quinta-feira, novembro 22, 2018

Inovação. Burocracia. O mundo de todos os dias.




Há uma forma burocrática de se ser. E que não se pense que, com isto, me preparo para dizer que ser-se burocrata é mau. Nada disso até porque piamente acredito que, quem o é, gosta muito de o ser. Conheço vários. São organizados, organizam-se e reorganizam-se, têm agendas com tudo incluindo os aniversários de toda a gente, fazem anotações de tudo, documentam tudo, arrumam tudo em pastas, sub-pastas e sub-sub-pastas, agendam e pré-agendam, tentam ensinar os outros a organizar-se, mostram as virtudes de serem tão metódicos e disciplinados, têm truques, sabem habilidades.

Eu olho-os disfarçando a compaixão que sinto porque vivo bem no meu mundo caótico que dispensa planificações, actas, memos, controlos e controlos dos controlos. Penso que desperdiçam a vida afogados no que me parece ser a sua própria ineficiência. Mas se calhar estou errada. Sei lá. 

Agora uma coisa eu sei: não vou mudar.  Não perco tempo a tentar ser o que não sou.


Ainda agora. Relativamente às minhas áreas, pedem-me a lista das actividades ligadas a inovação. Tenho vontade de dizer: zero. Para mim, inovação precisa de criatividade e criatividade  é outra coisa. Criatividade é onda alta e insubmissa, é chama livre e fogosa, é acorde solto no vento, é abraço apertado de onde se soltam doces faíscas, é bailado no céu ou no fundo do mar, são estrelas brotando do chão. É isso. Não é coisa de nada repescada apenas para incrementar os rankings, não é coisa de nada envolta em bagaço burocrata e disfarçada de coisa boa. 

Uma vez, um dia dedicado à inovação. Convidados. Apresentações. Dissertações. Muita gente, muitas palmas. Muitos métodos para medir a inovação, para acelerar a inovação, para registar a inovação. E eu, cabeça noutro lado, deslizando no lago sereno das minhas memórias, dos meus sonhos. 

No intervalo, o organizador veio perguntar a minha opinião e, antes que eu dissesse alguma coisa, já foi avançando: 'Está a correr muito bem, não está? Toda a gente já me deu os parabéns. Uma adesão enorme, já a pedirem para organizar outro evento para o ano que vem' e seguiu, contente consigo próprio.


Muitas vezes penso: se calhar sou demasiado feroz, se calhar as coisas são melhores do que as vejo. Por exemplo. Recebi ontem um mail em que, às tantas, um jovem licenciado dizia 'obti os valores'. Olhei e nem acreditava. Há que tempo sem h, é mato. Quere-mos ou fazê-mos, mato é. Nas reuniões, sêjamos ou outras pérolas é coisa que meio mundo atira aos outros como se de porcos se tratassem. E eu fico doente com isto. Mas, ao mesmo tempo, interrogo-me: porque deixo que isto me perturbe quando olho à volta e vejo toda a gente tão confortável?

Portanto, o mal é meu. Mas que seja.

Agora voltando ao ponto em que estava. Criatividade e inovação a sério (e uma coisa não é sinónima da outra) não podem nascer de metodologias e burocracias. E quando acontecem é outra coisa, é uma explosão, é uma graça. É uma novidade.

Por exemplo, Alexander Ekman. É inovador, é criativo, é talentoso, é marcante. Tem apenas 34 anos mas, senhores, é brilhante. Veja-se este Play. Não dá para acreditar:  tantas e tão graciosas imagens. KPI's? Está bem, está.

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E agora aceite a minha sugestão: desça um pouco mais e faça o teste. Conheça-se.

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