segunda-feira, agosto 26, 2013

Este é o amor das palavras demoradas - e como não me demorar quando falo dos meus amores?


Hoje estou com vontade de falar também sobre outra coisa mas não vou fazê-lo. Não quero misturar situações ou sentimentos. Talvez amanhã. Hoje quero falar de vida, de alegria, de leveza, de felicidade.

No post abaixo respondi à Leitora Ana, descrevendo como fiz a minha receita arraçada de strogonoff e acrescentei mais duas receitas pois são simples e versáteis. Gosto de cozinhar. Não sou certinha (em nada da vida mas agora estou a falar de culinária) pelo que não sigo receitas e provavelmente cometo erros. É tudo a olho, pura intuição. O certo é que gosto de servir comida feita por mim, gosto de ver que repetem, que gostam, que querem levar o que sobra.

Mas isso é no post abaixo.

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Aqui dou-vos conta de que hoje, in heaven, continuou a azáfama, a labuta, desde o início da manhã até ao cair da noite.

Os meninos gostam de trabalhar. Claro que gostam de brincar, de correr, de se esconder, de pintar, de andar com carrinhos, eles, de brincar com bonecas, ela, de se montarem no carrinho de mão e irem de viagem. Claro. Mas o que eles também gostam de trabalhar... De regar, sempre. Mas a coisa acaba sempre transformada em ataques laser, e toda a gente molhada, e os dois pimentinhas de mangueira na mão a atacarem-se uns aos outros com os inerentes danos colaterais.

Mas outra coisa que os torna responsáveis, ali andam cheios de brio, a ver quem trabalha mais que o outro, é apanhar a caruma seca.




Ou com vassoura ou com o ancinho, apanham a caruma como gente grande. Claro que ando sempre um bocado com o credo na boca, não vão magoar-se nos garfos do ancinho. Mas eles já manobram aquilo com perícia e a coisa tem corrido bem.

O bebé, claro, dos quatro é o único que ainda não colabora. Mas entretém-se imenso. Estendi uma coberta no chão para ele andar por ali e é nessa coberta, bem como em esteiras, que toda a gente se senta ou a apanhar sol ou a lanchar ou a brincar.

Mas ele que veja uns garrafões vazios de água... sai da coberta a grande velocidade para ir ter com os garrafões e por ali fica entretido durante não sei quanto tempo.




Este bebé vive entre abraços e beijos dos outros pimentinhas. A irmã, volta e meia, interrompe o que está a fazer para lhe ir fazer miminhos. Ele às vezes puxa-lhe o cabelo, morde-a ou dá-lhe palmadas mas ela é uma fofinha, percebe que ele é pequenino, perdoa-lhe, e continua a apaparicá-lo com ternura.




Na fotografia acima eu estava na cozinha, nas minhas lides. E então reparo que a princesinha mais linda se tinha, uma vez mais, ido abraçar ao mano. À pressa, larguei o que estava a fazer para os fotografar. O primo, o ex-bebé, também queria fazer a mesma coisa mas não é tão efusivo nas suas manifestações, ficou ali a fazer festinhas ao de leve, sem saber bem onde mexer. 

O bebé, habituado que está a isto, interrompeu por uns instantes a sua brincadeira e depois, quando a mana e o primo se afastaram, prosseguiu como se nada se tivesse passado.

Mas o ex-bebé adora o primo, está sempre a querer brincar com ele, quer pegá-lo ao colo. Demos com ele, abraçado ao primo, sentado por trás, a dizer que estava com o 'bebé ao côho'. De facto, parecia era que estava a fazer uma gravata ao primo. Toda a gente lhe dizia para não apertar tanto mas ele estava feliz, a achar-se grandão por já ser capaz de estar com o bebé ao colo. O bebé, como sempre, ria e palrava (cada vez com voz mais grossa), muito expansivo e bem disposto, indiferente a tanto mimo que toda a gente lhe faz.




Na brincadeira digo à minha filha que o ex-bebé está mesmo com vontade de ter um maninho bebé, quiçá uma maninha para fazer a vontade à mãe que gostava de ter uma filha. Mas ela diz para eu esquecer, só se eu quiser ser barriga de aluguer e criá-la até aos 3 anos. Está escaldada com o ex-bebé - que é um amor, um brincalhão, mas que, desde que nasceu, tem sido um castigo para dormir, deixando-a de gatas, sempre com défice de sono. 

Depois apareceu o Agapito.




O Agapito é o gafanhoto assim baptizado, sem uma patinha traseira, que anda a custo, e que lá apareceu para surpresa e alegria dos meninos.

Como poderão ver pelos dedos da bonequinha mais linda, entretanto, já tinha havido pinturas. O mais crescido fez uma pintura que representava os jogadores do sporting e do benfica. Um desenho a encarnado e verde, claro. Ela fez um desenho com muitas cores para dar aos avós paternos, dizendo que eles iam gostar muito. Afinal, com a barafunda que são sempre as manobras de retirada, com mil coisas espalhadas por todo o lado, o quadro acabou por não vir.

De tarde, houve mais uma tentativa de os pôr a dormir. O bebé lá ficou mas por pouco tempo, acordou com o barulho dos outros e sentou-se logo, a rir. O ex-bebé também dormiu durante duas horas já que, de noite, com a excitação, tinha adormecido tardíssimo. Os outros dois nem pouco mais ou menos. E tanto barulho fizeram que não deixaram mais ninguém dormir.

A minha filha, que se tinha deitado ao lado do ex-bebé, a ver se conseguia dormir, dizia que, como se não bastasse a conversa permanente daqueles dois, às tantas só ouvia uma batucada. 

Eu, que estava ao pé deles a responder a mails de serviço e a tentar ler o Expresso/Economia, nem dei pelo início mas, quando olhei para o que os dois primos estavam a fazer na maior animação, fiquei sem dizer nada, sem saber o que dizer. Por um lado pensei: 'os vidros vão ficar num lindo estado...' mas depois, pensando melhor, rectifiquei: 'em lindo estado já eles estavam antes disto, portanto, deixá-los'. E, vendo bem, achei giro, parecia que o vidro estava cheio de flores.




Andavam os dois a colar bocados de plasticina no vidro. Ele punha bocadões azuis, verdes e cor de laranja e dava murros para os fixar. Ela, mais delicada, punha bolinhas cor de rosa e lilases e fixava-as com a pontinha dos dedos. A batucada era essencialmente dele, dos murros que dava na plasticina, muito aplicado para que a aderência fosse perfeita.

Mas o efeito era engraçado.

De resto comeram que se fartaram, a gente vai carregando cada vez com mais comida e parece que nunca é bem à conta. Estamos com o carrinho do supermercado a transbordar, a pensar que vai sobrar uma montanha de comida mas que não faz mal, divide-se entre eles, dá-lhes sempre jeito. E afinal pouco sobra. Ainda levaram umas caixitas mas pouca coisa. Mas os iogurtes foram todos e mais houvesse. Achei que dezasseis iogurtes seriam suficientes para eles mas... qual quê?

E pão? Eu praticamente não como pão pelo que esse é pelouro do meu marido. Vi-o carregar com sacos e sacos e, no fim, ainda voltar atrás para trazer mais dois sacos. Censurei-o, 'estás descontrolado com o pão... que exagero é este...?'. Respondeu-me que eles levavam o que sobrasse ou ficávamos nós, que o prazo de validade aguentava. Era pão saloio dos grandes, fatiados, bolinhas, pão de azeitonas, tomate e orégãos, pão de sementes, sei lá, sacos e sacos de pão. Pois só tenho a dizer-vos que foi todo. Comem pão como se não houvesse amanhã. Pão ao natural, pão em torradas, pão em sandes, pão à refeição, ao lanche, a toda a hora. Pão, leite (nem sei bem quantos litros terão sido), iogurtes, sumos. Já sei que no próximo fim de semana em que lá estejam todos vamos lembrar-nos disto e vamos reforçar a dose mas já sei que corremos sérios riscos de voltar a acontecer a mesma coisa. A questão é que cada vez comem mais. É uma realidade em progressão crescente. Ao princípio contava com a comida para os adultos e a comida para as crianças era um acrescento; mas essa realidade muda todos os dias pois as crianças já comem quase tanto como um adulto (ou mais, se contarmos com as papas, o leite, os iogurtes). Até o bebé come como um homem.

Bom, no fim é com tristeza que se despedem. Os dois pimentinhas rapazes queriam ficar, gostam muito de lá estar, o ex-bebé estava em lágrimas e o mano velho disse-me, 'sabes, Tá, eu estou como o meu mano: também estou muito triste porque também não me queria ir embora'.




Pudera, é brincadeira permanente, alegria e descoberta, e tudo envolto em muito carinho. O tio, então, desafia-os, brinca, arrelia-os, provoca-os - e eles adoram-no.

E o lugar presta-se a esta ideia de que se está de férias, longe da normalidade do dia a dia. E é aquilo com que sempre sonhei. Campo, árvores (plantadas por nós), caminhos 'de bosque', recantos, sítios para brincarem às escondidas, tocas de coelhos, canto dos pássaros, o sol a pôr-se atrás dos montes.

À tarde, quando o bebé já tinha acordado e o ex-bebé estava a dormir, e o mais crescido e a prima estavam na sala a pintar, ele, todo feliz, regressou de uma ida lá fora e disse, todo contente, com a maior das naturalidades, que tinha ido pôr as tintas a secar, que já estava tudo seco e que até tinha visto um auto-tanque dos bombeiros. Assim, tal e qual, como se fosse a coisa mais normal do mundo haver auto-tanques a passarem por ali. Eu acho que tudo ali, para eles, é tão especial que até haver auto-tanques a passar à porta de casa é natural. Claro que demos um salto e fomos a correr para ver o que se passava. De facto, momentos antes tínhamos ouvido o helicóptero mas isso ali é normal, os bombeiros às fezes acho que fazem uma patrulha. 

Mas logo a seguir passou outro e outro auto-tanque e o helicóptero ali andava por cima. Fomos ver mais à frente e vi um fumo espesso logo ali mais abaixo. O meu filho foi pela estrada e o fogo era lá perto mas o vento estava em sentido contrário (por isso não nos tinha chegado o cheiro) e a pronta actuação dos bombeiros resolveu rapidamente a situação. Para mim isto é um susto mas, para a criançada, isto é outra aventura. Fomos todos ver se víamos o fogo e o helicóptero e os auto-tanques. Depois estivemos sentados à sombra de uma figueira e de um pinheiro, num sítio onde a sombra é fresca e perfumada.

Penso muitas vezes assim: era um terreno cheio de mato e agora é um lugar especial, cheio de árvores, onde as crianças adoram estar. E eu era eu, e depois já éramos dois e agora já somos dez. E todos gostamos de estar neste lugar onde as árvores vão nascendo e crescendo para fazer sombra às crianças que vão nascendo e crescendo.

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E por aqui me fico. Para as receitas de alguns dos acepipes deste fim de semana é seguirem, por favor, até ao post a seguir.

NB: Estou cansada a sério. Por isso, e porque já são quase 2 da manhã e tenho que me levantar cedo, não vou nem reler. Por isso, já sabem: vírgulas, letras, acentos fora do sítio... por favor relevem, está bem?

Resta-me desejar-vos, meus Caros Leitores, uma semana muito boa a começar já por esta segunda feira!

4 comentários:

Mar Arável disse...

Tudo pelo melhor

que o tempo é escasso

Mar Arável disse...

Tudo pelo melhor

que o tempo é escasso

JOAQUIM CASTILHO disse...

Olá UJM!

Eu, que gosto de ver ciclismo na TV, estou muito gordo para pedalar, só posso dizer sobre os seus textos estivais: mas que pedalada!!!
Sobre tudo e sobre nada sempre com o mesmo entusiasmo e limpidez na escrita. É um regalo lê-la, mesmo para que já não tem pedalada para a acompanhar!

Um abraço

Maria Eduardo disse...

Olá UJM,
A sua primeira frase diz tudo..."Este é o amor das palavras demoradas-e como não me demorar quando falo dos meus amores?"... Fico sem jeito para dizer o que quer que seja. Só tenho a agradecer-lhe a partilha destes momentos de tanta alegria e felicidade passados na companhia dos seus menininhos. Parabéns pela família adorável que tem.
Um beijinho grande.