A tragédia que aconteceu em Lisboa, no elevador da Glória, é absolutamente chocante e difícil de admitir. Um acidente como este no centro da cidade ultrapassa a perspectiva que temos do que nos pode esperar no quotidiano. É terrível!
Espero que esta tragédia tenha resultado de uma falha fortuita e imprevisível no sistema. Espero também que o inquérito aponte conclusões para percebermos o que falhou e quais as razões da(s) falha(s).
Ao ouvir hoje uma parte da conferência de imprensa do presidente da Carris, houve dois aspectos que me chamaram a atenção.
- Primeiro, afirmou que os custos de manutenção tinham aumentado 25 por cento, não me lembro se em 3, se em 5 anos, mas só após a pergunta de um jornalista informou que os custos com a manutenção dos elevadores tinham sido os mesmos nos últimos 3 anos (995.000 € por ano). Parece que queria dizer só meia verdade.
- Mas o que me suscitou mais dúvidas foi ele ter dito que o concurso para prestação do mesmo serviço para 2025 tinha como valor base 1,2 milhões de euros, e nenhuma empresa tinha apresentado proposta. Quando um concurso fica deserto, geralmente isso significa que nenhuma empresa achou que conseguia fazer o trabalho pelo valor base. E, ainda assim, comparando com o valor que vigorou até agora, estamos a falar de uma diferença para cima, de mais cerca de 20 por cento (mais de 200 mil euros) -- e mesmo por estes valores bem mais altos ninguém apresentou proposta. Face a isso, a Carris vai ter que lançar novo concurso por um valor superior. Admitamos que o valor passará para 1,3 milhões de euros.
A minha dúvida é: como é que a empresa a que foram adjudicados os trabalhos nos últimos três anos podia prestar um serviço de qualidade, parecendo que o valor que recebia era manifestamente insuficiente. A Carris pagava 995 mil euros, e, de um ano para o outro, o serviço vale mais de 1,2 milhões de euros, provavelmente 1,3 ou mais milhões de euros. Esteve a empresa prestadora do serviço disposta a perder centenas de milhares de euros por ano? Ou, porque o valor não era suficiente, fez algumas economias na prestação do serviço? Gostava de ver esclarecido este ponto.
O Moedas está sempre na televisão a gabar-se do que faz e, especialmente, do que não faz. Devia ter sido homenzinho e ter estado hoje ao lado do presidente da Carris, empresa tutelada pela Câmara, e assumir a responsabilidade política.
O Marcelo veio dizer que era preciso apurar rapidamente a responsabilidade por esta tragédia. Concordo. O problema é quando se apuram as responsabilidades para nada, ou seja, apesar de conhecidas, ninguém as assume -- e o caso da Saúde tem sido sobejamente paradigmático disso, com a agravante de isso acontecer perante a conivência de Marcelo.
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