sábado, abril 23, 2022

A história de João que amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém explicada ao PCP e a todos os que acham que a culpa disto é da Nato

 

A seguir à adivinha da velhinha que não quer atravessar a rua (a propósito da Ucrânia que luta até às últimas consequências porque não quer ser anexada à Rússia) hoje trago a quadrilha de Carlos Drummond de Andrade.
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
Da mesma maneira, a Rússia de Putin tem anseios imperialistas, quer reconstruir a União Soviética e quer começar por anexar a Ucrânia. É confesso e assumido. Putin o dia: a Ucrânia não deve ser um país independente. E a ideia é, a seguir, continuarem. Aliás, hoje já vieram publicamente confessar o que já se antevia, ou seja, que, a seguir, tencionam avançar para a Transnístria, certamente preparando-se para, acto contínuo, tentarem abocanhar outro estado soberano, a Moldova. Nem mais. E a seguir continuarão (se os deixarem) pois têm como objectivo não apenas reconquistar todos os países que antes eram países soviéticos como vir por aí adiante até toda a Europa lhes estar no papo, formando a sua tão almejada Eurásia. 

Esta é a história.

Nesta história não entra a Nato. 

A Nato não invadiu a Rússia, a Nato não atirou nenhum míssil para o jardim do bunker em que o cobardolas se esconde, a Nato não reagiu aos múltiplos desvarios da Rússia. 

A Nato -- até Putin ter invadido a Ucrânia e, uma vez mais, ter posto em prática a sua habitual forma de actuar, destruindo infraestruturas e despovoando as terras, matando ou obrigando a população a fugir -- não tinha entrado na história.

Mas entrou agora. 

Perante a ameaça real e brutal que é ter um bandido mitómano com um botão nuclear à sua disposição, a Finlândia e a Suécia já estão a ponderar e já pensam que o melhor é terem a protecção da Nato. Todos os países da Europa, gente na base da peace and love acordou para o perigo real que é haver um assassino armado até aos dentes com ogivas nucleares e mísseis intercontinentais e já decidiram reforçar o orçamento de defesa e cerrarem fileiras em torno da Nato.

Portanto, tal como J. Pinto Fernandes não tinha entrado na história e acabou a casar-se com a Lili que, na altura, nem amava ninguém, também a Nato, que não tinha entrado na história, acabará por sair reforçada.

A Rússia (se não acabar com o mundo antes) acabará humilhada, empobrecida e isolada. Pode até ser que Putin venha a ser o Joaquim da Quadrilha.

A Ucrânia será reconstruída e será um país próspero e feliz, mais unido e mais livre que nunca.

E, por cá, o PCP acabará (soterrado sob o desprezo dos portugueses) porque, no meio da confusão, não percebeu nada da história.

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NB: Quero com isto dizer que a Nato é uma santa instituição, onde ninguém peca, pecou ou pecará? Não, nem pensar. Não sei de nenhuma instituição assim. Nem a Santa Madre Igreja é impoluta (como sabemos, bem longe disso). O que digo é que, na história em questão, a da invasão da Ucrânia pela Rússia e a dos hediondos e irrefutáveis crimes por esta cometidos, a Nato não fez parte da história... até a Rússia forçar o mundo a reconhecer que é perigosa demais para ser deixada à solta.

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[Atenção às palavras de Fiona Hill, do minuto 8:57 até ao 9:09]

Ukraine: What life is like under Russian occupation

As Russian forces pound towns and cities in the eastern Donbass region of Ukraine with artillery, today a commander said Russia intended not only to take the east but also the entire south - potentially giving a route out to Transnistria, a pro-Russian enclave in Moldova.

Russia has already taken a large swathe of land in the south of Ukraine, including Manhush, Tokmak and Dniprorudne which have been living under occupation for most of the war.

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Um bom sábado
Saúde. Paz.

9 comentários:

Fernando Ribeiro disse...

Cara UJM,
A Rússia não tenciona invadir a Transnístria, porque já a controla. Isto mesmo é dito no texto da notícia do DN, que contradiz o título idiota e enganador. A Transnístria já está nas mãos da Rússia desde 1992, sob a forma de uma república separatista: https://pt.wikipedia.org/wiki/Transn%C3%ADstria. É uma faixa de território ridiculamente fina, mas que pode servir à Rússia como rampa de lançamento de um ataque à Moldávia independente, oficialmente chamada Moldova.

A Finlândia também está numa posição muito delicada. Já fez parte do Império Russo como grão-ducado, até 1917, e o Putin pode sentir-se tentado a abocanhá-la, até porque uma parte da Finlândia étnica e histórica, que é a Carélia, nunca deixou de estar sob domínio russo, como república integrante da Federação Russa. A Finlândia e a Carélia são duas partes de uma mesma nação, partilham a mesma cultura e as mesmas tradições, mas estão divididas pela fronteira russo-finlandesa. A Finlândia é independente (até ver) e a Carélia nunca foi.

Virando-me agora para a Ucrânia, lembrei-me há dias de que, há alguns anos, dei uma boleia no meu carro a três ucranianos. A boleia foi curta, de apenas cerca de 5 km, entre a Praia de Mira e Mira, e por isso não pude conversar muito com eles. Quando entraram no carro, eles trocaram umas palavras na sua língua, dizendo talvez qualquer coisa como: «Chega-te mais para lá um bocadinho, para eu caber». Talvez. Perguntei-lhes que língua era aquela.

- Russo - responderam-me.

Comentei que julgava que a Ucrânia tivesse uma língua própria. Responderam-me que essa língua existe, mas que na Ucrânia se falam duas línguas, ucraniano e russo, e eles falavam russo.

A conversa depois virou-se para a sua situação em Portugal, como imigrantes vindos da Ucrânia à procura de melhores condições de vida. Encontraram emprego numa exploração agrícola próxima de Mira. Aproveitaram o fim de semana para darem um passeio até à praia, mas estavam sem dinheiro para o regresso e por isso pediram boleia. E pronto, a conversa acabou, porque tínhamos chegado a Mira. Se não, eu talvez lhes perguntasse como era possível eles estarem empregados e sem dinheiro ao mesmo tempo. Então não recebiam salário? Fiquei sem saber. Despediram-se de mim no centro de Mira e agradeceram-me em russo:

- Spasibo.

Pronuncia-se "spassiba".

Ao que eu queria chegar, contando-lhe tudo isto, era: em todas as ocasiões eles identificaram-se como «ucranianos», só «ucranianos», e não como «russos», «russo-ucranianos», «ucranianos falantes de russo» ou outra coisa qualquer. E chamaram «Ucrânia» ao seu país.

Segismundo disse...

«O PCP condena todos os actos criminosos, incluindo em cenário de guerra, que tenham ocorrido ou ocorram em solo da Ucrânia, do Iraque, do Afeganistão, da Líbia ou de outros países. As notícias difundidas a partir dos centros do poder ucraniano e ampliadas pela máquina de propaganda que tem rodeado a guerra na Ucrânia sobre os alegados “crimes de guerra” ocorridos em Bucha, bem como os desmentidos das autoridades russas indicando de que se tratou de uma operação de manipulação, não só são inquietantes como exigem cabal apuramento. A existência de comprovados exemplos em que determinadas situações apresentadas como verdadeiras se vieram posteriormente a confirmar falsas e baseadas em operações de manipulação exige o indispensável, cabal e rigoroso apuramento das situações relatadas, assegurado por parte de entidades efectivamente independentes, determinadas pela real avaliação dos factos e não por pré-determinados julgamentos ou objectivos que não contribuam para apurar a verdade. O PCP reafirma que o que se impõe é pôr termo à escalada em curso e contribuir para o cessar-fogo e uma solução política negociada para o conflito e que assegure a paz e a segurança colectiva na Europa». - Gabinete de Imprensa do PCP, de 6/4/2022» Aqui vai, para a "dondoca da guerra" ler e reflectir a posição do PCP. Pergunto à dondoca e a todos os hipócritas que por aí abundam, onde é que está a dúvida?





aamgvieira disse...

O Sr Segismundo deve ser da "familia" do Vasco Gonçalves ou do Rosa Coutinho.....

A.Vieira

Segismundo disse...

Por acaso já perguntei a aamgvieira se nasceu em Vimieiro, Santa Comba Dão, Viseu, e descende de algum afilhado do seu tão querido professor doutor Salazar. Não confunda alhos com bugalhos. A mania de somente lerem revistazinhas badochas leva-vos a essa hemiplegia cuja visão não ultrapassa um raio de 2 metros. Com esta infeliz guerra, que deve ser criticada e denunciada sem reservas ou ambiguidades, as dondocas caíram na real e ficaram a saber que na guerra se mata e se cometem as maiores barbaridades. Que diabo, já assim era na guerra do Peloponeso! Vá, vá lá, abra a TV Guia na página das futilidades e delicie-se com o último folhetim das cebolas reais que sabem a alecrim e fizeram chorar um caracol que, entretanto, passeava pelas bordas de um alguidar, enfeitado com barquinhos e folhinhas de hortênsias. Bem haja.

Um Jeito Manso disse...

Olá Fernando, bom dia,

Já corrigi o texto pois, na realidade, não estava preciso. Obrigada.

Gostei de ler sobre os ucranianos a quem deu boleia. Apesar de longe do seu país (e tantas vezes não sendo muito bem tratados por cá) continuam fiéis à sua nacionalidade. São ucranianos e ponto.

Saúde. Um bom sábado, Fernando.

Um Jeito Manso disse...

Segismundo,

Vá lá, confesse, V. tem um fraquinho por mim, não tem...? Conte-me tudo.

E, já sabe, não me incomoda nada que me chame dondoca. Acho até carinhoso da sua parte.

A modos que parafraseando o outro senhor, quando o leio, até quase me vejo como a 'Dondoca Batista pronta para a guerra'. Não tivesse a roupa para estender a o almoço para fazer e até lhe dava o devido troco. Assim, não leve a mal, mas tenho mais que fazer.

Saúde.

aamgvieira disse...

Sr.Segismundo, ...deve andar a fumar putinnabis. Misturada com louro prensado...

No tempo do botas a UN era um "must" para si !

A.Vieira

Paulo B disse...

UJM,

Já não vou dar para este peditório de que "o pzp apoia o Putin mas não o quer dizer" (não obstante achar que têm posições erradas, esta narrativa do apoio é injusta e alimentada pura e simplesmente a um ódio incompreensível - especialmente "à esquerda", mas é o que é).
A minha questão é "mais simples": qual é mesmo o caminho para acabar com este conflito? E quais são mesmo os objetivos em acabar com o conflito? Curioso que não vejo ninguém preocupado em discutir isso. Dá jeito manter esta narrativa do bem contra o mal e os ucranianos lá entretidos a dar o corpo às balas - no nosso humanitarismo a coisa resolve-se (mas não sem menos vidas) com mais armas, como bem o Presidente ucraniano pede e nós batemos palmas sem um quê de remorso. São heróis! Estão a dar a vida... pela deles e pela nossa.

Nos corredores do poder discute-se muito lentamente as pequenas acções... Sanções com jeitinho que não se pode perturbar a ordem financeira como a dos offshores e afins, corte na compra de produtos energéticos? no médio / longo prazo... É que não podemos prejudicar muito o bem estar das nossas sociedades... Para mais se os ucranianos até estão dispostos a morrer aos pouquinhos.... Porque não irmos devagar devagarinho?

Será que a Rússia irá conseguir "ocupar" a Ucrânia? Destruir e matar? Claro. Ocupar? Muito difícil sem um qualquer apoio local: já viu bem o tamanho daquele país e a densidade populacional? Usar armas nucleares? Sim, para destruir. Para ocupar? Não dá. Para ocupar são precisas pessoas. E muitas. E uma burocracia e administração civil. Nem nas repúblicas do leste da Ucrânia conseguiram consolidar isso quanto mais.
O Putin está num atoleiro. E nós não nos importamos lá muito. Fazemos o papel de carpideiras enquanto durar o enterro.
Não há iniciativas diplomáticas sérias de ninguém. A ONU é irrelevante (que fixe, temos lá um português a fazer de rainha de Inglaterra!). A UE inoperante. E a Alemanha está paralisada pois sabe que abdicar do seu modelo económico de sucesso, de uma economia exportadora assente num mundo aberto ao comércio, cedendo à pressão para adotar um modelo militarista (ou seja, desviando cada vez mais recursos para a componente militar) pode não só ser um erro irrecuperável para si como para a Europa como um todo.

Pelo meio, agora é o ucraniano comum que leva com as bombas, que dá a vida por mais este triste espectáculo. E em pt é o "PZP" o bombo da corte (como se fosse as idiossincrasias do PZP - para mais mal interpretadas muitas vezes - que interessam nisto tudo).

Abraço!

Anónimo disse...

" ... Quem justifica, legitima, favorece, protege o PCP com o seu discurso contorcido sobre a guerra? Os russos. Façam-nos justiça de perceber que nós percebemos. ..."
JPP in:
https://apropositodetudo.blogs.sapo.pt/por-favor-nao-desculpem-o-agressor-316699