Depois de, no post abaixo ter falado da Malavita, o filme que vi este domingo com Robert de Niro - o actor excelentíssimo - volto agora a assuntos sérios.
Leio na 1ª página do Expresso:
Privatizações de redes: o risco chinês
O congressista americano de origem portuguesa David Nunes, membro do Comité de Intelligence da Câmara dos Representantes dos EUA, alertou ontem as autoridades portuguesas para os perigos da venda a países estrangeiros de redes de comunicações essenciais ao país, referindo-se concretamente à aquisição da EDP e da REN pela China.
Concordo em absoluto. Uma vergonha, um risco, uma estupidez. Estas privatizações com que Passos Coelho está a empobrecer Portugal estão, junto da opinião pública, a passar por entre os pingos da chuva - e, no entanto, são verdadeiros atentados de lesa-pátria. Não apenas já ultrapassaram o que a troika queria em termos de montantes como estão a ser conduzidas de uma forma que retiram soberania de facto ao País.
Leio também no DN o certeiro artigo de Pedro Marques Lopes que merece bem a leitura na íntegra. Transcrevo apenas uma parte:
O facto é que a economia portuguesa está ainda mais dependente de decisões políticas do que alguma vez esteve. Ou será que alguém pensa que a EDP não seguirá à risca o que for melhor para o Estado chinês? Ou será que alguém sonha que a REN não criará problemas graves a Portugal por um qualquer interesse de um dirigente do PC chinês?
O resultado de toda a política que até agora tem sido seguida era previsível e está a confirmar-se: uma economia destruída acaba por se tornar dependente do único poder que permanece: o do Estado. A sistemática destruição económica dos últimos anos deixou o tecido empresarial tão enfraquecido que se torna praticamente inevitável a intervenção estatal.
Daqui até à intromissão do Estado em assuntos que não devem estar na sua esfera, ao aumento do clientelismo, ao crescimento do poder arbitrário do Governo nas mais diversas áreas, vai o passo dum anão.
Com a mesma lógica, não surpreendem os números, que esta semana vieram a público, que mostram que meio milhão de crianças e jovens perderam o direito ao abono de família em três anos e que há muito menos pessoas a receberem o rendimento social de inserção e o complemento solidário para idosos (dados do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa). Não será preciso lembrar que não haverá altura em que estes apoios seriam mais necessários. Por outro lado, o Estado está a investir fortemente em cantinas sociais.
O que se está a tirar em direitos e apoios para que as pessoas mudem de vida e se diminuam as desigualdades está a dar-se em esmolas. É o regresso da sopa dos pobres.
Também diz que o Governo é apoiado por um partido social-democrata.
No fundo, o Estado sai de onde devia estar, diminui as suas funções essenciais, reduz drasticamente os apoios sociais - que já eram dos mais baixos da Europa - e aumenta muito a sua presença onde não devia estar e que quando está só estraga. O Estado torna-se mais fraco onde devia ser forte, e decisivamente forte onde devia ser apenas regulador e facilitador. É a inversão total da lógica do funcionamento do Estado numa democracia que quer ter uma sociedade civil forte e independente e uma economia mais livre e com mais iniciativa.
O Governo não é nem liberal, nem social-democrata, nem nada. É apenas incompetente e ignorante.
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Tal e qual. Concordo.
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(Relembro: para espairecer de assuntos tão aborrecidos, é descer até ao post seguinte onde falo de três grandes actores se juntaram para fazer um filme bastante agradável de ver.)
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4 comentários:
É oportuno este seu Post. E junto-me aqueles , como a UJM, que se preocupam com estas situações.
Nesse sentido, é importante saber se um próximo governo, proveniente da actual Oposição, terá coragem (nunca terá!) para entre outras coisas tomar a decisão de “atacar” a EDP, a REN, os Correios, etc e decidir o seguinte: o Estado passa a deter – sem ter de pagar por isso um euro que seja, é uma decisão de carácter político, de interesse nacional – 51% do capital daquelas empresas. E a definir, a partir dessa decisão, os preços de venda ao público, dos respectivos serviços. E os impostos que aquelas empresas têm de pagar em sede de IRC. E utilizar, ou canalizar, uma boa parte dos seus enormes lucros para o interesse público-social, por exemplo. Era o que faria se fosse eu o próximo PM. No caso dos Correios, acabava com a privatização, nos restantes, EDP, REN, etc, devagar, devolvia gradualmente ao Estado a soberania sobre aquelas empresas. Ía, de seguida, mais longe. Decidia que o Estado deixava de assumir as dívidas da Banca. Que fossem os accionistas da mesma a “chegarem-se à frente” e os bancos ficavam em dívida, doravante, perante os seus credores, o BCE, etc e...também perante o Estado português, que até ali se tinha endividado para os resgatar. Enfim, muito mais se poderia dizer.
Todavia, nada disto irá suceder pois o pobre do tosco do Tó-Zé não irá alterar substancialmente NADA do que subsiste! Nada do essencial.
Este país é uma merd...Ninguém, seriamente, se preocupa com o bem estar geral. Os 3 principais Partidos estão total e incondicionalmente nas mãos dos credores internacionais e os mercados - e sem coragem para os enfrentar e lhes impôr uma política que defenda os interesses nacionais.
Já deixei de ter a menor réstea de esperança para dias melhores. Com o material político que temos NUNCA sairemos deste esgoto. Nunca! Holandes/Seguros e Passos/Portas são o nosso triste destino. Uma grande porra! Triste sina a nossa!
P.Rufino
É óbvio que a venda da EDP à RPC é enigmática e deixa-nos com os olhos em bico, mas tudo o que é estratégico e é alienado para além fronteiras, revela a "cegueira" desta gente que nos desgoverna.
Tudo o que se passa revela cegueira, estupidez e, sobretudo, uma estranha ausência de amor ao País.
As tremendas consequências de tudo isto sentir-se-ão durante muito tempo e temo bem que não seja possível reverter nada disto.
Quando penso nisto sinto uma grande impotência.
Custa a acreditar como um bando de incompetentes consegue dar cabo de um País num abrir e fechar de olhos sem que haja mecanismos para os travar.
Qual incompetência, qual o quê? Estão a desbaratar-nos o património por corrupcção.
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