domingo, novembro 19, 2017

A pesporrência de Clara Ferreira Alves.
Mais do que me apetecer debater as notícias de que tomei conhecimento na cabeleireira ou querer saber porque é que não há duas impressões digitais iguais ou porque é que acordo todos os dias com a mesma alma dentro de mim, o que eu gostava mesmo de saber é se há alguém à superfície da Terra que ainda tenha pachorra para aturar a Clara Ferreira Alves


O meu sábado foi bem preenchido de manhã à noite. Não vi televisão nem ouvi notícias. Espreitei agora as notícias e dá-me ideia que nada de relevo.

De manhã fui à cabeleireira. Já não ia desde o verão. Até há pouco tempo não ia. Depois ganhei-lhe o gosto. Mas a coisa há-de ser espaçada. No entanto, quando lá estou, gosto. Um mundo paralelo. As conversas que ouço... O que percebo do que falam...

Hoje, uma veio lá de dentro toda gira. E elas a gabarem-lhe as sobrancelhas. Bem desenhadas. Pensei: Terá ido arranjar as sobrancelhas? Depilá-las...? Mas eis que a que me tratava do cabelo lhe perguntou: Então e doeu alguma coisa...? Ao que a dona das ditas disse: Não. Só no fim, quando a anestesia estava a passar... Mas nada de mais... E aí eu pensei: Anestesia..? Mas num cabeleireiro dão anestesias...? E anestesia para arrancar pelos das sobrancelhas...? Que mariquice...

Agora cá em casa, com as meninas, comentei. Uma disse: Devia ser tatuagem. E outra: Deve ser aquilo a que se chama microblading.

Nunca tinha ouvido falar em tal coisa. Tatuar sobrancelhas. Microblading. Fui googlar. É mesmo. 

Depois uma jovem falava com a especialista em nails. Falavam em desenhos, em cores, em brilhos. Gosto particularmente destas conversas. Rosa brilhante, metade de cada côr, fúcsia com estrelas, azul mar, numas, espuma brilhante, noutras. Depois ouço o conselho: Eu, se fosse a si, escolhia bailarinas. Silêncio. A cliente a consultar o catálogo. Depois: Sim, gosto. Bailarinas!. Relatei à mesa de jantar. Uma das meninas estranhou. Eu imaginei minúsculas bailarinas desenhadas artisticamente. Mas outra menina explicou: Bailarinas tem a ver com o feitio da unha, comprida e a ir em bico mas a ponta a direito, como os sapatos das bailarinas em pontas.

Outra novidade absoluta. Também já fui conferir. Não. A mim não me convencem.

Aprendo também imenso com as revistas. Mal chego, antes de me sentar, vou abastecer-me.

Partilho convosco algumas coisas relevantes que colhi.

  • Que o Manuel Maria Carrilho perdeu num processo contra a Maya e creio que contra o Graciano que terão dito qualquer coisa que não lhe agradou, 

  • que a Luciana Abreu também anda na justiça com o pai, e que está grávida de duas meninas e que no outro dia foi ao hospital mas foram todos muito simpáticos com ela,

  • que meio mundo se separou do outro meio mundo e que parte desse meio mundo se troca e destroca com outra parte. 
  • E que uns, apesar de destrocados, continuam a apoiar os outros e que alguns nem por isso, especialmente quando há filhos envolvidos. 
  • E que uns estão bem sozinhos, outros estão apaixonados, outros com vontade de terem filhos 
  • E outros sem essa necessidade já que gostam muito dos sobrinhos. 
  • E que há bloggers que são famosas por serem bloggers e que as mais famosas são as que falam da sua vida de mães com filhos
  • E que há actrizes de novelas que têm blog e uma até diz que o dela é ela que o escreve mas que há outros que são pura fancaria escritos por fantasmas.
  • E que há bloggers que lançam livros e vão com a família toda atrás pois a família é a matéria do blog.

  • E que a Jessica Athaíde é filha de uma relação extra-conjugal (quem é a Jessica Athayde...? -- Esclareço: é a menina aqui ao lado, aquela que, há tempos, incendiou as redes sociais com a sua perna grossa e a sua barriguinha algo proeminente) 

  • Vi também que o Presidente Marcelo apoiou a Cristina Ferreira com a sua revista Cristina e que ela usa muito os ensinamentos dele.


Mas não reparei na idade das revistas pelo que não sei bem qual a linha do tempo das notícias. Mas isso não interessa já que é tudo demasiado extraordinário para que a cronologia possa atrapalhar.

Agora, a noite bem adentrada, aqui na sala, em sossego -- já sem jogos de futebol, a rapaziada em grandes remates e grandes defesas, sem as gracinhas do bebé, já a querer levantar-se, e a mana amuada porque a tia a mandou assoar-se -- reclinei-me no sofá e pus-me a cirandar pelos vídeos que o youtube me recomenda.

Um agradou-me. Neil deGrasse Tyson and popstar Katy Perry discuss the science of human individuality and uniqueness. Uma conversa com piada. Também partilho.


E, estando eu por aqui, nesta na suave preguiçota, eis que, inadvertidamente, sofro a invasão do grupo dos déjà-vu. Dizem-se, repetem-se, contradizem-se, não acrescentam, patinam, maçam. Houve um tempo em que havia alguma frescura naquilo. Nos primórdios. Agora o Eixo do Mal é mais um daqueles programas onde os papagaios vão papaguear o que ouviram a outros iguais a eles. Há uma série de programas do género. E eu já não suporto nenhum. Se, em tempos, alguns deles tiveram ideias genuínas e inovadoras naquelas cabeças, tantos programas depois, já estão esgotados. Mas insuportável mesmo, mas uma coisa já de pele, alergia mesmo, é o que sinto com aquela convencida arrepelada, aquela arrogantezeca. Não se aguenta. A forma como ela fala. Sobre qualquer assunto, mesmo quando notoriamente não é tema sobre o qual tenha competência, ela põe o se ar mais irritantemente blasé para começar: 'Eu explico.' E avança, desfiando lugar comum atrás de lugar comum, como se estivesse a explicar alguma coisa. Intolerável. Uma maçadora emproada armada em maria-cagona, toda prosa. Zapping com ela.


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E agora zapping comigo.

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