sábado, novembro 23, 2013

"Os escritores (também) têm coisas a dizer", e tantas que lhe disseram, a ele, o homem dos sete instrumentos e da Tinta da China, Carlos Vaz Marques. Hélia Correia fala do que é um grande texto e Agustina Bessa-Luís fala de pessoas frívolas: duas mulheres escritoras que concederam grandes entrevistas a CVM. Tang Chew Liang ilustra este post e Benjamin Britten acompanha.







Não há nisso uma certa queda para a misantropia?
Não. Acho que não sou nada misantropa. Amo bastante a raça humana. Mas é um amor mais abstracto do que concreto.
Amo mais a raça humana abstractamente do que depois as pessoas no seu corpo e com o seu volume, com o espaço que ocupam.

Um grande texto pode dizer as barbaridades que entende?
Pode. Em termos ideológicos, pode. E tem dito. Olhe, o Celine.

Hélia Correia
E o que é um grande texto?

Um grande texto, costumo dizer, é o que tem uma escrita holográfica. 

É o que, em vez de fazer a fotografia do real - que não me interessa -, consegue dar profundidades que eu não alcanço de outra maneira. Que só alcanço por aquela combinação de palavras que aquele escritor conseguiu. 

Está lá outro universo dentro. 

E porque, também costumo dizer, eu não quero que me contem histórias, eu conto-as a mim mesmo. Toda a minha vida é feita de histórias. 


///\\\


A Agustina é alguém que tem vindo a fazer uma espécie de levantamento dos estratos geológicos que são atitudes culturais das últimas décadas. Como é recolhe os sinais da mudança social de hábitos e de comportamentos?
No contacto humano. O ser humano é a minha grande escola, é a minha grande fonte de informação. É o meu arquivo, inclusivamente. Eu, por exemplo, aos cinco anos não gostava dos adultos porque os considerava falsos, mentirosos e hipócratas.

E ainda pensa isso?
Hoje penso, mas de outra maneira.  Porque não são só isso. Eles são isso como defesa, como simplificação. Hoje, por exemplo, dou muita importância às pessoas que são frívolas.

Porquê, o que é que a frivolidade nos dá?
A frivolidade é também uma forma de hipocrisia porque as pessoas não são aquilo. A pessoa, quanto mais frívola nos parece, mais esconde a sua natureza profunda.
Agustina Bessa-Luís

E porque é que dá essa importância especial aos frívolos?
Porque têm mais a noção da sua fraqueza e, portanto, têm de se revestir de qualquer coisa que se imponha - inclusivamente, de uma maneira chocante - mas que é, de certa forma, uma carapaça que os defende.


///\\\

Este livro, 'Os escritores (também) têm coisas a dizer", contém ainda entrevistas de Manuel António Pina, Dulce Maria Cardoso, Gonçalo M. Tavares, Valter Hugo Mãe, Mia Couto, Antonio Tabucchi, Eduardo Lourenço e António Lobo Antunes.


Da mesma colecção comprei também agora 'Como Ler um Escritor' de John Freeman e do qual um dia destes darei notícias.

*

A música lá em cima, interpretada pelo The Dragon School Choir acompanhado ao piano por Vicky Savage é de Benjamin Britten ( Lowestoft, 22 de Novembro de 1913 — 4 de Dezembro de 1976, OM, Barão Britten de Aldeburgh, compositor, maestro, violetista e pianista britânico), são excertos de Friday Afternoons:


3. Cuckoo! (Words by Jane Taylor 1783-1824)
10. Jazz-man (Words by Eleanor Farjeon 1881-1965)
*

As imagens, Fashion in Leaves, moda com flores ou folhas, são da autoria de Tang Chew Liang de Kuala Lumpur.

\\\///

Peço-vos ainda o favor de descerem um pouco mais até aos excertos da frontal entrevista de Sobrinho Simões ao Público. São momentos assim que marcam os pontos de viragem.

///\\\

Resta-me desejar-vos, meus Caros Leitores, um belíssimo fim de semana.

1 comentário:

Olinda Melo disse...


Olá, UJM

Muito obrigada por nos trazer estes excertos e notícias do pensamento destas figuras da literatura, inserto no livro que menciona.

Do post abaixo, depreende-se que nem o mito da Fénix renascida das cinzas nos valerá de alguma coisa.

Beijinhos

Olinda