sexta-feira, abril 12, 2019

Cinco obras de arte em dias destravados




Os dias desta semana andam-me desencontrados. Na terça-feira, quando fui fazer o euromilhões, convencida que era quarta-feira, preenchi apenas uma aposta para sexta-feira. À noite, às tantas, quando estava a ver as notícias, vi a chave vencedora do euromilhões e, espantada, fui confirmar: era mesmo terça-feira. Fiquei a sentir-me desfasada. Hoje, estava a combinar reuniões e a tentar encontrar um buraco na agenda para 'amanhã' e outro para sexta. A pessoa com quem eu estava a falar olhou-me e perguntou-me: 'Que dia é hoje?' e eu, estranhando a pergunta, pensando que ele é que estava desorientado: 'Quarta' e ele 'Quarta...? Pois. Era bom, era. Mas isso foi ontem'. Fiquei desconfortável. Ele, simpático, tentou que eu não ficasse a pensar que o problema era meu: 'Os dias andam a passar a correr'

Há bocado, estava a ver como vai ser amanhã e voltei a ficar baralhada: já sexta-feira? Já dia 12? Já a meio do mês de Abril?


Aliás, de manhã, no carro, liguei a um a perguntar-lhe o que se passava para ainda não me ter respondido a um mail no qual lhe pedia uma data para avançarmos para uma certa coisa. E ele explicou-me que está sem recursos, que não encontra gente, que já está a contratar gente no Brasil e que prudencialmente o melhor era apontarmos para daqui por um mês. E eu fiz contas de cabeça e vi que aquilo ia dar para depois de férias quando eu, a estas horas, já queria era ter despachado aquilo. E, depois de desligar, fui a rebobinar enquanto conduzia e a pensar em que é andei a ocupar o tempo para não ter dado pelo tempo a passar desta maneira. E a verdade é que tive alguma dificuldade.

Talvez seja que, com a idade, venha uma aceleração do tempo. E isso não é uma boa sensação.

A meio da tarde fui a uma reunião onde estava alguém com mais dez anos que eu. Muito bronzeado, muito tranquilo. Explicou que vive agora a maior parte do tempo numa quinta na Beira -- junto dos passarinhos, disse ele. Como cheguei atrasada, expliquei que tinha apanhado o trânsito cortado numa certa zona. Ele sorriu, disse que em Lisboa ja não usava carro há muito tempo. E toda a sua conversa foi de pessoa sem pressa, de pessoa que não deixa os dias assarapantarem-se, fugirem sem se dar por eles.


Agora, antes de chegar ao blog, abri os jornais e vi a fotografia de um velho de cabelos brancos e longas barbas brancas. O título da notícia referia Assange e eu, desatenta, pensei que aquele era alguém que não ele. Noutro jornal vi a mesma fotografia. Olhei, então, com mais atenção. Percebi que era mesmo ele. E voltei a sentir-me a viver um jet leg agudo, como que sugada por um qualquer buraco negro. Pois se não há muito o homem ainda era relativamente novo, quantos anos decorreram sem que eu tivesse dado por nada para o homem já estar assim?

Serei só eu? O tempo está a andar ao seu ritmo normal? Só eu é que ando desfasada da realidade cronológica? Se calhar sou.

Enfim. 


Felizmente, encontrei um artigo que agora me alegrou: As cinco obras de arte mais espectaculares do mundo. Antes de deslizar pela página fechei os olhos tentando pensar em obras de arte espectaculares para ver se algumas coincidiam com a selecção de Claire Beghin. Depois fui ver. Zero. Aliás, das cinco, apenas conhecia Puppy de Jeff Koons, esta aqui acima, mas, na verdade, nem me ocorreu. Na altura, quando estive ao lado dela, fotografei-a de vários ângulos, acho que até tenho uma fotografia com ela atrás, coisa rara pois nunca apareço nas fotografias. Achei uma coisa bem apanhada. Mas mais do que pensar nela como uma obra de arte, achei uma ideia engraçada, bem arquitectada, engenhosa. 

E agora tenho estado a saber mais sobre cada uma. De facto, todas me parecem espectaculares e gosto de todas. A primeira, a das sete montanhas mágicas de Ugo Rondinone, já está a dar-me vontade de chegar lá ao meu little heaven e empilhar pedras e pintá-las. É o tipo de coisa que me traz alegria. 

Também achei fantástico o nome da aranha de Louise Bourgeois: Maman. Disse a autora que a obra era uma ode à mãe, a sua melhor amiga. Que associe a imagem de uma aranha à mãe e a uma pessoa muito amiga parece-me curioso.

A escada para o infinito, Diminish and Ascend de David McCracken, também é o máximo. Houve uma altura que me dava para meter escadas que não levavam a lado nenhum no meio das minhas pinturas. Não sei porque as fazia. Apareciam ali. Esta escada também me parece uma ideia fantástica. Parece que as gaivotas se espetavam no bico em que termina (acaba em bico, justamente para, através de ilusão óptica, parecer que acaba no infinito) pelo que agora o substituiram por um material menos rígido.

Mas a minha preferida é esta aqui abaixo. Celestial Vault de James Turrell. Acho uma ideia maravilhosa. Um local para sentir a magia do espaço imenso, o céu, a luz, o vagaroso devir do tempo.


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E não sei se A mão no Arado vem a propósito -- o mais certo é não vir -- mas apeteceu-me tê-lo aqui


4 comentários:

Anónimo disse...

Essas 5 obras são de meter medo! Um susto. Só por caridade são designadas de Arte! Um verdadeiro insulto à Arte! Já em tempos me pronunciei sobre Jeff Koons, cuja obra não passa do oposto de Arte, mas enfim, hoje em dia (e desde já há algum tempo a esta parte), aos poucos, vai-se perventendo o conceito de Arte.
Enfim...!
P.Rufino

Anónimo disse...

Recordo-me de ter, em tempos, mencionado Jeff Koons, a propósito do disparate da sua "obra", The Rabbit. E a ter comparado, já que se falava de Arte, a por exemplo, Michelangelo, ou mesmo a Antonio Canova e Bernini. Não há qualquer comparação entre esses grandes mestres do passado e estas lamentáveis "realizações", como a de Koons. E qum diz Escultura, diz Pintura.
Uma coisa é uma pintura abstracta, outra uma série de "coisas disformes", ou seja, um conjunto de outros tantos disparates, ofensivos do conceito de Arte.
P.Rufino

Um Jeito Manso disse...

P. Rufino,

Como sabe o meu gosto é eclético e muito diferente do seu. Há obras de arte que não percebo ou que ferem a minha sensibilidade e que acho, até, uma aberração mas há outras, clássicas, muito 'bem feitinhas' que a mim não me dizem nada, são maçadoras e incapazes de desencadear em mim qualquer emoção.

Portanto, o difícil nisto é encontrar uma explicação para o gosto de cada um ou para a apreciação diferenciada que fazemos de qualquer obra de arte.

Não podemos pretender que a capacidade de produzir arte tenha cristalizado nos anos de ouro em que génios como os que referiu viveram. O mundo mudou e, forçosamente, a arte também.

Uma boa semana para si, P. Rufino. Dias felizes.

Anónimo disse...

UJM,
Eu gosto de Arte abstracta. E tenho-a em casa. O que não aprecio é o disparate. Como Koons e outros excentricos que colocam um olho na tela e lhe juntam uma perna, uma nuvem, uma cadeira, um nariz, etc.
Ou pintam uma tela com dois tons de cor, ou um par de riscaos e acham que é Arte.
Chamo a isso um oportunismo pateta de quem não é artista. E só não refiro nomes para não escandalizar algumas almas mais piodosas para com esses supostos artistas.
Boa Semana!
P.Rufino