quarta-feira, outubro 10, 2018

Depois de um dia danado na cidade que até incluiu uma panada traseira (fruto dos tempos...), nada como acabar com mais um fabuloso travelling in heaven.
A cineasta UJM sai de novo à cena.




Como se não bastasse ter tido pouco tempo ter para dormir, ainda por cima não o aproveitei. Custei a dormir e, quando a meia noite acordei, estava com frio e não dava com o lençol para me tapar. Com a manobra de andar à procura, o meu marido acordou, acendeu a luz e, ao ver as horas, disse que já pouco faltava para serem horas para se levantar. Depois disse que foi ironia mas a verdade é que espertei. Não dormi mais. Ou seja mal dormi. Também estava um bocado preocupada e passada com o dia de cão que tinha vivido. O meu marido, para se desculpabilizar, disse que não tinha sido por acender a luz e dizer que já faltava pouco para serem horas de acordar, que tinha sido era a preocupação que tinha. Não quero saber. Sabendo disso, não deveria ter acendido a luz nem dar-me a ideia de que já nem valia a pena tentar adormecer.

Em cima disso, ter que ir cedíssimo. Depois um dia cheio, sem um minuto de descanso. Uma pessoa não tem tempo para respirar, para olhar pela janela. E a sentir-me cada vez mais constipada. Espirros, um friozinho a subir dos pés, pelas pernas (sem meias) acima. E como os meus dias andam mesmo assim, com sombras a pairar sobre a minha existência, vinha eu de regresso, já totalmente lusco-fusco, absorta, quando, na avenida, parada no semáforo, abre o verde para a via à direita e se mantém encarnado para que, como eu, ia em frente. Estava eu a acabar de espirrar, sinto o carro a dar um valente salto e um estrondo. Percebi logo. Pelo retrovisour vi um homem jovem a pôr as mãos na cabeça. Saí. Nestes momentos, sempre muito calma. Enervantemente calma, disse uma vez um colega para me caracterizar. 


Ainda por cima, o meu carro estava na oficina, para revisão, aquele era um carro de substituição. Quando com carro de substituição, vou com mil cuidados não vá fazer um risquinho de nada e meter-me em trabalhos. E era nisso que pensava: caraças, eu com tanto cuidado e fazem-me isto. A parte de trás do carro toda amachucada, transversalmente partida. O jovem, bonito, muito simpático, pediu desculpas, que se tinha distraído com o semáforo da outra via, queria saber se eu estava bem, todo ele preocupado comigo. A grelha da frente do carro dele partida, metida para dentro. Enquanto se preocupava com o meu estado, olhava também para o seu próprio carro. Todo aborrecido, coitado. Perguntei-lhe se tinha seguro. Que sim, claro, mas só contra terceiros. Cabelo curto, barba, ar de menino muito bem. 

Confirmei: então agora preenchemos a declaração amigável, não é? Ele disse que sim mas, para não estarmos a atrapalhar o trânsito, que fossemos lá para a frente, ao pé da placa. No entanto, a minha calma é aparente e, de tal modo, que até a mim me engana. Então não é que me meto no carro e avanço? Nem me lembrei de ver se o semáforo estava verde. Não estava. Os carros que vinham de lá todos a apitar e eu ali no meio do cruzamento. Quando pararam, avancei e, de novo, os que vinham da direita a cruzar para o outro lado, todos a apitarem. Pensei: era mesmo o que faltava. Depois de levar uma à Ronaldo (salvo seja, claro) vou meter-me no meio de um cruzamento, à maluca, e levo mais uma pela frente e outra de lado?


Não sei como, lá escapei incólume. Quando preenchemos a declaração amigável constatei o pedigree do nome. De facto. O nome da detentora do seguro falou por si: nome sonantíssimo da nossa praça. Pensei: soube educar bem o filho, sim senhora. 

E pronto. Cá estou. Amanhã tenho que ir outra vez cedíssimo e, ainda por cima, antes de uma reunião que estou curiosa para saber no que vai dar, tenho que explicar, a quem me vai levar o carro e trazer o meu, o que se passou. E, com isto, dói-me a garganta e sinto-me mesmo constipada. Daqui a nada vou tomar um anti histamínico. Já sei que vai pôr-me a dormir durante uma semana. Mas tem que ser. Não posso estar assim não apenas porque não me sinto bem como não é civilizado estar numa reunião com gente muito importante e cheia de nove horas e eu ali a espirrar e a assoar-me feita inconveniente.

Acho que não vou, outra vez, conseguir responder aos comentários. Acreditem que não é falta de educação ou de consideração: é mesmo isto. Peço desculpa. Custa-me porque acho que se temos a caixa de comentários aberta é para interagir com os Leitores. Mas, juro, acho que não vai dar.

Há bocado deixei-me dormir. Mal dormida, constipada e cansada, foi, uma vez mais, tiro e queda. E isto antes do anti-histamínico, fará depois. Acordei cheia de frio. Já fui pôr uns pezinhos, aquela espécie de meiinhas que a gente põe para cobrir a sola, os dedos e o calcanhar, para os sapatos não ficarem em contacto directo com a pele dos pés. São de algodão bege, coisinhas de nada. Mas são-me confortáveis, aquecem-me.


Não tive tempo para ler ou ouvir notícias, só sei que o Ronaldo se vai defender dizendo que afinal havia outro. Onde se pensava que aquilo tinha sido uma cena a dois, coisa simples, amor no coração e violinos em background, terá sido, afinal, uma picante e tresloucada ménage a três. Como parece que o nosso CR7 lá estava com um primo e um cunhado, na volta agora um dos dois é que vai pagar as favas. Aquela anedota do velho no comboio que, no meio da confusão, apanha uma bofetada quando o outro é que tinha curtido. Mas não interessa. Não faço ideia de nada destas cenas. Não estava lá para ver nem sou arraçada de Diácono Remédios portanto não me pronuncio. Let's wait and see que a coisa promete e os advogados estão em campo a facturar e a ter ideias. Li também que o buliçoso multimilionário rapaz antes tinha estado numa party com a Paris Hilton e que ela tinha dito que não tinha engraçado com ele, que era demasiado gay para o gosto dela. Assim. Parece que prefere os caniches. E o pobre Ronaldo, de repente, por aí anda a ver as suas intimidades aí expostas para que o mundo inteiro mande bocas, invente anedotas, faça comparações, evoque outros casos igualmente anais. Uma festa. À falta de coisa mais suculenta, o pagode agarra-se a qualquer coisa. Salvo seja, claro.

Bem.


Adiante que se faz mas é tarde.

O meu filho, ontem, quando me ligou, disse-me: A tua voz no vídeo. Falas muito baixo, parece que estás a segredar. Disse-lhe que não era a intenção mas que agora, pensando nisso, de facto, enquanto ia por ali com a máquina, a falar sozinha, se calhar ia falando baixo, sem querer quase disfarçadamente, não sei, se calhar para não me sentir amalucada se fosse conversando sonoramente. Para a próxima, vou tentar ir na descontra, conversando alto e bom som como se fosse acompanhada.

Mas perguntei ao meu marido:
O que achaste da voz?
   - Qual voz?
A minha, nos vídeos.
   - O que é que tem?
Diz lá.
   - Digo o quê? É a tua voz. O que é que há para dizer?
Não achaste muito coisinha?
  - É a tua voz, que é que queres fazer? 
Portanto, não sei.


Ou seja. Vou mostrar o segundo filme, aquele que acabou abruptamente por se ter esgotado o espaço de armazenagem. A qualidade é a mesma do outro: máquina aos pinotes, imagem revirada, deslizamentos apressados demais. Um dia destes ainda vou ver se descubro como editar, cortar bocados, dar vagar aos movimentos, retirar as bolinhas de contraluz. Mas, enquanto não, vai assim mesmo, coisa bruta, rústica como eu, como o tojo rompendo do chão.

Segundo passeio in heaven com a Sta UJM sussurrando* como se estivesse a dizer segredinhos


* No outro dia li que parece que agora estão na moda os vídeos em que as pessoas sussurram, murmuram, fazem barulhinhos silenciosos. Parece que o pessoal se amarra em coisa assim, vazia de conteúdo, só sonzinhos cúmplices, parece que fica tranquilizador, aconchegante. Vídeos de uma hora inteira só com suspiros, sussurros, papelinho a ser amachucado, barulhinho de água a gotejar. Li. Espreitei um ou outro. Pareceu-me uma seca mas eu também não sou exemplo para coisa nenhuma. E, de resto, eu sou mais mato, muros para pintar e maluqueiras assim. Mas pronto, para a próxima vou ver se me lembro de tentar fazer uma voz mais encorpada.

13 comentários:

Gina disse...

Adorei o muro e os bancos de pedra e até gosto de ter sido a UJM a idealizá-los. Quanto à sua voz, que já conhecia porque em tempos já vi vídeos seus, acho está sussurrada, sim. Por vezes é inconsciente a vergonha de alguém ouvir, está bem, mas olhe que combina com o sossego do lugar. E não faz mal responder aos comentários, afinal já está a fazê-lo nos posts.
Desejo as melhoras e um dia bom para si.

Janita disse...

Bom dia, UJM!

Adorei acompanhá-la neste passeio, de a ouvir pensar alto, das suas reflexões acerca das dúvidas se pintar de branco ou às cores os bancos de pedra e muros.
Gostei de a ver voltar atrás nos pensamentos...ter incertezas!

Sabe, UJM? Aí, desse lado, não está um 'boneco', uma figura virtual, uma miragem...Aí, está uma Mulher como eu. Que importa se mais culta, mais bem sucedida pessoal e profissionalmente, com mais coragem ou melhor preparada para enfrentar as batidas de carro ou da vida? :)
Aí, está um ser Humano, com qualidades e, porventura, defeitos também - senão não seria humana - e é tão gratificante ter tomado consciência disso...Obrigada, UJM! :)

Um beijinho e que tenha um BOM DIA!

( não se sinta prisioneira da 'obrigação' de responder aos comentários. Eu compreendo! )

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Um passeio in heaven, sem dúvida, adorei as divagações acerca dos espaços e elementos, o que fazer com eles...
A voz combina perfeitamente com a ideia de "pensar alto", por acaso faz realmente lembrar os chamados vídeos de ASMR.
Os tojos, credo, tenho aqui em casa a mesma praga, terreno sempre limpinho, mas volta e meia lá está a crescer espinhaço aqui, espinhaço acolá.

Quanto ao caturra do menino, às tantas vinha a fazer o que não devia (telemóvel, coisa e tal), de qualquer modo o seguro dele pagará e nada como muita diplomacia, mas por conta disso a UJM é que se viu em trabalhos no meio do cruzamento.

As suas melhoras.

Isabel disse...

Eu gosto da sua voz calma, dos videos. Não falei da voz de forma negativa, pelo contrário!

Tenho um galo e uma galinha iguais à sua (da imagem), mas as minhas têm as pintinhas pretas.

Continuação de boa semana e continue a colocar videos!

Um Jeito Manso disse...

Olá Gina,

Ler as suas palavras logo de manhã, tão simpáticas e compreensivas, soube-me bem. Custa-me sempre quando não consigo responder ou agradecer os comentários.

A ver se no fim de semana, se lá for, volto a fazer uns filmes destes a ver se me saem melhores. Mas registe bem: foi a Gina que me inspirou.

Beijinhos.

PS: Ontem à noite tomei o anti-histamínico e hoje acordei boa. Coisa fantástica.

Um Jeito Manso disse...

Olá Janita,

Já lá estive a cuscar as fotos da menina. Bem bonita. Aquela foto foi no Miradouro do Ginjal?

E claro que aqui está uma mulher. Normal, ainda por cima. Há pessoas que acham que isto é um blog colectivo e que há posts que são escrito por um ou mais homens. Talvez por muitos, sim, clones meus, alter-egos. Mas todos com esta vozinha que a natureza me deu. E tenho hesitações, dúvidas, tudo isso. E vaidades e maluqueiras. Quero dizer: normal e cheia de imperfeições.

E obrigada pelas suas palavras, Janita.

[Não comentei no outro dia, comento agora. Aquilo do hospital, o susto, o ter deixado de fumar, tudo. Ainda bem que tudo passou. Haja saúde, não é?, que tudo o resto vem por acréscimo)

Um beijinho e um dia feliz, Janita.

Um Jeito Manso disse...

Francisco de Sousa Rodrigues, olá,

Então também é homem do campo, de andar atrás do tojo? Gosto de saber. Não é mesmo uma praga? Só fica bonito quando floresce, com aquelas florzinhas amarelas. Tirando isso, é para esquecer. E quando está seco e o pomos na fogueira, até estala e arma-se uma labareda que parece que se atirou gasolina.

E então também lhe parece que tenho uma voz que dava para um vídeo ASMR? Para a próxima faço um vídeo a falar em segredo para ver se soa mesmo tranquilizante.

E obrigada, como acima referi o comprimido (que é uma coisinha mínima) não apenas me fez dormir como uma pedra como me curou.

Um dia feliz!

Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel!

Quando dei aulas, aquela maltinha portava-se mal que se fartava, coisa qeue nunca admiti dentro da sala de aulas. Queria gritar para se calarem mas onde é que eu conseguia potência para gritar...? Pior: quando forço a voz ou quando bebo pouca água (e quando dava aulas, com o efeito do pó do giz) fico um bocado rouca. Ou seja, não dava mesmo para cantar ópera.

Quando estava a ler as suas palavras, a falar da minha voz e logo a seguir li que tem um galo e uma galinha pensei que ia dizer que cacarejam melhor que eu. Felizmente não era isso: referia-se ao boneco... Uffff. Tenho montes de galos e galinhas, sabe...? E quando pintava, gostava muito de pintar galos.

Beijinhos, Isabel!

Gina disse...

É bem bom saber que inspiro alguém. Dia bom, UJM.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Olá UJM,

É verdade, moro no campo, volta e meia tenho de andar atrás do Tojo e erva daninha.
O Tojo, por acaso, até é peça de caça recente, pois no ano passado compramos uma fração de terreno para aumentar o logradouro e lá é que cresce o dito cujo (em contrapartida tem um belo Sobreiro).
Entretanto, pela estação fria, será a vez do reino dos fungos dar o ar de sua graça.

Ainda bem que o amigo antihistamínico cumpriu a (dupla) função!

Obrigado e um dia feliz também para a UJM.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

E o vídeo ASMR, ia-me esquecendo...Sem dúvida que tem requisitos para tal!

Um Jeito Manso disse...

Francisco,

Resta saber se, falando em segredo, consigo ter uma conversa normal. Um desafio.

Me aguarde!

Isabel disse...

Ah!Ah!Ah!

Não, não ia dizer que cacarejava!!

Na escola consigo colocar a voz onde quero e nunca fiquei rouca. Mas tenho colegas que já ficaram completamente afónicas!

Boa semana:))