Queria que me olhasses nos olhos. Queria olhar-te nos olhos. Durante uns segundos. Talvez longos segundos. Até que não conseguíssemos despir-nos mais, porque toda a pele já tivesse sido arrancada, porque o teu olhar me queimasse, porque o meu me ardesse.
Olhar-te, olhares-me. Não é porque queira que uma luta de olhares resolva o que outras lutas não resolveram. Não sei porque é. Talvez queira adivinhar-te e, porque nestas coisas, deve haver reciprocidade, talvez queira que me adivinhes. Talvez queira que me contes. Ou que não seja preciso contares nada. Nem eu a ti. Talvez que seja como se nada do que aconteceu antes interesse. Porque tudo o que aconteceu fica zerado com um olhar.
Olha-me. Deixa-me que te olhe. Deixa que adivinhe as suas fragilidades, deixa que toque o nervo mais sensível do teu corpo, deixa que o meu olhar te anule as defesas e queiras chorar para que eu te perdoe, te console, te compreenda. E tu a mim. Deixa que o meu olhar e o teu não suportem mais a distância e exijam um abraço, exijam o fogo, a treva, o abismo.
Olha para mim. Toca-me com o teu olhar. Recebe toda a confiança e entrega-te todo a mim. Recebe-me. Sem condições. Não queiras nada de mim. Nada quero de ti. Quero apenas olhar-te, quero apenas que me olhes.
Quem és tu?
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Mais dois excelentes retratos, ambos focados no magnetismo e no mistério do olhar: a australiana Carol Foote fotografou The Pilgrim (série 'Faces of India') e o iraniano Alireza Sahebi fotografou Waiting (da série 'Contagion')
Jorge Palma, uma vez mais, deixa no ar a dúvida: Quem és tu, de novo?
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Desejo-vos um feliz dia de domingo
Saúde. Vida longa e feliz. Paz.
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