Neste sábado, ao passearmos, a minha mãe voltou a dizer que 'esta gente' que provocou a queda do Governo -- e põe no mesmo saco PCP, BE, PSD e CDS -- é uma 'cambada de irresponsáveis'. Depois entristece-se, quase como se fosse ela a ser vítima de injustiça. Diz: 'Com o que este Governo tem feito, o que tem aguentado...Não há direito...O que eles têm lutado, o que têm penado... E agora o que estes aldrabões para aí andam a dizer... Não há direito... Para que são estas eleições? Uma vergonha.' para logo rematar, já enfurecida, naquele registo informal de quem sabe que o que diz à filha não é testemunhado por terceiros: 'Se estas bestas vêm outra vez para o poder, sempre quero ver. Já não basta o que fizeram antes... Alguma vez eles são capazes de fazer o mesmo que estes? Alguma vez...? Uma cambada! Nem quero pensar!'.
Quando se refere ao que 'fizeram antes', penso que se refere ao Passos Coelho; mas também pode ser ao Cavaco, que ela detesta. Não fala do Rio. Para ela, o Rio é apenas uma representação dos outros. Não o reconhece sequer como ser autónomo e capaz.
Não sonhando que as suas palavras seriam aqui reproduzidas, enfurece-se ainda mais ao falar do Bloco ou do PCP: 'Bandidos. Eles é que têm dado espaço para esse Ventura, esse porco. Nem consigo vê-los, quando aparecem mudo logo de canal. Bandidos.'.
Nunca, nestes anos todos, lhe perguntei em quem votava. Nem a ela nem ao meu pai. Mas creio que, em geral, terá sido no PS. Neste caso, agora, não há dúvidas pois di-lo explicitamente. Gosta muito do António Costa tal como gosta bastante da Marta Temida.
De resto, quer a minha avó quer o meu tio, irmão dela, sempre mostraram ter o coração devidamente implantado: à esquerda.
Um dos seus tios, irmão dessa minha avó, tio que eu ainda conheci quando era muito pequena, antes do 25 de Abril esteve preso e foi deportado creio que para São Tomé. Mais tarde, já por cá, viveu clandestinamente e lembro-me de o ver uma vez à noite em casa da minha avó e de o ter encontrado uma vez no mercado do peixe. Estava com a minha mãe e ela deu de caras com ele. Lembro-me de ter sido um encontro estranho, meio a correr e a disfarçar. Nunca se sabia por onde andava. Tenho ideia que morreu pouco antes do 25 de Abril pois a minha avó lamentava que aquele irmão não tivesse desfrutado a liberdade pela qual tanto tinha lutado.
Do lado dessa minha avó sempre foram uns resistentes e houve um primo da mãe dela que foi Presidente da República, uma pessoa da cultura.
Há pouco, ao chegar a casa, já tarde, liguei a televisão enquanto nos preparávamos para jantar (felizmente a comida estava já feita). Vi o Rio a aconselhar o Costa a acabar a sua vida política com dignidade. Senti um enjoo, um incómodo profundo.
Nem acredito que achem que o Costa tem governado bem o País e, por qualquer enviesada razão, vão votar noutro qualquer, abrindo a porta para o Rio, para o Chicão, para o Ventura.
Não acredito.
Só espero é que quem pense que a melhor solução para o País passa por ter um governo liderado por António Costa se chegue à frente e o afirme a plenos pulmões. E vote. No PS.
Eu, pela parte que me toca, é o que aqui estou a fazer. Vou votar no PS e creio que praticamente toda a minha família mais directa vai fazer o mesmo. Nenhum de nós é filiado. Nem somos de ir a comícios, arruadas ou coisas do género. Mas concordamos numa coisa: nenhum outro partido tem mostrado a sensatez, a abertura de espírito, a visão de futuro, preocupações humanistas e intergeracionais, espírito inclusivo, apetência cultural, capacidade de pôr o país a crescer assente num equilibrado modelo económico, no poder da educação e do desenvolvimento científico e tecnológico, sempre com sentido de Estado e pés na terra como o Partido Socialista. E reconhecemos António Costa não apenas como um competente e digno líder socialista como um excelente governante.
Espero muito sinceramente que ninguém fique em casa nem vote com os pés: vamos votar e vamos votar com a cabeça. Se não queremos a direita, votemos em quem melhor lhe consegue barrar o caminho e em quem melhor governará o país: no PS.
17 comentários:
Olá, UJM. Subscrevo tudo quanto afirma em relação ao Partido Socialista e ao excelente António Costa - e à consequente necessidade de contribuirmos com o nosso voto, no próximo domingo, para que se mantenham à frente dos destinos do país (barrando ao mesmo tempo o caminho a esta direita horrorosa - "a cambada", na expressiva e sapientíssima classificação da senhora sua mãe).
António Costa, que considero o melhor primeiro-ministro desde o 25 de Abril, deu há pouco uma notável entrevista na CNN. Começou às 23h13 e durou apenas 15 minutos, mas foi tempo suficiente para que ele conseguisse expor, com a maior clareza, as profundas e importantíssimas diferenças entre o seu programa e o do PSD (a parte que se vai conhecendo deste).
Ficou também patente a diferença abissal entre António Costa e Rui Rio. O primeiro é culto, honesto, humanista e competente - um verdadeiro estadista. O segundo é errático, incoerente, escorregadio, inculto, pouco confiável e de qualidade técnica mais do que duvidosa (a sua receita para o crescimento do país é anedótica; dá a impressão de que nem sequer leu - ou, se leu, não entendeu patavina - o livro mais básico para economistas, o velho manual do P. Samuelson).
A seguir à entrevista, até aquele puto convencido, o sebastião bugalho (analisado por si a 15 de Janeiro p. p.) se referia favoravelmente ao entrevistado, chamando ao mesmo tempo a atenção para as sombras que pairam sobre o famigerado "programa" do PSD (a tal parte oculta, ou semi-oculta, que, se aplicada, faria a desgraça de muita gente). Até o puto das direitas vê em Rio uma fraude, imagine-se! Se calhar levou os tais tabefes de correcção...
Rio faz-me lembrar cada vez mais uma famosa personagem daquela banda desenhada do Lucky Luke - precisamente o jogador batoteiro, com os bolsos e as mangas a abarrotar de cartas escondidas, que ele ia deixando cair em seu redor ao mínimo movimento. É um prestidigitador, mas um prestidigitador perigoso.
Nenhum verdadeiro democrata, interessado no progresso e na liberdade deste país, pode deixar-se ficar em casa no próximo dia 30. Eu lá estarei, com toda a minha família. Para votar PS, obviamente. Tenha uma boa noite e uma óptima 4.ª feira.
O Morricone é daqueles que nunca devia morrer.
Olá querida Amiga,
Texto brilhante que reflecte o meu pensamento.
Continuo a lê-la fielmente todos os dias.Admiro a sua coragem e a sua lucidez.
Um grande abraço.
Alvaro de Castro
As suas palavras, sempre sábias, oxalá abram as mentes a muitos que ainda estão indesisos. É sempre um prazer ler o que escreve.
Daqui envio um grande beijinho para a sua Mãe!
Conclusão (minha):
Em Portugal Só existe "verdadeira" democracia na esquerda. O resto são fascistas ou "aparentados"...
Grande "Albânia" da UE, a "mão....zinha"....que afaga os egos & as respectivas bolsas......
A .Vieira
Resposta rápida a A. Vieira,
Não, não existe apenas democracia à esquerda. O que não existe à direita em Portugal é competência.
E se à falta de competência juntarmos a visão 'pequenina', antiquada, revanchista e, em alguns casos, caceteira da actual direita em Portugal, facilmente chegaremos à conclusão que, por cá, neste momento, não temos gente capaz de governar o País à direita.
Não concorda?
Infelizmente concordo consigo, mas Sócrates e Costa nunca foram fiáveis........
A.Vieira
Olá de novo, A. Vieira,
Discordo de si, naturalmente. O País deu significativos saltos qualitativos com ambos.
Não obstante isso há uma coisa que penso que temos que ter em mente: quando escolhemos um 1º ministro não estamos a escolher um 'melhor amigo' ou um marido para as nossas filhas. Estamos a escolher alguém que governe bem o País e nos represente condignamente fora de portas. E isso deve estar bem claro nas nossas cabeças.
Neste caso, temos que equacionar qual será o melhor 1º ministro neste momento para Portugal: Costa? Rio? Jerónimo? Catarina? Chicão? Ventura? Rui Tavares? Inês Sousa Real?
Se achamos que, de entre estes, não há nenhum mais competente para governar bem o país e nos representar externamente do que o Costa, é no Costa que devemos votar. Não deve haver outro critério pois é isso que está em jogo.
Fora disso, nas conversas em família ou entre amigos, nos faces & instas, nos blogs e por aí podemos ter estados de alma, chiliques, desabafos, lágrimas e suspiros. Mas, no momento de votar, não deve haver nada disso, apenas racionalismo.
Caso contrário, se votamos como se estivéssemos a escolher um tipo simpático ou a dar uma lição a A ou a B, arriscamo-nos a acordar com o país a andar para trás e a envergonhar-nos todos os dias.
Não concorda comigo?
Vá lá... diga que sim...
😀😀!!!!!
A.Vieira
Assim, sim, A. Vieira. Assim é que a gente se entende. 😀
É muito provável - mas não garantido - que, no domingo acabe a votar PS. Não por convicção mas apenas porque, não desejando a direitalha de regresso ao poder, é um caso de voto útil quimicamente puríssimo. Os "outros" não apenas seriam inúteis, como BE, CDU, PAN ou Livre estão longe de conter a massa crítica necessária para escourar um governo. Mas faço-o sabendo perfeitamente que não é, de todo, impossível que o meu voto vá acabar incinerado num matrimónio PS/PSD.
Dizer "nenhum outro partido tem mostrado a sensatez, a abertura de espírito, a visão de futuro, preocupações humanistas e intergeracionais, espírito inclusivo, apetência cultural, capacidade de pôr o país a crescer assente num equilibrado modelo económico, no poder da educação e do desenvolvimento científico e tecnológico, sempre com sentido de Estado e pés na terra como o Partido Socialista. E reconhecemos António Costa não apenas como um competente e digno líder socialista como um excelente governante" - e o Cabrita?... e o tolo incapaz da Educação?... e a inexistência ministerial da Cultura?... e as alíneas do(s) orçamento(s) espertalhonamente "cativadas" apesar de aprovadas?... - é uma manifestação de "boa vontade" muito para além da minha (inexistente) fé.
Como diz o outro, "vamláver"...
E, já agora, um tema de meditação: https://lishbuna.blogspot.com/2022/01/depois-de-varias-semanas-de-debates.html
...Olá, olá... Pois é como a mãe diz. Eu penso até que a mãe, como todos os que recebem pensões deviam saber que só o voto na ESQUERDA/PS pode assegurar a tão necessária estabilidade nestes anos!
MAS TEMOS DE IR VOTAR, CARAMBA!...
Olá UJM
Subscrevo todo o conteúdo do seu post e da resposta ao comentário, como sempre, lúcido e corajoso. Espero bem que o povo, no domingo, tenha a necessária lucidez e inteligência e não nos precipite numa situação como a que vivemos nos infelizes anos de Passos/Portas.
Um abraço da Filo
Respeitosamente,
um beijinho para a sua Senhora Mãe, que muito o merece.
Sim, concedo que os governos PS (inclusive os de Sócrates) tiveram aspectos positivos - especialmente porque comparados com os desastres dos governos de direita que os intercalaram... Estes últimos governos PS seguem a mesma linha, mas não há como ignorar as imensas áreas onde a governação se resume por uma valente estupidez. Mesmo olhando para A. Costa e não perceber a "manha" que tantas vezes teve na condução política (como o enxotar do Seguro...), a sua por vezes visível inapetência para campanhas eleitorais na rua (aquele discurso do gado em Vila do Conde foi de bradar aos céus!) ou o seu tacitismo manhoso (tem sido claro que quem pretendia estas eleições era mesmo A. Costa - ao contrário da narrativa que o PS vendeu e que muita gente do PS, incluindo a UJM, aceita piamente.
Mas vejamos: o melhor momento para tentar a maioria absoluta era este. Estamos a sair da pandemia e a entrar num novo ciclo económico, para mais com dinheiro fresco e em grande quantidade a chegar. Se analisarmos vários pontos programáticos do governo é óbvio que a ideia inerente ao "virar da austeridade" que suportou algumas parcas concessões à esquerda (aumento de pensões, de salário mínimo, de passes de transporte, de manuais escolares - que mais concedeu à esquerda?) obviamente que essa fase chegou ao fim para o governo e o PS e que no seu entendimento agora deve seguir-se a fase da prioridade à economia - entenda-se despejar € nas empresas (e não nas pessoas). Ora, esta prioridade é está em linha com o PSD e entra em choque com a esquerda que, naturalmente, considera que este é o momento sim de diminuir a precariedade nas relações laborais, reforçar a proteção social e reforçar os serviços públicos numa perspectiva de propriedade e prestação pública (e não de parcerias com privados, como inclusive o PS sempre promoveu e pretende promover). É portanto um momento de definição em que A. Costa tinha de forçar as eleições - e nisso A. Costa esteve bem, porque uma situação de rutura em lume brando ia ser mais prejudicial para todos, para a esquerda, mas também para o PS (o homem tem pulso político, sem dúvida...). Agora é tempo de se decidir que projeto se quer para o país. Sendo que o PS apresenta uma versão social democrata da velha guarda e o Rui Rio um projeto um pouco mais liberal e conservador. Não julgo as opções do eleitorado, nem da UJM, nem do João. Só não reclamem que o PS apresenta um programa de esquerda. Não. É um programa social democrata. Um programa social democrata que ainda assim permite algum apoio potencial à esquerda e que beneficia do facto de o partido que se diz dessa família estar a fugir desse lugar.
Bom voto! Será seguro. Estarei numa mesa a receber-vos de bom grado!
Olá a Todos,
Passa das duas da manha e só agora acabei de escrever o meu post de hoje.
Como daqui a nada tenho que estar a pé, já não consigo mesmo responder a cada um de vós, apesar de muito me apetecer.
Não apenas gostaria de comentar as vossas palavras como gostaria (muito) de deixar um abraço a alguns que já não 'via' há algum tempo, estimadíssimos amigos. Mas já não consigo mesmo... Desculpem-me.
E muito obrigada.
[Claro que agora, ao vir aqui agradecer, vi o comentário do Paulo que me deixou em pulgas... Está mesmo a pedir uma resposta... Só que, se me ponho a responder, entusiasmo-me e daqui a nada está o despertador a tocar...)
Uma boa quinta-feira a Todos!
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