O meu marido não lê poesia. Não lhe dá para isso. Poucas pessoas daquelas com quem me dou leem poesia. Creio que são pessoas demasiado pragmáticas, talvez habituados a uma vida apressada. Ou talvez não. Talvez não se deem tempo para o silêncio, talvez não se deem oportunidade de se apropriarem das palavras e as ajustarem ao seu corpo, à sua mente, ao seu coração. Quando leem um livro, procuram um enredo ou um ensinamento naquilo que leem. Não lhes apetece ler poucas palavras que, em si, pouco dizem. Não dão tempo a que as palavras se expandam para ocuparem espaço dentro de quem as lê.
Eu também nem sempre estou disponível para a poesia. E também sou muito niquenta. Muito do que se publica como poesia parece-me um disparate, quase uma afronta. Mas muitas vezes o problema é meu.
No outro dia li um livro de um poeta premiado. Fui lendo e ia pensando: 'Caraças? Mas o que é isto...?'. Parecia-me uma coisa vazia, sem sentido, sem beleza, sem apelo.
Há dias voltei ao mesmo livro. E dei-me tempo. Aquelas palavras falaram comigo. Li de outra maneira. Afeiçoei-me aos poemas.
E depois há outro aspecto, a forma como se lê (mesmo que em silêncio).
Quando ouço ler, também muitas vezes não gosto de ouvir. Um tom muito empolado, muito arrastado, muito forçado, a pretender a grandiloquência causam-me enjoo, sou forçada a desligar, não consigo ouvir. Uma pessoa que gosto muito de ouvir é a Helena Bonham Carter. Há entre ela e as palavras que escolhe ler uma simbiose virtuosa. Por exemplo, o poema abaixo. Que maravilha.
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