sexta-feira, dezembro 31, 2021

Gostava de dizer que o 2022 vai ser como o Tiririca, ou seja, que pior do que está não fica

 



Sempre pensei que do Abril transacto a coisa não passaria. Afinal estendeu-se pelo verão. E eu aí já não antevi coisa nenhuma, limitei-me a desejar. Afinal passou o Setembro, veio o Outubro e eu já sem saber o que pensar. Pelo sim, pelo não, mantive-me céptica. 

Um dia cheguei a um espaço muito lindo, muito eco, muito vip e estavam lá umas centenas de pessoas. Parecia um filme de antes. Tudo na maior, sem máscara. 

Sentei-me perto da porta e não quis saber de seguir as maiorias: mantive a minha. Logo alguns gozaram comigo: ''Atão...? Não me diga...  com medo...?' Disse que sim, que tinha medo. Assumo as minhas fraquezas. Mas depois pensei que, na volta, a coisa, a pandemia, já tinha acabado e eu é que não tinha dado por isso.

Ao almoço, uns dez em volta de uma mesa redonda. Obviamente sem máscara. Tudo na maior conversa, tudo na maior risota, todos contentes por estarem juntos em volta da mesa. Eu incluída. Ao meu lado, um amigo que se debruçou sobre mim e me disse: 'Já acabou o covid, já viu...?' Tive vontade de lhe dizer que não é o covid, é a covid. Mas deixei-me de picuinhices e limitei-me a dizer: 'Pois, já vi. Não sei é se a notícia da morte do bicho não é prematura'. Ele disse, ar preocupado: 'Também acho... mas já viu? Tudo à vontade...'. Ele também. Quero dizer: ele também à vontade.

E acabou Outubro e veio Novembro. E veio Dezembro. E o Dezembro está quase no 'já era'. E a coisa não acabou. Pelo contrário. Números nunca vistos. Uma onda a subir a pique, contágios e mais contágios. É certo que parece que é menos grave. Mas quando a base é tão extensa, qualquer percentagem dá números grandes.

Por todo o lado se sabe de casos. Equipas incompletas, trabalhos suspensos, planos trocados. O ano está a acabar e estamos nisto. Sem sabermos bem o que fazer, sem sabermos bem o que esperar.

Uns defendem que se deixe o bicho andar à vontadinha a ver se se cansa. Outros dizem que estão é malucos os que tal defendem pois os hospitais iriam ficar a deitar por fora, ou seja, muitos doentes ficariam por tratar. E uns dizem que a omicron pode ser o princípio do fim mas outros dizem que sabe-se lá se atrás da omicron não virá outra variante que da omicron boa fará.

Portanto, estou com a Graça Freitas: os tempos são de incerteza. E prognósticos, como dizia o outro (não sei se o escorraçado divino, se outro qualquer), só no fim do jogo.

Há também as eleições que daqui a nada estão aí. 

Estou em crer que os portugueses -- que tantas vezes parecem parvos -- burros não são. 

Hão-de perceber que o mangas de alpaca é um videirinho viciado no diz-que-não-disse. É que a gente sabe bem que ele disse-aquilo-que-diz-que-não disse. A malta há-de perceber que aquilo ali é um tangas encartado. Um troca-tintas. Melhor que o Rangel, honra lhe seja feita mas, ainda assim, um bocas. Pouco credível, muito pouco credível.

Mas, nestas coisas, não arrisco palpites. Jogo na prudência. É que, nestas coisas, há sempre os que fazem o pleno: são, ao mesmo tempo, parvos e burros. Esses irão votar no Chega. Gostava que não fossem mais do que 2% dos votantes mas, sei lá, ele há coisas... Há os que se cansaram do CDS, que aquilo ali já era, não passa de casca vazia. Há os que se desiludiram do BE, populismo sim mas com alguma coerência. E há os que dizem que estão fartos de dar para o peditório do PCP. E há, bem entendido, as laranjas mais podres do que as outras. Toda essa tropa fandanga junta, dizem as sondagens, soma, à data de hoje, a desgraça de uns preocupantes 7%. Portanto, sei lá.

De uma maneira ou de outra, as eleições hão-de sempre mostrar o tiro no pé que a decisão do Marcelo foi. Tal como o foi também o acto falhado do BE e do PCP ao darem o braço ao PSD, CDS e Chega. Tiros nos pés. Para alguns, tiros na cabeça.

Mas, lá está, não faço ideia no que as eleições vão dar. Sei o que eu gostava que dessem mas não tenho peneiras de acreditar que os astros se vão alinhar só para me agradar.

E depois há mais uns quantos imponderáveis: os frios, os calores, as chuvas, as secas, os ventos, os actos de deus, les force majeures.

E tudo o mais.

Mas uma coisa é certa: aqui já chegámos. 

O 2021 já ninguém nos tira. Bom ou mau, já cá canta. Essa é que é essa. E o que o vem enterrar pior que este não vai ser. Chamem-me optimista, chamem-me aluada, chamem-me simplesmente maluca. Não quero saber. Acredito porque acredito que pior que o 2021 o 2022 não há-de ser.

E agora até me lembrei do Tiririca que dizia que, com ele, pior do que tá não fica.

E é isso aí. 


Há pior que isto...?

Tudo o que venha a seguir só pode ser melhor.
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As colagens são da autoria de um arquitecto turco cujo nome não descortinei
Lá em cima Mel Brooks goza com o Hitler
E se nada tem a ver com nada, melhor ainda.
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Por isso, vá de começar a enxotar o ano velho a ver se, com o novo, nos chega alguma coisa melhorzinha.

Desejo-vos um belo dia
Saúde e sorte. E alegria.

6 comentários:

Monteiro disse...

O Toni fez sempre o que quis e mandou sempre os amigos dar uma volta, andava de braço dado com os inimigos e agora que os amigos se chatearam agora eles é que têm a culpa da desgraça que aí vem. Ainda vai ser pior do que com o outro, estão-lhe cá com um pó, já devem tudo prontinho...

a kullervo disse...

As mankind descends into madness, those striving for sanity get drawn closer and closer to hell; welcome to the Unavoidable: everything - and everyone - serves The Everlasting Dissatisfaction.
My humble advice to the sane: enjoy what you do; bear in mind you will have to let go.
In 2022, may serenity come your way / ataraxia be in the stars for you.

Cloud - River - Lake (radical acceptance)

Enquanto a humanidade se afunda na loucura, os poucos que resistem são arrastados para o inferno; bem-vinda ao Inevitável: tudo - e todos - servem a Perene Insatisfação.
Para os probos, um humilde conselho: ama o que fazes, sabendo que terá um fim.
Que a serenidade te acompanhe no novo ano / ataraxia esteja no teu destino.

aamgvieira disse...

Um feliz 2022 e que nunca lhe falte a boa escrita, mesmo que a sua candeia para Portugal seja o.....chamuças !.

A.Vieira

Um Jeito Manso disse...

Olá Monteiro,

Presumo que o seu Toni seja o do Benfica pois se fosse o Carreira creio que seria Tony. Mas percebo pouco de futebol para poder pronunciar-me sobre a sua opinião.

Saúde. Feliz Ano Novo!

Um Jeito Manso disse...

Kullervo! Olá!

Fiquei feliz por revê-lo. Gostei muito de ler o seu comentário. Sinto falta dos seus comentários que vêm sempre com presentinhos dentro (e que me deixam sempre a pensar).

Muito obrigada pelo que escreveu.

Um ano bom, tranquilo, com saúde, com boa sorte, com afecto, com motivação para seguir em frente, aprendendo, descobrindo (e também... com ataraxia, claro).

Um abraço, A. Kullervo. Volte sempre.

Um Jeito Manso disse...

Olá A. Vieira,

Muito obrigada.

E saiba que gosto mesmo de chamuças, sejam de carne, sejam de vegetais. Gosto imenso do tempero indiano, nepalês, etc.

Não gosta?

Prefere laranjada de pacote? Conte-me tudo.

E saúde, sorte, força. Um feliz 2022!