sexta-feira, março 06, 2020

Mulher/es





Nisto do COVID-19 dá para ver a diferença entre homens e mulheres. Os homens gostam de se mostrar superiores a tretas, paranóias não é com eles, medo não têm de nada. Se alguma mulher diz que tem que se acabar com os apertos de mão ou com os beijinhos, eles riem, fazem chalaça, trocadilho ou graçola, como se ter cuidado fosse coisa de mulher, fosse mariquice, caguinchice, e, para anular o cuidado, há quem, jocosamente, pergunte se beijo na boca também faz mal. As mulheres, pelo contrário, preocupam-se com todos, querem prevenir, alertam, explicam, sujeitam-se às chacotas palermas deles.

Claro que há mais diferenças, mil diferenças. Por exemplo, nisto dos refugiados até dói. O que aqueles estúpidos homens, todos homens, fazem é de vómito. A humilhação, a indignidade, a falta de respeito com que aqueles milhares de pessoas são tratadas é de partir a alma. Homens sem cabeça, sem alma, sem coração, homens que se esquecem que são efémeros, homens que destroem a vida de milhares de pessoas. Homens.

São também maioritariamente homens os que dão gás à especulação financeira, são homens que, recebendo multimilionários bónus, levam os bancos à falência, são homens os reguladores que nunca detectam qualquer irregularidade, são homens que alimentam a indústria de armamento, são homens que inalam petróleo e se marimbam para o planeta, são homens que abrem e fecham fronteiras como se fosse despique de extremas entre vizinhos, são homens que fazem tiro ao alvo, sendo os alvos os refugiados. Não vejo mulheres aos comandos nessas situações. Não digo que as não haja, digo apenas que não as vejo.


Haverá excepções. Há homens que não são parvalhões, há homens que não são estúpidos, há homens que não são marialvas de meia tigela. Há homens que merecem o mundo. Que merecem o céu. Que merecem todo o amor do mundo.

Há pouco, a falar com a minha filha sobre isto e queixando-se ela do mesmo, dos valentões de plástico, dizia ela: 'Mas, se ficam doentes, é vê-los na mariquice'. E é. Conheço um que gosta muito de se armar em macho man. Quem o veja parece ele que não tem medo de nada e que é superior, mas superior lá muito em cima, a qualquer um (ou uma) que se mostre humano mostrando por vezes algum medo. Pois bem, se tem uma indisposição de caca fica para morrer, parece que está em risco de vida, liga para todos os médicos que conhece, faz mil exames, durante dias não fala de outra coisa. 

Muitos dos erros deste mundo devem-se a disparates masculinos: têm medo de dar parte de fracos, fazem de tudo para não arriscarem uma nega, não arriscam um gesto mais temerário com medo de que corra mal e, sobretudo, têm medo de ser confrontados ou gozados, medo que a sua imagem saia beliscada. Uns cobardolas sob a fina capa de campeões.

As mulheres são mais ousadas, arriscam mais, marimbam-se mais para a censura alheia, genuinamente preocupam-se mais com os outros.


Digo sempre que não sou feminista mas acho que o digo sobretudo porque detesto rótulos e não consigo encaixar-me em agremiações, sejam de que tipo forem. Mas, rótulos ou agrupamentos à parte, a verdade é que acredito no valor e no poder das mulheres e acredito que muitos dos males do mundo se devem ao excesso de homens em lugares de poder.

É certo que as coisas começam a ganhar outro rumo: há mais mulheres em lugar de comando e mais mulheres a rebelarem-se contras as desigualdades.
[Mas, tenho que dizer, também não suporto ver as mulheres a armarem-se em vítimas puritanas, a acusarem de tudo e mais alguma coisa homens junto dos quais antes se derretiam, a tomarem por assédio qualquer graçola masculina ou a fazerem-se de coitadinhas por qualquer insignificante porcariazeca. Mas adiante].

E isto dito passo ao vídeo abaixo, um trailer de um documentário que é pena que não chegue cá pois deve ser muito bom.

Woman

Woman répond à l’envie de regarder le monde avec les yeux d’une femme. Ce film nous amène aux quatre coins du monde à la rencontre des premières concernées : toutes ces femmes aux parcours de vie différents, façonnées par leur culture, leur foi ou encore leur histoire familiale.C’est aussi le reflet du monde actuel. Un reflet parfois sombre face à toutes les injustices subies par les femmes. Mais avant tout, ce film est un message d’amour et d’espoir envoyé à toutes les femmes du monde. Une tentative de comprendre leur vie, de mesurer le chemin parcouru mais aussi tout ce qui reste à faire. Comment y parvenir ?
Ensemble, elles font émerger une autre vision du monde, indispensable pour construire l’avenir de notre #planète. Après « Human » en 2015, Anastasia Mikova et Yann Arthus-Bertrand proposent « Woman » en abordant plusieurs thèmes forts comme l’éducation, la pauvreté, la justice et le courage. Parce que faire entendre la voix des femmes est une priorité, la Fondation ENGIE a décidé de soutenir Woman et plusieurs associations mises en avant dans le film : http://bit.ly/Woman-FondationENGIE
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As esculturas são de Camille Claudel e enlaçam-se ao som da música de Clara Schumann

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5 comentários:

GG disse...

Bom dia, ujmm
O seu marido gosta de ler sobre história de Portugal?
Então aconselho este
Bettencourt Francisco, Racisms. From the Cruzades to the Twentieth Century, Princeton, 2013
Pode começar por esta entrevista

https://www.publico.pt/2014/06/27/culturaipsilon/entrevista/o-imperio-portugues-e-talvez-o-mais-flexivel-a-gerir-populacoes-coloniais-ate-ao-seculo-xviii-1660324

Isabel Pires disse...

"Os homens gostam de se mostrar superiores a tretas, paranóias não é com eles, medo não têm de nada. Se alguma mulher diz que tem que se acabar com os apertos de mão ou com os beijinhos, eles riem, fazem chalaça, trocadilho ou graçola, como se ter cuidado fosse coisa de mulher, fosse mariquice, caguinchice, e, para anular o cuidado, há quem, jocosamente, pergunte se beijo na boca também faz mal. As mulheres, pelo contrário, preocupam-se com todos, querem prevenir, alertam, explicam, sujeitam-se às chacotas palermas deles."

"... Mas, rótulos ou agrupamentos à parte, a verdade é que acredito no valor e no poder das mulheres e acredito que muitos dos males do mundo se devem ao excesso de homens em lugares de poder.
É certo que as coisas começam a ganhar outro rumo: há mais mulheres em lugar de comando e mais mulheres a rebelarem-se contras as desigualdades."

UJM, retirei estes dois pedaços como exemplos substanciais de não me rever neste teu post, praticamente em nada.
Não é desta forma que vejo/interpreto o mundo que acontece à volta, na sua maioria.
Ao longo dos últimos anos, décadas, tenho apreciado/convivido com agrado com a forma como os homens (generalidade) têm acompanhado/vivido/feito a adaptação a este 'eixo de sensibilidades', cujo caminho tem sido bem trilhado.

Este, então, ui - "Muitos dos erros deste mundo devem-se a disparates masculinos: têm medo de dar parte de fracos, fazem de tudo para não arriscarem uma nega, não arriscam um gesto mais temerário com medo de que corra mal e, sobretudo, têm medo de ser confrontados ou gozados, medo que a sua imagem saia beliscada. Uns cobardolas sob a fina capa de campeões.
As mulheres são mais ousadas, arriscam mais, marimbam-se mais para a censura alheia, genuinamente preocupam-se mais com os outros."

Se é ironia, não há marcadores que a denunciem, e por isso não tem de ser tomado como tal.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

O Prof. Coimbra de Matos diz que só precisa de galões quem não tem c**hões.
Gente que se acha "above and beyond" (sem ofensa para o projeto de música eletrónica, que tanto aprecio, com o mesmo nome ��), invulnerável, que desdenha de todos os que reconhecem as suas limitações humanas, dos que reconhecem necessitar do outros, são pessoas que sofrem de um enorme raquitismo desenvolvimental. Infelizmente este pessoal "safa-se" (até ao dia...) nos inúmeros sistemas perversos que temos criado e são tantas vezes vendidos como modelos de se ser e de viver, mas não passando de uns magas de alpaca cheios de complexos que a vida lhes vai permitindo mascarar.

No feminino existe uma variante particularmente irritante de narcisismo que é a mulher machista, aquela que acha que quanto mais grunho for um homem, melhor, e que os "bonzinhos" não têm graça. Tanto uma posição como a outra não passam de mecanismos de diminuição do masculino para colmatar o próprio complexo de inferioridade negado, porque se uns são bonzinhos e vistos como "menos homens" para serem alvos de chacota, os grandes machões idolatrados quando revelam as grandes limitações que têm viram logo bestas e o velho chavão de que são "todos iguais" resolve o assunto.

Nada como a capacidade de se ser felizmente imperfeito.

Um bom fim-de-semana.

Anónimo disse...

Nisto do Corona Vírus e noutras situações há sempre um tipo que resolve fazer humor. A última que recebi de uma amiga foi de que, doravante, já não se ensinará aos nossos filhos ou netos a história da "Branca de Neve e dos 7 Anões", pois um deles morreu, vítima do tal Corona - o Espirro (nem sabia que havia um com com esse nome!). Deste modo, os novas reedições terão de chamar de «Branca de Neve e os 6 Anões»! O "portuga" está sempre atento para fazer patuscada com tudo e mais alguma coisa.
P.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Hahah!
Quem inventou a piada cometeu uma gralha, pois o tal anão é "Atchim".