língua, os olhos, as unhas. Pesou-me, mediu-me. Depois mostrou-me esquemas científicos para me explicar algumas conclusões e, no fim, prescreveu o regime. Aconselhou-me que caminhasse mais, que dormisse mais, que abolisse açúcares e grande parte dos hidratos de carbono, produtos lácteos, pão de trigo, vinho, e que, por outro lado, introduzisse ou reforçasse um conjunto de alimentos tais como beterraba, alface e rúcula. E, é verdade!, para meu desgosto, que não comesse tanta fruta. E etc.

Levei à risca durante um ou dois meses. Perdi seis quilos e reduzi, creio eu, uns dez centímetros no perímetro abdominal. Fiquei toda feliz. Blusas e calças justinhas de volta, toda eu me senti recompensada.

Mas, hélas, não nasci para ser obediente, bem comportada, sofredora. Não gosto de resistir às tentações. Portanto, aos poucos, fui voltando a um ou outro bocadinho de pão (descobri o de espelta e matcha que é uma delícia), ao queijo (e cada vez gosto mais de queijo), ao vinho (ainda hoje, um Burmester branco geladinho a acompanhar a caldeirada), risotto, pizza, fruta em larga escala, etc, etc... e, também, uma ou outra sobremesa.

Mas não abuso. Não sou do estilo de 'enfardar'. Mas petisco. Só que petisco aqui, petisco ali... e os quilos já devem estar todos de volta e os centímetros idem. Não me tenho pesado para não ficar frustrada. Todos os dias penso que, no dia em que me encher de motivação, ponho de novo o travão às quatro rodas e volto à figurinha mais a preceito. Mas esse dia ainda não chegou. Talvez quando os figos se acabarem.

A verdade é que também não sou do género de, ao pequeno almoço comer croissant a transbordar de gordura,  a meio da manhã um paltel de nata e a meio da tarde uma bola de berlim.  Doces só à sobremesa e, mesmo assim, não gosto de doces muito açucarados, nem gosto de muito de cremes gordos e doces como o chantilly ou o creme pasteleiro. Gosto de laranja com casca caramelizada por cima, gosto de gelatina com frutas por dentro, gosto de tarte de limão merengada, gosto de clafoutis de maçã, gosto de ananás caramelizado com raspinhas de lima, gosto de pão de ló de Alfazeirão, gosto de sopa fria de papaia. Coisas assim. 

E também me deixo impressionar pela arte ao serviço da doçaria. Já aqui o referi: até não há muito, não se viam em Portugal bolos 'artísticos'. Quando noutros países, eu ficava encantada a ver as montras de algumas pastelarias. Obras de arte.

Agora por cá já começa a ver-se e, sobretudo, começaram a aparecer pessoas que os fazem em casa vendendo a amigos e conhecidos. Do que percebo, o facebook é o grande veículo para este tipo de actividade.

Contudo, não tenho conhecimento de que tenhamos por cá artistas como os que aqui, no blog, já tenho referido. E hoje refiro outra pasteleira cuja arte na confecção de bolos é extraordinária. Leslie Vigil inspira-se, sobretudo, em flores. E o resultado é fantástico. Claro que dará pena comer aquelas flores tão bonitas e, lá está, nem sei se não serão de massapão muito doce ou de creme de manteiga, coisa de fazer engordar uma tonelada, mas, enfim, só de ver já a gente fica feliz. E ser feliz é coisa apetitosa. 

Bon appétit.


Este até parece um bouquet de noiva.

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E, justamente, porque estou numa de 'eu é mais bolos', permitam que vos convide a espreitar os fantásticos outfits que a FLOTUS usou na visita a solo onde deixou todos de cara à banda.

4 comentários:

Janita disse...

Olá, UJM.

Se todas essa maravilhas são doçuras para saborear, então, mais vale ficar a olhar, de água a crescer-me na boca, pois comer isso até é crime!

Gostei de ler esse relato sobre a perda de peso e de centímetros na zona abdominal.
Já houve um tempo em que me enchi de força de vontade e perdi onze quilos.
Passei de 65 para 54... Ah, o que eu me entusiasmei à medida que fui vendo resultados.
Depois, negligencie a coisa. De seguida, por imposição médica, devido a um enfarte, deixei de fumar e já recuperei oito, desde 2012 até agora. Fazer o quê? Os possíveis para não me tornar numa Moby Dick é certo, mas não vou passar fome, nem posso.

Estive a ver a dona Melania, mas não me ocorre nada para dizer...

Parabéns por essa sua mente que fervilha de ideias geniais, e pela vontade e talento para as passar para o blogue. Admiro imenso essa sua escrita criativa e sempre activa. Sou tão preguiçosa, eu! :(

Um abraço.

Um Jeito Manso disse...

Olá Janita,

Essa do enfarte é que é pior. Os quilos a mais é o menos, embora muito peso a mais não seja saudável. Espero que esteja recuperada, que não tenham ficado sequelas. Essas coisas de coração assustam sempre um bocado, não é?

E custou-lhe deixar de fumar? Sabe que a mim nada? Nunca tive nenhuma recaída. Senti, sim, um grande alívio por ter largado um vício tão estúpido. E tem tempo para fazer caminhadas ou outro exercício? Isso é que é bom. Ou aquele exercício na água. Quando fui operada aos joelhos, fez parte da recuperação fazer aquela ginástica na piscina. Adorava aquilo. Só que era um horário tramado e ter que atravessar a cidade para lá chegar e chegar atrasada stressava-me. Mas tive pena.

E então também se divertiu à brava com o Book Club? Também eu. Ri-me de gosto. Há que saber apreciar a vida em qualquer idade. Sem pesos em cima.

Sabe que lendo os seus comentários parece-me uma pessoa cheia de vida. Nada preguiçosa.

Um abraço, Janita.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

A UJM é o máximo! Gosto muito dos seus textos.
Faz muito bem em dar ao dente naquilo que gosta.

PS: O Pão-de-Ló é de Alfeizerão, há é muita gente a pronunciar mal o nome da localidade e o que circula por aí é o incorreto Alfazeirão. Por acaso a minha iguaria preferida da Casa do Pão-de-Ló são os Pasteis de Nata.

Janita disse...

Respondendo à sua pergunta - de cortesia, é certo, mas perguntou...- como estive seis dias hospitalizada, três deles nos cuidados intensivos, quando voltei a casa, sobretudo ao trabalho e vi a minha secretária a abarrotar de papelada, senti uma imensa necessidade de um cigarrito para me dar ânimo para agarrar naquilo, na impossibilidade ( imposta por mim) as lágrimas correram-me pela cara abaixo sem que eu quisesse chorar.
Creio ter sido esse o meu «luto» pelo cigarro. Depois disso, passei sempre bem e nem do cigarro me lembro. Já lá vão seis anos, feitos do dia 27 de Junho. Tenho um maço de cigarros em casa, comprado nesse dia de manhã, antes de ser internada...é o meu troféu!! :))

Um beijinho.