terça-feira, maio 24, 2022

Estender a roupa como deve ser
-- Um post para quem gosta de animais... e de sorrir... --

 

Dantes tinha máquina de secar roupa. Uma vez meti lá dentro uma coisa pesada (cobertor?) que ficou ainda mais pesada estando molhada e, com o peso, partiu-se a fita (ou a correia?) que sustinha o tambor. Pelo menos é o que me lembro de quando o técnico lá foi. Deu a explicação, disse que ia ver se arranjava uma peça, depois nunca mais dizia, depois disse que não tinha arranjado mas que ia falar com um colega a ver se arranjava, depois nunca mais disse... e fui-me habituando a prescindir dela.

Quando mudámos de casa, desfizemo-nos da dita cuja. Problema resolvido.

Mil vezes melhor secar ao ar livre. Há o trabalho de estender e apanhar mas é uma espécie de exercício e eo exercício faz bem. No campo, então, quando está vento e sol é uma maravilha, a roupa é como se levasse uma lavagem suplementar.

E gosto de a dispor certinha, direitinha. De vez em quando o meu marido, acelerado como é, começa a tirar a roupa da máquina e a estendê-la antes de eu chegar. Frequentemente tenho que retirar as molas e voltar a estender como deve ser. É que poucas coisas são passadas a ferro para além das camisas dele pelo que, se estender a roupa com 'preceito' (como diz a minha mãe), ela acorda seca e aprumada.

Mas uma coisa é estender a roupa de modo a não deixar marcas e outra é estendê-la artisticamente.

A artista russa Helga Stentzel, agora a viver em Londres, tem essa pontinha de graça que faz com que, com duas ou três peças de roupa, dê à luz toda a espécie de animais. Depois fotografa-os. E a gente fica a sorrir.








Desejo-vos um bom dia

7 comentários:

Armenio Pereira disse...

(madness is freedom : freedom is madness)

The body can't escape the cause-effect chain; it is doubtful that the mind can. But if it can, is the non-causal space the land of the non-sequitur?

(who wants to be free?
who wants to be insane?)

Arménio Pereira disse...

(allegories)

You do what you can to prevent, hasten or delay change; there's nothing one can do to prevent, hasten or delay change. Ultimately you want to rig change, unaware that change is subtly, then abruptly, managing you. The more you try to affect change, the more the change will have an impact on you. Change's a river, you're the margin: the margin tries to tame the river, the river wears the margin away; in time rivers move elsewhere, new margins emerge, old ones disappear.
Rivers make margins, only to erode them;
Changes make things, only to have them to fade away.

Arménio Pereira disse...

The human condition reduced to one single question:

- How far are you willing to go to ensure the next meal?

The - often tacit - answer to this question is the history of your life.

Um Jeito Manso disse...

Olá, K,

Trouxe o Tom Waits e isso é sempre uma escolha segura. A tristeza e o desalento das palavras dele têm tudo a ver consigo. Depois vêm os Beatles. Curiosa escolha, no contexto, mas percebo-a.

E nem sempre a condição primordial tem a ver com a procura da ter o que comer. Pode arriscar-se a vida por amor: à liberdade, ao outro. Não apenas por sobrevivência física. Pode arriscar-se por desfastio. Por cansaço.

Agora uma coisa lhe digo: eu mostro como pendurar aa peças de roupa com criatividade e graça pode transformá-las em inesperados animais. E o Caríssimo K. vai e mostra que não está nem aí. Poderiam estar flores, sombras, casas abandonadas, bolos artísticos... que a sua onda é outra. Não liga nem pitada de patavina. É peixe da fundura, gosta das águas escuras, densas, gélidas. Nada de borbulhar à superfície, não é?

Et pourquoi l'anglais?

Uma noite descansada, K.

Arménio Pereira disse...

"Para que os ramos atinjam o céu, dizem, as raízes devem descer ao inferno."
C.G. Jung (citação livre)

Estimo a sua referência íctica, dado o simbolismo religioso e místico associado ao mar e criaturas conexas.

De tod'os modos, algumas linguagens (e.g., o inglês) são melhores do que outras para abordar alguns assuntos (isto foi-me revelado num sonho há já algum tempo). E porque, hoje em dia, o quase integral do que penso, leio e escrevo é nesse idioma - e depois, dá-me a preguiça para traduzir.

Um Jeito Manso disse...

K.,

E, quando fala, fala em inglês? Ou não fala?

Vive preso em sonhos, enleado em pensamentos, no mais profundo silêncio no fundo do mar?

Ou, de vez em quando, intervala, estende a roupa, varre o chão, protesta em voz alta, conversa sobre o tempo e sobre coisas de nada? Usa vernáculo? Ri? Chora?

Ou apenas pensa, lê, escreve?

Nuno Figueiredo disse...

É danada...