terça-feira, setembro 18, 2018

A transferência da Cristina Ferreira e a morte da Princesa Diana,
a evidência científica de que há imbecis,
a gaffe literal da cuecona do Goucha,
o mistério da minha cara pós-férias e
Mr. Beans, Hillary Clinton, Forest Gump
(no inferno eles estarão em boa companhia)




Dado que não me saíu o euromilhões lá tive que regressar ao trabalho. E foi aquele velho déjà-vu com toda a gente a fazer a observação do costume: 'Então...? Já se acabaram, não foi...?' e eu que sim, que acabam depressa. Vintage com vintage se paga. A seguir: 'Pois... E foram boas...?' e eu que sim, que foram mesmo boas. Especialmente porque, ao contrário dos dois anos anteriores, não as passei em hospitais (dois anos... ou três...? acho que talvez três; três senão mesmo quatro, já nem sei que isto, de facto, nos últimos anos tem sido uma festa). E isto já para não falar em pior ainda. Ainda no outro dia, um dos miúdos me perguntou se a bisavó já estaria em esqueleto. E eu, apanhada, sem estar de sobreaviso : 'Credo, rapaz, que conversa'. E ele, pensativo: 'Mas como é que isso se passa?'. E eu, já aflita: 'Oh pá, cala-te lá com isso, que raio de conversa essa'.  Foge. Já bati três vezes na madeira. Caneco, nem é bom a gente falar porque às vezes até parece que atrai. Caraças, vade retro. Mas este pimentinha, para além de artista, é todo cientista. Vínhamos no carro, ele e os irmãos no banco de trás, os outros já meio a dormir, e pergunta ele: 'De que é que é feita a luz?. O meu marido, surpreendido: 'Olha, olha, agora esta...'. Lá lhe falámos de fotões, de ondas, de campos. E eu, tão pro em física das partículas e o escambau, a patinar sem saber bem como explicar uma coisa tão banal a uma criança que acabou de fazer seis anos. Sim, Leitor, de que é feita a luz, não me dizem como se estivessem a falar com uma criança de seis anos?

Mas pronto. Adiante. Sobre o meu regresso.


No sábado ao fim do dia, quando fui aos meus pais, a minha mãe, olhou-me com aquela atenção que costuma ser acutilante e, quando eu estava à espera que me dissesse que me podia ter penteado, saíu-se com esta: 'Até estás com melhor cara' e eu: 'Pudera, tenho dormido que deus o dá'. A minha mãe olhou-me melhor, apurou o olho clínico: 'Ou estarás um pouco mais gorda...?'. Nem respondi. Aliás tenho ideia que não engordei mas, lá está, melhor nem falar senão parece que atrai os quilos.

Mas hoje, ao entrar de manhã no escritório, depois de uma noite sem dormir 
(uma espertina do catano, acho que se dormi meia hora foi muito. Fui para a cama sem sono e deu no que dá sempre: voltas e reviravoltas e sono, nickles. Mas, na meia hora em que dormi, tive um pesadelo que me deixou ó tio, ó tio. Estava eu no campo, numa planície, vejo vir uma mega nave espacial, um rectângulo imenso deslizante. Agora que revejo a imagem do ovni estou a lembrar-me que no outro dia estive a ver fotografias da Biblioteca de Buenos Aires e, na volta, sem me aperceber, aquilo assustou-me. Mas, então, estava eu numa bela planície, num campo de trigo dourado, e vejo aquela coisa a vir a grande velocidade, a descer, a descer, quase a planar e eu em pânico a ver aquela caixa gigante, em vidro, e a emanar uma luz misteriosa. Vinha quase a rasar, quase a esmagar-me ou sei lá o quê. Eu aflita, a chamar nem sei por quem, a querer salvar não faço ideia quem. Depois acordei e fiquei naquela, feita estúpida, assustada e a ver-me aflita para perceber que estava na cama e não espalmada pela maqueta gigante da biblioteca de Buenos Aires. Portanto, estão a ver o que descansei).
fui tirar um café na copa. Era cedinho e eu estava a preparar-me para o primeiro round do dia quando chega uma colega que, depois da célebre constatação do 'então, já se acabaram...', olha para mim atentamente e me diz: 'Fizeram-lhe bem... Está com melhor cara...' Chegou outra que me inspeccionou e confirmou: 'Está, está'. Fiquei em silêncio não fossem elas, se eu lhes desse troco, também acharem que aquilo era mas era gordura alojada no facies.


Mas, para meu espanto, a coisa não ficou por aqui. Estava eu numa reunião, à tarde, quando um colega, olhando-me com ar um bocado intrigado, me diz: 'Está com melhor cara'. Arrisquei: 'Dormi muito'. Mas depois lembrei-me que ontem quase não preguei olho. E ele: 'Pois. Está mesmo'.

Agora, depois de jantar, fui lavar os dentes e olhei-me com atenção. Não noto nada de diferente. Mas lembrei-me: 'Eh pá... querem lá ver que foi daquela ginástica facial que fiz na outra noite e que repeti mais duas ou três vezes?' Não cumpri, pois a ideia era fazer todos os dias durante um bocado (ou seria duas vezes por dia? Também não me lembro. A verdade é que me esqueci, não só de qual a regra mas também de a fazer). Se calhar só a ideia rejuvenesce. Uma ideia das boas, portanto.

Seja como for, com a cura de pouco sono a que me vou submeter nos próximos tempos, o lifting virtual rapidamente há-de ir para o galheiro. C'est la vie, já lá dizia o outro.

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[Agora não... dói-me a cabeça... preciso de dormir...]

E nada mais tenho a acrescentar pois qualquer outro tema (brexit ou não brexit, conversas-de-café do Rio ou remoques do cagalhotas a propósito do medinho do outro, a cintilante Cristina Ferreira que fala ininterruptamente como uma sorridente matraca autocentrada e que acha que a sua saída da TVI para a SIC só tem paralelo na morte da Princesa Diana, a saída do lindo e fofo Paulo Gonçalves de papel de braço direito do Luís Filipe Vieira) me parece pouco relevante quando comparado com o mistério que envolve o estado da minha cara.

Só se for aquela descoberta científica de que afinal existem mesmo imbecis. Essa, sim, capaz de ser notícia bombástica. Transcrevo um pequeno excerto:
Já o tipo autocentrado corresponde a pessoas com muitos pontos em extroversão, mas marcas mais baixas em agradabilidade, consciência e abertura. Luís Amaral descreve-as ao The Washington Post em termos "não técnicos" de forma simples: são "imbecis". 
Portanto, pardon my french mas, depois de assistir à dita esfusiante entrevista que acabou com a loura, autocentrada e glamourosa criatura a ameaçar o desgraçado Rodrigo Guedes de Carvalho de que o quer desmanchar, fico sem saber se a imbecil é ela, se é quem a contratou ou os fãs que colocam os programas delas nos primeiros lugares das audiências. Mas, enfim, não quero estragar a minha beleza com tão profundo trilema. 

Até porque uma outra coisa vos digo: o povo não quer cá saber de dilemas, trilemas, silogismos e filosofia profunda, poesia de qualquer espécie, política grega ou jota-partidária, prosa enxuta, pensamento pensado. O povo gosta é de boca brejeira, gaffe soando a palavrão atirado ao ar, cueca estendida e, sorry Mr. Cagalhoças, graçolas de café. Isso, sim, é que está a dar. 

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E agora vou mas é fazer massagem facial para ver se retrocedo até à minha carinha laroca dos 15 anos. 
Me aguardem.

2 comentários:

Anónimo disse...

"vade retro"
Não, não é para a mandar recuar pois continuo a gostar da leitura que faço dos seus excelentes textos, é apenas para corrigir o "va de retro" que escreveu acima.

Um Jeito Manso disse...

Muito obrigada. Tremo com estas minhas gaffes. Escrever sem pensar, às tantas da noite, sem edição, dá nisto. Só tenho a agradecer. Tomara que, sempre que surjam gralhas, alguém me alerte. Agradeço.