quinta-feira, julho 02, 2020

Dia cheio in heaven.
Fico tão numa onda zen que até parece que a cena de o teletrabalho ser o novo normal é coisa que não me assiste...





Na terça-feira chegaram uns, na quarta chegaram outros. De tarde, todos juntos, ao jantar mesa cheia. À noite saíu o primeiro grupo, ficou o segundo. Mesa animada, casa buliçosa. Correm, brincam, gritam. Quando se viram, como sempre, os mais pequenos desataram a correr. A alegria fica à solta. Perseguiam-se, apanhavam-se, fugiam. Depois a brincadeira era a dos polícias a perseguirem os ladrões. Tudo descalço, o chão quente, cheio de caruma, folhas de azinheira, bolotas secas. Não sei como não se magoam. Até o bebé. De vez em quando ouvia-o a queixar-se 'uh... tá quente...' mas não abrandava. Às tantas vi os dois manos a levarem o primo do meio, cada um de seu lado. Levavam-no para a prisão. E ele ia de cabeça baixa, meio encolhido. Quando passaram por mim ia assim. Perguntei o que se passava, porque ia tão encolhido. Receei que se tivesse magoado, que o tivessem magoado. Responde-me ele: 'É para os da CMTV não me verem a cara' e lá foi. 

E é assim. Todo o santo dia me fazem rir. As saídas, o sentido de humor, a boa disposição, tudo neles me deixa bem disposta. E a alegria de os ver comer de gosto, todos a conversarem, todos felizes da vida, todos a gostarem de estar uns com os outros.


De todos os adultos apenas um estava de férias. Todos os outros estavam com calls, com mails, com ficheiros. Os pequenos entretêm-se uns com os outros. Só quando correm como uns doidos atrás uns dos outros e, de caminho, sobem para a minha cama, é que o avô se passa. Dá-lhes uma valente desanda porque não quer bagunça em cima da cama. Eu já me deixei disso. Não consigo persegui-los nem tenho voz para lhes gritar. Só consigo ameaçá-los mas nem aí consigo ser muito convincente. Hoje dizia-lhes que só se fizessem uma certa coisa é que tinham direito a um after-eight. Passado um bocado vi-os a segredar e logo um, muito decidido, foi a correr buscar uma coisa. Vi logo o que era. Zanguei-me e fui esconder a caixinha.

No fim do jantar, os dois do meio, cúmplices e sempre barraqueiros, saíram da sala e apareceram a fazer uma dança de morrer a rir. Enquanto estávamos na risota, já vinha um ver se resgatava os after-eight. Lá escondi outra vez. Mas aquilo para eles já era nova brincadeira: sacar os after-eight à Tá. Com o bebé sempre a imitar os mais velhos. Uma risota.

Bem.


Depois estive, outra vez, a ver pessoas que já não vejo há imenso tempo. As pessoas põem-se todas no facebook e no instagram. Não sei porque o fazem mas a verdade é que fazem. Umas que conheci todas giraças, são agora mulheres avantajadas, umas de cabelo todo branco, uma outra toda repuxada, outras irreconhecíveis. Eles, antes rapazes jeitosos e aventureiros, são agora homens de meia idade, ar instalado na vida. Apenas um, antes um folgazão, o focal point na organização de festas, convívios e outras cenas é que virou uma figura curiosa: ar truculento, de bon vivant. De resto, é tudo gente que me deixa a pensar que, na volta, também por mim o tempo passou. Se calhar, se me vissem, também eles diriam: 'Não! Não pode ser! Deixa cá ver. Amplia para eu ver melhor. Não... Não é possível...'.

Com isto tudo, deixei-me ficar, uma vez mais, à margem do que se passa no mundo. E, na volta, o melhor é isto: fazer de conta que não há mais mundo para além do que, por aqui, na boazinha, me vai tocando.

Agora espreitei o que o meu alter ego, o algoritmo do youtube, tinha para me sugerir. E lá está: um tema que me diz muito. Mas, da maneira que ando, isto do 'me dizer muito' é relativo. É como se fosse coisa óbvia que só os tontos não querem perceber.  Coisa que, apesar de tudo, ainda me traz alguns mixed feelings pois é coisa estruturante, coisa que deve ser pensada com a cabeça, com muitas cabeças em simultâneo, não com as emoções, muito menos com os pés.

© Alina Gross
Partilho convosco:

Covid-19: is working from home really the new normal?


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Mas, se este é tema que me assiste -- e muito -- e sobre o qual toda a gente deveria reflectir em profundidade (pois o que isto pode trazer ao ordenamento territorial, à demografia, ao ambiente, à saúde pública e etc, é tanto que só vários grupos de pessoas inteligentes e de múltiplos saberes pensando sobre isto poderão encontrar um caminho inclusivo, consistente e humanista), a verdade é que me apetece dizer que tá bem, já chega, e que quero é acabar o dia com um smile dos bons.


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PS: Os frutos pertencem à Vogue Espanha e a flor esandalosa à Vogue Alemã 
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E é isto.

Beijinhos, abraços e carapaus para o gato.

1 comentário:

tri legal ao vivo disse...

Bole posts meus parabéns. ;)
Tri legal ao vivo