quinta-feira, setembro 03, 2020

Felicidade: o poder das pequenas coisas





As férias grandes este ano são curtas. Mas o dia de hoje foi um dia grande. Pelo dia em si e talvez também por ser um dos últimos dias de férias (este ano apenas são dez), foi não apenas grande como muito bom.

Fomos outra vez à praia de manhã e a minha filha e os meninos juntaram-se-nos. Areal extenso, mar lindo, bom tempo. Para o almoço juntou-se-nos o meu filho e respectiva família. A reunião é sempre motivo de alegria para todos e, em particular, para os meninos que se adoram. Ele trouxe frangos assados, arroz e batatas fritas. Antes, vindos da praia, eu e o meu marido passámos pelo supermercado e trouxemos sumos, pães variados (e se os havia bons) e gelados. Fruta e salada havia em casa. A minha filha trouxe um bolo que fez à noite. 

Portanto, mesa grande sob o toldo, cercados por buganvílias em flor. Conversa sempre animada, os meninos sempre em festa. Até me apeteceu cantar os parabéns a você mas ninguém achou que viesse a propósito. Só o bebé, que disse logo que apagava as velas.

Depois, uns em teletrabalho, outros em férias, os meninos na conversa, na partilha de informação sobre vídeos, sobre jogos, a andar de balouço, a brincar, a tarde foi decorrendo na maior tranquilidade. O jardim transmite serenidade, é muito verde, muito acolhedor. Estamos nele e sentimo-nos em paz, longe de qualquer mal.

Mais para o fim da tarde, o meu filho saiu com a criançada toda para um passeio de bicicleta. É uma coisa bonita de se ver. O bebé vai na cadeirinha da bicicleta do pai. Os outros quatro, cada um na sua. Todos de capacete. Um bando animado e colorido.

Passado um bocado, talvez mais de meia hora, não sei, passaram por casa para beber água. Cada um deve ter bebido um litro de água. Vinham encalorados, divertidos. E lá foram de novo. Passado um bocado regressaram, um dos ciclistas tinha dado cabo de um joelho. Mas, valentão, suportou bem a lavagem e tratamento. Depois foi o lanche. Iogurtes, sandes, pães de deus, sumos, bolo.

E estivemos a ver fotografias de cães que estão para adoptar. Já estamos nesta fase. Depois de, durante anos, eu ter jurado que não voltaria a afeiçoar-me a um cão para não passar pelo desgosto de que ainda não me recuperei quando a nossa canita se foi, já estou convencida a voltar a ter outro. Não sou muito de fiar nestas minhas juras -- é o que se conclui. Estou convencida... mas é um convencimento condicionado. Em abstracto, parece que já percebi que sim, voltarei a ter um amigo daqueles que é tão verdadeiro que tudo farei para nunca o decepcionar mas, em concreto, ainda me custa dar esse passo. Voltar a ter um cão a quem vacinar, tratar, que vai fazer disparates, na volta buracos na relva, necessidades onde não deve, de que não teremos vontade de nos separar quando formos passear, que transportaremos no banco de trás do carro e que provavelmente deixará o carro a cheirar a cão... é daquelas para a qual parece que ainda não estou psicologicamente preparada.

E, quando foi da nossa boxer, havia uns criadores onde uns primos tinham comprado o seu e fomos lá. Tinha pedigree, estava registada, sabíamos de que tamanho iria ser, conhecíamos o seu temperamento. Desta vez decidimos que, a termos cão, será um adoptado. Portanto, não há raça, não há pedigree, na maior parte das vezes não se conhece pai e mãe, não se sabe como será em adulto (se adoptarmos um jovem). Eu não quero com pêlo grande para não encher tudo de pêlo, não quero caniche, não quero esganiçado, não quero tipo galgo ou desses estrelicados. O meu marido quer de porte médio/grande ou grande e que seja um bom cão de guarda. Olhamos para as fotografias e hesitamos. Eu hesito porque receio dar este passo. Ele hesita porque fica na dúvida quanto ao porte e características do cão quando adulto.

Os meninos ficam entusiasmados de cada vez que vêem qualquer um, só querem que o vamos buscar, não vêem a hora de andar por ali a brincar com um cão. E não percebem estas nossas dúvidas.

Depois o meu filho e família lá foram. A minha filha ainda continuou por mais um pouco. Andei a varrer a relva e um dos meninos a ajudar-me, outro a ler o livro dos cães, ela a aproveitar os últimos raios de sol e a ler. E depois também foram.

Eu, ainda de fato de banho, mantive-me a ler o Narciso e Goldbum enquanto os pássaros passeavam e cantavam por entre as árvores. E assim fiquei até que a luz começou a escassear.

Agora que aqui estou de regresso a esta sala clarinha e acolhedora penso que não é preciso procurar muito para encontrar a felicidade. Ela está nas pequenas coisas, na companhia daqueles que amamos, no prazer do contacto com a natureza. É certo que falo de barriga cheia. Quem não tem saúde, quem não tem trabalho ou dinheiro ou condições para viver condignamente não poderá falar como eu falo. Mas eu acredito que, mesmo na adversidade, se conseguirmos contar com a companhia e o apoio dos que nos são queridos, se formos capazes de dar valor aos momentos de luz, aos sorrisos, ao aconchego, então conseguiremos vislumbrar alguns instantes de felicidade. Ainda que breve, a felicidade faz bem à alma. Sentimo-nos bem a viver aquele momento. Parece que a nossa existência se justifica nem que seja apenas por estar a viver aquele bocadinho de vida.
A table, a chair, a bowl of fruit, and a violin; what else does a man need to be happy?– Albert Einstein
A quiet secluded life in the country, with the possibility of being useful to people to whom it is easy to do good, and who are not accustomed to having it done to them; then work which one hopes may be of some use; then rest, nature, books, music, love for one’s neighbors.  Such is my idea of happiness.– Leo Tolstoy
It was only a sunny smile, and little it cost in the giving, but like morning light it scattered the night and made the day worth living.– F. Scott Fitzgerald
Happiness is not something ready-made. It comes from your own actions– Dalai Lama
Happiness is a warm puppy.– Charles Schultz
The art of creating intimacy cannot be bought by anything but time, interest and engagement in the people around you.- The Little Book of Hygge: The Danish Way to Live Well, Meik Wiking
True happiness comes from the joy of deeds well done, the zest of creating things new.– Antoine de Saint-Exupery
Life is not a problem to be solved. Just remember to have something that keeps you busy doing what you love while being surrounded by the people who love you.- Ikigai: The Japanese secret to a long and happy life,  -- Hector Garcia Puigcerver
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Todas as fotografias são de Steve McCurry e ilustram o seu último post, Happiness: The Power of the Ordinary do seu Steve McCurry Curated, post do qual também transcrevi as citações. Tudo ao som de Debussy interpretando o seu Clair de Lune, coisa que me é algo especial.
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Um dia muito feliz

4 comentários:

Paulo B disse...

Olá UJM,

Se tem um quintal grande, um dos tipos de Podengos pode ser uma opção (são tão comuns nas terrinhas que são por vezes o sinónimo de rafeiro... ).
Existirão muitos para adoptar provavelmente. Mesmo não sendo designado de Podengo ( não tendo o Pedigree), o aspecto é indicador. Talvez nos locais para adopção na grande cidade não sejam assim tão comuns.
São muito vivaços e brincalhões. Excelentes vigilantes mas não violentos. E tem 6 tipos (porte pequeno, médio e grande versus pelo liso (mais do Norte) ou farfalhudo (mais do Sul / Alentejo).


https://pt.wikipedia.org/wiki/Podengo-portugu%C3%AAs

Abraço!

Estevão disse...

E já perguntaram ao jardim onde ele que ele quer o cão, ou melhor, onde é que ele não o quer ver nem pintado de verde?
Estou a ver um cão novo, em idade de brincadeira, a roer tudo o que lhe aparece pela frente, amiúde o caule das plantas. E a felicidade que se entrelaça tão bem com a simplicidade terá então uma prova dura. A alegria do jeco e da canalha, e lá se foram umas tantas plantas para o galheiro ..
https://siac.vet/

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Em termos de raças concretas tenho especial predileção pelos Pointers/Bracos/Perdigueiros.
Acho que ficam bem nos seus checks and balances, em janeiro passado consegui um no "Cantinho da Milú" (Palmela).

Um dia radioso.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Um Barco Alemão castanho.