Acordei perplexa. Aquilo que começava a antever-se quando escrevi o post abaixo tinha acontecido.
As futuras vítimas de Donald Trump elegeram-no.
É como se os americanos tivessem querido fazer um aberrante contraponto com Kim Jong-un ou competir em palhaçada com Rodrigo Duterte.
O mundo tomado de assalto pelas televisões e redes sociais e governado numa base referendária dá nisto. O caminho abre-se perante quem usa o verbo fácil e destituído de ética ou moral -- e tanto mais facilmente quanto o populista já vem com o traquejo do mundo do entretenimento.
Os Estados Unidos, terra de diversidade, votaram no racismo, na xenofobia, no retrocesso, na acefalia.
Tenho dificuldade em perceber como é que as vítimas dos algozes são sempre os seus primeiros defensores.
A esta hora imagino que o aparelho republicano esteja a tremer sem saber como lidar com o elefante que lhes sobrou na sala. Mas foi este perigoso elefante que foi posto à solta numa loja de porcelanas.
Não sei o que aí vem mas não pode ser uma coisa boa. O mundo está mesmo um lugar cada vez mais perigoso.
Ao abrir a caixa de correio tinha alguns mails novos e num deles um lamento e uma fotografia. Esta.
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Tenho pena que a civilização tenha entrado numa deriva de retrocesso.
Vejamos por quanto tempo e como vai este ciclo acabar. Não estou optimista
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Reacções por lá
An American Tragedy de David Remnick no The New Yorker, aqui
ou
OH GOD, HOW DID THIS HAPPEN?
Grappling with the reality of President-Elect Donald J. Trump - de T.A. FRANK na Vanity Fair, aqui.
6 comentários:
O choque foi enorme e estamos todos ainda meio zonzos. Lá mais para tarde haverá muito para dizer.
Todavia, nunca como desde meio da madrugada se ouve e vê, por exemplo, nas televisões.De súbito, nas televisões portuguesas alguns comentadores descobrirem várias (e importantes) qualidades humanas e politicas de Donald Trump e inúmeras genialidades do seu provavel staff! Uma vergonheira
Embora seja "humano" mudar para o lado dos vencedores, nunca é bonito e nem sempre traz benefícios. De facto, Roma não só não paga a traidores como, só muito raramente paga a este tipo de apoiantes, de apoiantes da 25ª hora. Alias, vendo bem, estes realinhamentos são bastante pueris.
Também não me dá vontade de nada, morreu-me uma esperança. E concordo, o povo é quem mais vai sofrer. Não apenas o dos EUA.
Sobre este tema e o seu resultado subscrevo o que o autor do (excelente) Blogue “O Jumento”, que a UJM, coloca aí ao lado, escreveu a este propósito. Nem mais!
Lá nos “States” as coisas são assim, ou, como dizia o outro, naquela sua filosofia barata, “são como são”.
Que já andou pelos EUA, atravessando o seu interior, dá com potenciais eleitores “trumpistas” aos pontapés. Eles são a maioria. Incultos, sem conhecimentos de Geografia, de Política em geral, enfim, uns broncos. Mas, são a grande realidade norte-americana. Que decide o voto em eleições deste tipo. Ao contrário do que pensa a elite de NY, de Washington, de Chicago, de S. Francisco, de Boston, ou da Filadélfia.
O que me surpreende nisto é como interpretar como foi possível o eleitorado americano ter votado, em duas ocasiões, em Barack Obama e depois inclinar-se para esta criatura.
Em resumo, como diria La Palisse, Trump ganhou porque Hillary perdeu, só que ela perdeu por razões bem explicadas no Blogue “O Jumento”.
P.Rufino
Dei os parabéns ao Jumento, na linha de P.
Ver os 'deserdados' a votar numa Lady Clinton profusamente rodeada dos milionários actores de Howllywood, cantores e cantadeiras fáceis, desportista milionários USA, que ali foram fazer por mostrar egos e fortunas fáceis? E tão boa receptora, ela e Bill, dos milhões dos amigos árabes?
Uma Senhora com uma bela idade para gozar a reforma e escrever memórias?
Levou uma lição, que os tugas não souberam dar há anos, quando elegeram um PR já reformado. Outro incapaz de admitir que o seu tempo tinha passado, convencido de um passeio de oito anos em Belém.
Voar em socorro da Vitória... já Júlio César detestava essas aves. Um ditado transmontano:o diabo não é tão feio como o pintam. A ver vamos. E se for este a levantar o bloqueio a Cuba ? Isso é que era baralhar...
"Uma Senhora com uma bela idade para gozar a reforma e escrever memórias?"
Afora as simpatias por cada um dos candidatos, eis nas palavras deste comentador o juízo insidioso, conservador, implacável sobre as mulheres, sempre que elas ousem ser pessoas.
O candidato masculino até é mais velho do que a senhora!
Saturada de continuar a tropeçar nesta misogenia que continua firme no meu país.
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