terça-feira, agosto 18, 2020

Dias de esforço pré-desfrute





Bem. Na noite passada pouco mais do que três horas dormi. E trabalhei até vir a mulher da fava rica. Uma vez mais, tantas as solicitações inside que não consegui pôr o pé outside. A ficção estrangeira is done. Mas o sacana do D continuou a jogar às escondidas comigo até ao fim. Quando lá ia, do D.H.Lawrence só me apareceu A Virgem e o Cigano. Fiquei intrigadíssima mas pensei que, na volta, há uns anos teria levado o conjunto a apanhar ares do campo. Pois bem. Ia no Truman Capote, várias estantes à frente, abro uma caixa que dizia Virginia Wolf e Pack. Não percebi. E não é que o pack era um conjunto grande de livros do D H. Lawrence? Lembrei-me: como, na outra casa, a estante já não dava para as encomendas, peguei naquele conjunto de livres e, para libertar espaço, pu-lo numa outra estante. 

Portanto, ali estava aquele big conjunto...Como é bom de ver, tive que 'revisitar' tudo daí para a frente. Uma violência. 

E hoje à hora de almoço veio cá um habilidoso fazer um trabalho e, a cada passo, ia à rua fumar e empatou-me a tarde toda. Estive a trabalhar, a receber telefonemas, a receber e a enviar maisl e, in between, a responder a solicitações do cavalheiro que, se bem percebo, deixou o trabalho mal feito  e amanhã deve estar cá outra vez caído. Um pesadelo, isto.

Almocei uma sandes, de pé, na cozinha. Fiz, à pressa, uma com pão de beterraba e sementes, um resto de carne, tomate às rodelas, alface, orégãos e azeite. E tão bem que me teria sabido poder acompanhar com um sumo fresquinho de laranja. Mas zero. Portanto, água fresca e foi uma sorte.

A meio da tarde estava deserta de fome. Fui comer cajus e arandos e um pêssego. E foi o que houve até perto das onze da noite.

Amanhã mais uma dose de mudança. No outro dia deixaram para trás dois móveis grandes, daqueles que dão uma trabalheira a desmontar, a transportar e a montar de novo, candeeiros, espelhos e quadros. Portanto, vai ser outra devassa. Andam por todo o lado, mexem em todo o lado. Supostamente sempre de máscara. Mas, quando saem, mais uma daquelas secas: puxadores, interruptores, etc, tudo desinfectado, chão lavado. Trabalheiras em cima de trabalheiras.

Mas a casa começa a ganhar jeito. Já tenho alguns galos e galinhas na cozinha, já tenho os meus lindos ímans na lateral do frigorífico que tão bem foram embrulhados em plásticos às bolhinhas que não apareciam nem por mais uma. Até cheguei a pensar que o meu marido os tinha deitado fora. Vontade não lhe deve faltar. Mas não, estavam caídos no porta bagagens.

Ainda há bocado, enquanto eu tomava banho, o meu marido esteve a desmanchar caixas. Dezenas e dezenas de caixas que vão ficando vazias, umas para serem reaproveitadas para a última fase, aquela tralha e roupa remanescente para cuja escolha tenho que desencantar uma pachorra que neste momento não existe. Outras caixas são para colocar para reciclar. 

A minha mãe quase implora que eu não trabalhe tanto, receia que me aconteça alguma, diz que o stress não faz bem. Mas não me sinto stressada, enervada. Sinto-me é com pica para despachar serviço e ver se vejo a casa organizada. O meu marido diz que, com qualquer pessoa normal, uma casa como a nossa levaria quinze dias a ser arrumada. Não sei. Sei é que não suportaria o stress de ter a casa a cheirar a cartão e de não saber do paradeiro das coisas durante quinze dias.

E outra coisa de que agora me lembrei: no outro dia, um dos rapazes das mudanças, lendo a legenda da caixa para que eu lhe dissesse para onde devia ir, exclamou: 'Livros não livros'. Respondi: 'Não pode ser'. Ele releu a letra do meu marido e confirmou: 'Livros não livros'. Fui ver e ele, em peso, mostrou-me a caixa para que eu conferisse, de perto. Percebi, então: 'Ah, livros não lidos'. Lá está aquela permanente dúvida. E afinal não é apenas uma caixa, e das maiores: são muitos livros que não sei se por falta de tempo ou de quê ainda não foram ainda lidos e, por isso mesmo, se têm mantido à distância dos demais. E agora não sei se os ponha também segregados, confinados, ou se vá salpicá-los pelas estantes, perdidos no meio dos outros. Não sei, amanhã resolverei. 

E agora vou parar por aqui, estou só a adormecer.

Claro que, no meio desta azáfama, sinto falta de algumas coisas. Ando tão focada e absorvida nisto que pouco tempo me sobra. Mas há tempo para tudo e amanhã já cá devo ter a minha filha e miúdos, embora ainda apenas limitados ao jardim já que a casa vai continuar a devassa que se sabe. Já lhes pedi que regassem e apanhassem folhas secas. E para quarta feira já cravei o meu filho, para vir ajudar a montar as estantes que o ikea, se não voltar a falhar, entregará. Portanto, aos poucos tudo se acalmará e voltarei a ter tempo para os meus amores.

E é isto, vou dormir. Já mal consigo manter-me acordada e é o que se sabe: um vício, uma necessidade de um bocadinho meu, um gosto por escrever. Não sei. A ver se um dia destes arranjo um bocadinho para fazer uma ou outra foto para vos mostrar.

_______________________________________________________________

Fotografias de Nick Knight na companhia de Ry Cooder com Canción Mixteca
que nada têma  ver com nada
_____________________________________________________________

Dias felizes!

1 comentário:

Anónimo disse...

Só de a ouvir falar em mudanças, já estou a ficar com a cabeça almariada.
Ando a resistir ás investidas da minha mulher para pintar a casa. A desordem nos moveis e no que eles escondem, mais os livros, mais as roupas,mais não sei quantas coisas desarrumadas, perco a vontade para a ouvir o que quer que seja que ela me peça para fazer.Entro em apneia de diálogo conjugal.