Andámos a cortar uma trepadeira que estava toda desconforme, saída dos eixos por via do Martinho, ensarilhada em tubos relacionados com painéis solares. O meu marido, naquela sua de Rambo que leva tudo à frente, queria cortar pela base. Eu, mais para Cinderela, amante dos desvalidos mesmo que os desvalidos sejam trepadeiras desaguisadas, quis preservar, encaminhar. E assim se fez, ele contrariado, eu insistente. Isto logo a seguir ao Martinho. Mas Cinderela que é Cinderela tem coração bondoso mas não é burra. Por isso, depois de ver que a coisa não levava jeito de todo, com o coração sofrendo, condescendi. Que se fizesse a sua vontade.
Assim, depois do ginásio, ele no escadote, eu tentando ainda salvar alguma coisa, lá fomos progredindo no entendimento. Eis senão quando desaba um violento aguaceiro. Não dei o braço a torcer e ele também não. Ali, debaixo de chuva, lá fomos andando, andando, corta daqui, corta dali, e mais daqui e mais dali. No fim, os dois ensopados, restou um pequeno pé de trepadeira que, com sorte, um dia voltará a rebentar e a dar as lindas florzinhas azuis que até há pouco embelezavam aquele pilar.
Mas quando, desolada, deitei os olhos ao céu tive uma alegria. Há uns meses andou aqui um brasileiro cheio de agilidade e de graça que fez o que o meu marido queria: desbastar ao máximo uma árvore linda que já estava a ir para cima do telhado, a fazer sombra nos painéis solares e a fazer correr o risco de dar cabo das telhas ou não sei o quê. Desde há um ano ou dois que o meu marido andava com essa fisgada e eu a dar luta. Mas tive que me render: era um facto que os painéis já mal apanhavam sol e já havia folhas a mais no meio das telhas. Mas pedi contenção no corte: só o mínimo indispensável. Mas o brasileiro, todo ele rico em metáforas e sem tempo a perder, para ali arranjou uma conversa que era de cortar tudo, uma carecada das valente. De outra maneira a árvore ficaria desencontrada, desequilibrada, desengraçada. Cortando ente, daí por uns dois meses estava toda cheia de folhas, que eu depois logo lhe contava se era ou se não era. Claro que, quando a conversa é cortar, o meu marido decide rapidamente: corte!
Mas os dois meses passaram, os três meses passaram, já lá em seis meses. E nada. Estou sempre a dizer: filho da mãe que me deu cabo da árvore. O meu marido, ar apreensivo, já dizia: tem calma, se calhar ainda nasce. Mas nada.
Ora bem. Hoje, depois de termos dado cabo da trepadeira, ao olhar para o céu -- não para invocar os deuses mas para ver se a chuva já tinha parado de vez, pareceu-me ver, na ponta de alguns dos ramos amputados, umas little coisinhas verdes. Hão de ser folhinhas. Fiquei feliz.
Mas, logo a seguir, tive a notícia de que tinha morrido o marido de uma conhecida e o irmão de uma outra. Fiquei assim naquela: caraças, logo dois de uma vez. É bem certo que isto da vida é uma brincadeira. Andamos por aqui sempre cheios de razões e opiniões e decisões e emoções e ilusões e esquecemo-nos que é tudo uma fantasia de curta duração. Não ficaremos cá para fazer o balanço nem para tirar teimas. Iremos também um dia. Só que a gente se esquece e, por isso, quando recebe estas notícias, fica assim a modos que meio desamparada. Lá transmiti os meus sentimentos e coisa e tal mas estava com vontade de dizer que não era nada demais, que a vida é mesmo efémera, que hoje foram eles, amanhã seremos nós. Mas não disse, não quis ser mal interpretada.
Portanto, coração ao alto.
Mas é bom dizer isso mas o pior é ser capaz de o pôr. É que entre debates e as cavaladas do Trump (e do Putin e do parvalhão de Israel e de todos esses malucos) uma pessoa mal consegue ter ar limpo para respirar.
Só que isto que está a passar-se nos States vai para além de tudo o que é razoável pois é pôr os destinos do mundo nas mãos de um ignorante, de um narcisista maluco, doido varrido.
Isto das tarifas seria de gargalhada se não fosse tão perigoso. Aquilo baseia-se numa fórmula matemática errada. Aplicando a fórmula correctamente, as tarifas seriam 4 vezes inferiores. Mas, independentemente da fórmula estar errada, é o próprio conceito e a própria 'jogada' que são erradas, anacrónicos, estúpidos.
Os vídeos abaixo são elucidativos. Acima de tudo, tudo o que ali se passa é estúpido pois é mau para os outros e mau para os americanos.
E depois há o parvo do Musk, que tantas tem feito, tantas, todas tão parvas, e que, no fim de tudo consegue ser dos maiores prejudicados em toda esta macacada. Se pegassem nos doidos mais varridos do Júlio de Matos e os pusessem à frente dos Estados Unidos não fariam tanta porcaria como a que o Trump e companhia andam a fazer.
Paradoxos que um dia alguém explicará. Paradoxos consentidos pela democracia o que, em si, é outro paradoxo. E dos valentes.
'Could not be more stupid': Scott Galloway on Trump's tariffs
NYU professor and podcaster Scott Galloway tells CNN’s Anderson Cooper why President Trump’s tariffs are worse than those imposed nearly 100 years ago
Economist says there's a math error in the formula used to calculate Trump's tariffs
Crawling - The Lincoln Project
Elon Musk can't be trusted with rockets, drugs, video games, social media, or even his own children. He damn sure can't be trusted with your data.
The Lincoln Project is a leading pro-democracy organization in the United States — dedicated to the preservation, protection, and defense of democracy. Our fight against Trumpism is only beginning. We must combat these forces everywhere and at all times — our democracy depends on it.
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