terça-feira, outubro 29, 2013

A propósito da guerra aberta que está a preceder o divórcio litigioso entre Bárbara Guimarães e Manuel Maria Carrilho e das acusações, por parte dela, de violência doméstica continuada por parte dele, com todo o respeito do mundo, aqui dou a palavra aos Leitores de Um Jeito Manso, vítimas de maus tratos. Tudo o que eu puder fazer para alertar consciências para este drama que tantas vezes se vive em silêncio no interior das casas, faço.


À hora de almoço publiquei o post abaixo sobre o que se está a passar entre Bárbara Guimarães e Manuel Maria Carrilho, duas figuras públicas, respeitadas. É um assunto que me perturba. Custa-me perceber como pessoas 'normais' se transformam a ponto de acontecer uma coisa destas. Medo, raiva, rejeição, vingança, vergonha: tudo o que é extremo e negativo na natureza humana parece emergir de uma forma descontrolada.

Não sei o que se passou entre eles para que, sob a capa dos sorrisos e de casal perfeito, fosse nascendo um ódio tão profundo. Por isso não quero julgar mas, porque o assunto não me deixa indiferente, manifestei a minha estranheza e, de certa forma, a minha compaixão. Quem passa por uma situação destas deve sofrer muito. E os filhos devem também sofrer muito com o que se está a passar, especialmente o mais crescidinho. Custa-me muito pensar nisso. Este caso ganhou esta visibilidade porque são figuras mediáticas mas quantas mais pessoas não passam, em silêncio, por esta situação tão triste?

Agora, ao vir espreitar se o post tinha saído direito (com este computadorzeco que se mexe em câmara lenta, parece que se as letras não saírem todas trocadas é milagre), dei com uns comentários que me emocionaram muito. Li-os com lágrimas nos olhos. É verdade: quem não passa por isto, não sonha o suplício que deve ser. 

Por isso, porque nada pode soar mais verdadeiro do que as palavras de quem passou ou passa por um drama de violência doméstica, aqui deixo, de viva voz, o testemunho de quem passou por um pesadelo assim e sobreviveu.


Talvez que a leitura destas palavras possa ajudar alguém que esteja a viver uma situação similar e não tenha a coragem de dela se libertar, de pedir ajuda, de falar nisto.

Agradeço, Caras Leitoras, a coragem do vosso testemunho. Ei-lo.

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O terror de "será que amanhã acordo viva". Sabia que no dia em que me pusesse as mãos seria para, como dizia uma amiga "ir falar contigo com uma etiqueta no dedo grande do pé"

Tenho filhos e, também eles na altura pequenos, assistiram dentro da porta a muita coisa da qual ainda hoje têm algumas mazelas.

Pensei várias vezes em suicidar-me. O que me fez mudar de ideias não foi tanto o ficarem sem mãe. Por incrível que pareça o pensamento que me motivou foi "Não posso permitir que inventem mentiras sobre mim aos meus filhos. Eles merecem saber a verdade. Tenho que aguentar-me". 

Aterrorizava-me as mentiras que ele e a família iriam inventar sobre a mãe. Pode parecer estúpido, egoista porém foi a fórmula que encontrei para fortalecer-me. Não podia desiludir dois seres maravilhosos que não pediram para nascer neste inferno. Pediram-me muitas vezes para deixar o pai. 

Acredite UJM só quem está no lado de cá consegue sentir o que é subir o cadafalso diário. Hoje, já adultos sabem avaliar e, após 20 anos ainda sentem, no pai, a mesma raiva por não ter-me matado. Falamos, sem prurido, sobre isso.

Só para que conste, UJM, estamos a falar de dois cidadãos licenciados, no tempo em que elas ainda eram a sério, relativamente conhecidos no meio que frequentavam, profissionalmente reconhecidos...

Os amigos foram fulcrais. Nunca me julgaram, condenaram. Nunca duvidaram de mim mesmo não tendo assistido a quase nada.

Remato apenas para pedir-lhe nunca acuse ou julgue, independentemente do género, vitimas de violência doméstica. As pessoas não têm consciência que ao perguntarem-se "porque não sai" está implicito que é uma pessoa fraca. Não somos. Somos apenas diferentes das outras mulheres/homens: com uma capacidade de entrega aos outros sem limites. O agressor capta isso à distância e sabe explorar essa vertente. 


Apenas tomei consciência quando um amigo disse-me: ok, compreendes que ele tem problemas, que viveu uma infância infeliz, etc, etc, etc, mas a tua compreensão/desculpas contribui algum milimetro para a tua felicidade ou das crianças? Está a reproduzir o que se passou com ele. É isso que queres para os teus filhos? Irá mudar alguma vez? Se alguém tem que "morrer" tens que fazer uma escolha. Pensa nisso.

Muitos mais poderia falar. Fico-me por este já grande comentário. Desculpe-me a ousadia mas se conhecer alguém vitima de violência doméstica não lhe pergunte “porque não sais”.

Diga-lha apenas “o que posso fazer para ajudar-te a sair”. Mas passe à acção. Não se fique pelas palavras. Também o seu nome irá ser enxovalhado pois será uma colaboracionista. Prepare-se para fazer parte da guerra. Repare no que fez MMC: envolveu a família, a seguir serão os amigos e colegas de trabalho.

Com este alerta será uma opção, da sua parte e de todos os que nos lerem, mais consciente. Acredite, não irá arrepender-se. Os meus amigos nunca se arrependeram.

Continui a escrever como sempre o faz. Deixe as vírgulas e as gralhas nocturnas dormirem em sossego. Da minha parte estão há muito perdoadas.

Um abraço

Maria

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Sugiro este vídeo. 

Falo por experiência própria. Nunca me fez uma nódoa negra, nunca me tratou mal em público. Nos últimos anos, quando inseria a chave na fechadura o meu coração disparava de dor. Ser vitima de violência doméstica é uma situação só passível de entender por quem passa por ela. Tal como a morte de um filho estar nas mãos destes carrascos faz parte do inominável.





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Obrigada.

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Tudo o que eu possa fazer para ajudar as vítimas de agressão ou para alertar a suja consciência dos agressores, é pouco.

3 comentários:

dbo disse...

Cara UJM,
diz bem, “duas figuras públicas e respeitadas “(?).

Obviamente não vou desvirtuar o sentido do respeito, pois o mesmo é manipulado conforme interesses e culturas pessoais. Nem sempre existe um manto diáfano sobre a linha umbilical que acorrenta duas pessoas. Há ódios que subjazem nas diferenças culturais e nos degraus de escalonamento etário. Quando as vicissitudes extrapolam a linha incolor e sensível do odioso vivencial, acende-se um rastilho que desaba em múltiplas explosões de desentendimento e poderá desaguar num rio de sangue que poderá manchar a inocência dos próximos e mais desprotegidos.

A crueza infame do nosso odioso quotidiano é invisível, mas, quando se evidencia, deixa marcas que demoram uma eternidade a desaparecer.

Quando as figuras em questão são protagonistas dum mundo bastante visível, a amplitude da desgraça e da infâmia é maior que a dos ilustres desconhecidos que pululam por essas vielas e tugúrios, onde não chegam revistas coloridas e vozes de amantes de desgraças.

A Terra, bem viva, continuará a girar como lhe foi destinado e a morte será sempre o desfecho de tudo quanto estrebucha neste vale de risos e lamentos.

Muita saúde para si e para os seus. Felicidades.

Anónimo disse...

com a justiça que temos, se apanhar 15 anos ao fim de 7 está cá fora.É fácil de fazer as contas.Entre correr o risco de perder uns anos da minha vida ou ela toda, é só fazer as contas.

o ser humano é por natureza egoísta e medroso, as pessoas que têm a firme ideia de pôr termo à vida, porque não levam um(uns) filho(a) da puta junto?

Um doente terminal, porque não faz o mesmo?

de certeza que teríamos um mundo melhor, pois como dizia Rommel "O perigo de morte é um antídoto eficaz contra ideias fixas"

Um Jeito Manso disse...

Caro Anónimo,

Tinha publicado o seu comentário mas depois retirei-o para apenas o publicar quando pudesse comentá-lo. Não posso concordar com o que diz e considero isso muito perigoso. Isso seria a lei da selva, a da justiça pelas próprias mãos. A nossa justiça pode ser lenta e má mas é melhor que não haver.

Não podemos fazer juízos de valor sem conhecer a verdade dos factos (tanto quanto é possível saber a verdade no meio de emoções que, por natureza, são subjectivas). Muito menos podemos tomar medidas radicais a partir de opiniões formadas sem rigor. E, muito menos, nunca nos podemos arvorar em justiceiros.

Sou, em absoluto, contra a pena de morte.