domingo, março 27, 2016

Páscoa




Quando me despeço dos meus colegas ou se me cruzo com conhecidos na quinta-feira antes da Sexta-Feira Santa (acho que se chama da Paixão, mas não estou certa), toda a gente deseja 'Boa Páscoa' e eu, que não ligo à data, digo o mesmo. Mesmo aqui, nos comentários, se me desejam uma boa Páscoa, eu retribuo. No fundo, estou a desejar que tenham um bom dia e, se lhe atribuem significado religioso, desejo também que se sintam apaziguados consigo próprios e com os outros, sentindo que é um tempo de recomeço.


Eu, muito sinceramente, não ligo. O meu sentido de religiosidade é muito meu, uma espécie de agradecimento ou de sentimento de felicidade por me ser dado testemunhar milagres como a da existência de vida ou da perfeição da natureza. Penso que não vou além disso e também não dirijo o meu agradecimento a nenhuma entidade em concreto. E se no que se refere a crenças em divindades é isto, ainda mais limitada sou no que se refere a rituais. Contudo, em datas assim, Natal ou Páscoa, gosto de ter a família reunida e gosto de preparar um bom almoço. E gosto que haja no ar um ambiente de dia de festa. E isso, para mim, é bom.


Na sexta-feira, estava eu em casa da minha mãe, e ela rodeada por todos os netos e bisnetos, uma algazarra que deixou o meu pai à beira de um ataque de nervos, tocaram à campainha. Era uma vizinha.
Essa vizinha, em tempos, foi dona de um salão de cabeleireira (como se dizia). Depois deixou-se disso, provavelmente trespassou o estabelecimento, e passou a gozar dos rendimentos. Contudo, as saudades fizeram o seu caminho e, desde há algum tempo, em casa adaptou um quarto e a casa de banho e fez uma espécie de mini-salão caseiro para amigas. Por amizade e comodidade, a minha mãe vai lá e quase todas vizinhas também. 
Então, dizia eu, ela foi lá a casa da minha mãe para dar um beijinho mas estava com pressa que já tinha uma amiga à espera, para arranjar o cabelo. E acrescentou que já passava das quatro da tarde, já não fazia mal. Perguntei se dizia isso por causa da digestão e ela atirou a loura cabeça para trás, deu uma gargalhada e esclareceu que não, que para quem acredita, disse ela, só a partir da tarde de sexta feira é que já se se aceita, é isto da quaresma, não sei bem, mas há quem ache que não deve. E ria-se de gosto, penso que por eu ter pensado que tinha a ver com a digestão. Fiquei admirada com aquilo mas a minha mãe também não foi capaz de adiantar muito mais. De não se poder comer carne já eu sabia, agora de não se cortar ou arranjar o cabelo foi novidade para mim.


Ou seja, há costumes que fazem sentido para quem é crente e incompreensíveis para os agnósticos, como eu. Mas respeito.

Por isso, apesar de para mim ser apenas um dia de almoçarada familiar, a todos quantos atribuem um significado especial ao dia de Páscoa, aqui deixo os meus votos de um dia feliz. E se alguns de vocês, meus Caros leitores, estão a desejar um recomeço, um novo rumo, pois que isso aconteça e que o que vier venha por bem -- e que, com a ressurreição e com a primavera, melhores dias estejam para chegar.

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Se o almoço ficar bom, depois logo vos digo como fiz. A esta hora ainda não sei como vou fazer.
Estou inclinada a fazer umas variantes para agradar a gregos e troianos.

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As fotografias foram feitas, este sábado, in heaven. 
O coro Oxford Camerata interpreta Ave Generosa de Hildegard von Bingen
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E, se estiverem para isso, deslizem até ao post seguinte para lerem as palavras de dois leitores, e depois até ao mais abaixo para as novidades destes últimos dias.

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