segunda-feira, novembro 25, 2013

Escrever, pintar, sonhar, trabalhar. A palavra aos artistas. Amoz Oz em entrevista a Luciana Leiderfarb e Helena Almeida em entrevista a Clara Ferreira Alves. No Actual do Expresso.


Amoz Oz

Quando percebeu que queria ser escritor?

Muito cedo.
Mesmo quando não tinha a certeza de querer sê-lo,
passava o tempo a contar histórias.
Aos 5 anos já inventava histórias de detectives e de ficção científica
para os meus amigos e para impressionar as raparigas.
Eu não era um rapaz bonito,
não era bom nos desportos nem era brilhante na escola.
A única forma de impressioná-las era a contar histórias,
o que faço ainda hoje.

(Nota minha:
podia não ser muito bonito aos 5 anos mas, aos 74, é um gato).
As suas motivações para escrever devem ter mudado com os anos.

Tornei-me cada vez mais curioso sobre a natureza humana, sobre as pessoas. penso que a minha urgência de escrever tem a ver, sobretudo, com a curiosidade. A curiosidade é uma virtude moral. Uma pessoa curiosa é melhor pessoa, melhor vizinho, melhor pai, até melhor amante do que alguém que o não é.

(...) para um escritor, o centro do universo é onde vivemos. Não é preciso conhecer o mundo, é preciso olhar para as pessoas que nos rodeiam.


Toda a história pessoal tem um lado universal.

O mundo está cheio de histórias. Ainda hoje, se tiver que esperar numa clínica ou num aeroporto, não leio os tablóides, ouço as conversas dos outros. Observo as expressões, as roupas, os sapatos - os sapatos contam sempre muitas histórias. tento adivinhar quem são, de onde vêm, que tipo de vida vivem...


[Entrevista de Luciana Leiderfarb a Amos Oz no Actual do Expresso de 23 de Novembro de 2013.]


*


Helena Almeida parece-me por vezes um pássaro,
um desses pássaros raros que esvoaçam e logo desaparecem,
dotados da velocidade das coisas precárias.

Olho para ela e vejo uma mulher bonita.
em jovem, tinha uma cara belíssima, fortíssima.
O problema é que anda tudo a dormir. As pessoas nunca dizem o que pensam. Ou então estão mortos e não sabem que estão mortos. (...) Nunca há escândalo.

O meu mundo é outro, preciso de estar sozinha, a desenhar, e é o que me dá prazer. Fazer o que quero, ser livre, não ter gente à volta. Ter a cabeça livre. 


Ao mundo exterior vai buscar tudo o que lhe interessa, e interessa-lhe tudo. `


Às vezes, é uma pessoa que passa e diz uma frase. Por exemplo, 'Banhada em Lágrimas' eram duas mulheres que iam a falar: 'Ela anda banhada em lágrimas'. Ficou-me a trabalhar. Pode ser uma coisa vulgar, um vestido, uma pessoa, uma sombra nos objectos do meu ateliê... E por ali vai o resto'


Admiro e tenho muito respeito pelos artistas, é um trabalho muito difícil.
Mesmo os que não são bons, respeito.
É uma profissão muito solitária. É preciso paciência.
Para mim, tem sido uma bênção. Mas não se pode esperar recompensa.


[Excertos da excelente entrevista de Clara Ferreira Alves a Helena Almeida também no Actual do Expresso a pretexto da exposição 'Andar, Abraçar'. Em boa hora o Expresso vem voltando a dar mais palco a Clara Ferreira Alves, uma grande jornalista.] 


*

Se deslizarem até ao post seguinte, poderão saber o que David Nunes, congressista nos EUA, e Pedro Marques Lopes, no DN, pensam das privatizações levadas a cabo por Passos Coelho, esse modelo de patriotismo de faz de conta. 

Descendo ainda um pouco mais, conto-vos sobre o filme que fui ver este domingo: Malavita. A não perder.

E ainda vos convidar a virem visitar o meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa. Por lá hoje tenho o violista Benjamin Schmid a interpretar Bach (ou jazz?). E a Maria do Rosário Pedreira aparece para me levar a confessar a minha solidão revoltada.

*

E, por hoje, já chega. 
Resta-me desejar-vos, meus Caros Leitores, uma bela semana a começar já por esta segunda feira.

5 comentários:

(c) P.A.S. Pedro Almeida Sande disse...

E foi o observar tudo isso que me impôs "Obsessão":
«De onde um diabo dominador e castigador na distância das palavras se acolitava, parecia agora sair, em presença, um anjo frágil, um querubim gracioso, subjugado por um qualquer segredo perturbador. Tomado por uma mão estranha, impelia-me obsessiva, obstinadamente, um veio de razão que aconselhava retirada. Estando sentado à minha mesa, procurava construir e completar este puzzle. Espalhadas na minha secretária, as peças acumulavam-se em grande número, mas desordenadas. O próprio livro onde haveria de colocar um curto autógrafo era uma peça desse xadrez. Lá se falava em estima e consideração, esse apreço e respeito que depressa se pode transformar em orgulho, teimosia, intolerância, desvalia e escárnio. Levado, é certo, por conflito e distorção de palavras, que as mensagens sem destinatário certo podem acarretar: e que as efabulações, as minhas putas loucas de noites quentes sem aragem, transportam. E por uma anomia que era também a minha, despido da vontade de querer continuar a marchar sozinho, como se o enorme pelotão de descrentes me tivesse já deixado para trás e tivesse de o parar a golpes de chumbo. Que de catana ou sabre, o efeito seria pela certa boomerang.»
©PAS
Obsessão (Portuguese Edition)

O Puma disse...

... entretanto hoje é homenageado Eanes
um cúmplice do descalabro

Um Jeito Manso disse...

Caro Pedro Almeida Sande,

Só posso desejar-lhe muitas felicidades com este seu livro. Depois de o ver publicado deve ficar um certo vazio, especialmente quando o mesmo foi escrito em estado de (saudável) obsessão. Mas, com o seu gosto pelas palavras, certamente já estará de volta de um novo 'tabuleiro de xadrez'.

Parabéns e boa sorte!

Um Jeito Manso disse...

Caro Puma,

Tenho uma certa dificuldade em juntar-me às suas palavras. Nunca simpatizei especialmente com Eanes nem me identifiquei com o seu estilo. Mas acho que foi bem intencionado e, tudo o que fez, fez pensando que era o melhor para o País. Por isso, não acho que tenha sido extraordinário mas não o ligaria directamente ao descalabro.

Onde eu encontro mesmo o início do descalabro foi nos governos do Cavaco, quando aceitou destruir a actividade económica (indústria, agricultura, pescas) a troco de mãos cheias de dinheiro que alimentaram muitos oportunistas.

O mesmo Cavaco que agora assiste impávido e sereno à destruição do País.

Anónimo disse...

Nem mais, Um Jeito Manso!
P.Rufino