Uma vez, um ministro de Santana Lopes, naquele animado período em que ele foi Primeiro-Ministro, estava em casa sossegado, a dormir o sono dos justos. Seriam, creio, umas três da manhã. Ouvem barulho na rua, depois a tocarem à campainha. A mulher assustada. Foi ele à varanda, nu, e viu um carro oficial. Dizem-lhe: 'Venha já, Senhor Ministro, porque o Senhor Primeiro-Ministro quer falar consigo'.
Lá vai ele, sobressaltado, o que teria acontecido?, o ministério era quente mas, que diabo, nada que justificasse uma coisa daquelas.
Chegou lá a antecipar crise da grossa.
Nada. Tranquilo. Santana simplesmente tinha tido uma ideia e queria falar. De tarde tinha, certamente, dormido a sesta, pelo que de madrugada estava fresco e activo como se fossem horas normais.
E isto, meus Caros, read my lips, passou-se mesmo (e não me perguntem como o sei porque não o posso dizer).
Por essa altura, ouvi eu a Cavaco, e ouvi em discurso directo, ao vivo e a cores, que termos o Santana era o pior que nos podia acontecer. Santana, na verdade, era -- em tudo -- o anti-Cavaco. Enfim. Não que seja medalha que só por si valha alguma coisa, mas é um facto. Naquela altura, Cavaco desprezava Santana.
E muitos portugueses percebiam esse sentimento. Muitas vezes Santana foi errático, chegou a portar-se mal (como quando lançou uma campanha injuriosa contra Sócrates), era volúvel e, muitas vezes, inconsistente.
Tirando isso. Voltando-nos para os tempos actuais. Com aquele seu ar blasé de quem não está nem aí -- porque, na verdade, parece é estar sempre disponível para um chameguinho feminino -- Santana tem charme. É um intuitivo e tem carisma. As mulheres sentem simpatia por ele -- e as mulheres são as grandes decisoras no que importa. Portanto, Rui Rio, bota de elástico, convencido e algo provinciano, que se cuide. Ter pela frente um sedutor não é tarefa fácil.
E mais. Passados estão os anos em que Santana tinha que honrar os seus compromissos junto das ex-mulheres a quem fez não menos do que cinco filhos. Nessa altura, sem grande pecúlio, sem trabalho que rendesse o suficiente para viver com grande folga, Santana não tinha a largueza de movimentos que tem hoje. Agora Santana tem, com certeza, um bom pé de meia, foi político durante anos mais do que suficientes para ter direito a uma reforma digna, já não tem filhos menores -- ou seja, a sua disponibilidade é outra. Acresce que aquele apelo que sempre sentiu por cativar -- cativar multidões, cativar espectadores, cativar mulheres -- continua vivo. E os anos que leva de comentador televisivo dão-lhe uma grande vantagem. Os líderes, nos tempos que correm, fazem-se na televisão.
Portanto, resumindo e concluindo: quando há dias disse aqui que ele gostava de se candidatar mas que não era parvo, estava enganada.
E hoje, ao ler as gordas de mais uma tirada brilhante do macaquinho ambulante Rangel, até pensei que estava a falar do avanço do Santana. Mas não, estava a dissertar sobre a macacada da Catalunha. Mas acho que até assenta bem à decisão de Santana, o ex-menino guerreiro a quem os irmãos pontapearam quando estava na incubadora. Nem só de pão legal e razão formal vive o homem. Nem mais -- seja lá o que isso quer dizer.
Para Santana Lopes é a hora de provar que Sampaio fez mal ao apeá-lo. Tem essa atravessada por mais que agora, todo posudo e a dar-se ares de grand seigneur, diga que não, que já esqueceu. Não esqueceu. E quer mostrar ao país que, para além disso, cresceu, ganhou juízo, já faz parte dos políticos a sério.
Portanto, o circo está prestes a começar. Vai ter graça.
Para Santana Lopes é a hora de provar que Sampaio fez mal ao apeá-lo. Tem essa atravessada por mais que agora, todo posudo e a dar-se ares de grand seigneur, diga que não, que já esqueceu. Não esqueceu. E quer mostrar ao país que, para além disso, cresceu, ganhou juízo, já faz parte dos políticos a sério.
Portanto, o circo está prestes a começar. Vai ter graça.
----------------------------------------