quinta-feira, agosto 02, 2012

In heaven com a minha menina grande e dois dos meus meninos pequeninos


Música, por favor

José Afonso - Menino d'Oiro
(A canção de embalar que eu cantava para os meus filhos adormecerem)



Ouço perto de mim a respiração franca de uma criança. Antes de adormecer estive ao lado da sua cama e contei-lhe, baixinho, devagarinho, o que sempre conto para ele adormecer. Estava a mãe coelhinha a contar os filhotes coelhinhos que entravam na toca para ver se não faltava nenhum. Um coelhinho... dois coelhinhos... três coelhinhos... quatro coelhinhos... cinco coelhinhos... [e aí a respiração começa a ficar muito regular]... seis coelhinhos... sete coelhinhos... oito coelhinhos... [e aqui a respiração é quase profunda e os olhos quase se fecham. Por prudência continuo, apesar de perceber que o sono já o venceu, ... dezanove coelhinhos... vinte coelhinhos. Depois paro.

Noutra divisão há pouco ouvia um bebé a beber o seu leite da noite. Já a dormir, ao colo da mãe, fazia aqueles barulhinhos agradáveis de um bebé a beber o seu leite.

Mas antes, como sempre, pintaram a macaca. Chegam e desatam a mexer em tudo o que encontram à mão. Em menos de um minuto a confusão instala-se. O poder de desarrumação destes dois rapazinhos é uma coisa inacreditável. A minha filha diz-lhes, para os defender: A casa da Tá é um autêntico parque de diversões, não é?

Abrem armários, aparecem-me com peças de vidro na mão, tiram a lenha do cesto, pegam em tudo o que alcançam, é uma coisa... O pior, de longe, é o bebé. Como ainda é muito novinho, fez agora dezasseis meses, não tem bem a noção. De vez em quando, quando o vejo a mexer no que não deve, dou-lhe um grito e de tal forma o grito me sai, que o assusto. Nessas alturas, quase dá um salto, detém-se e vira-se, muito admirado, especado a olhar para mim. Geralmente, ao ver o susto que lhe preguei, desato a rir e ele, a seguir, ri-se também.

O mais velhinho, quatro anos acabados de fazer, já faz coisas mais elaboradas e quer perceber tudo. A minha mãe ofereceu-lhe um livro (para crianças) sobre o sistema solar, que ele quis que eu lhe lesse, tendo ouvido com imensa atenção e, a seguir, fez-me perguntas do caneco, Planeta gasoso? O que é que lá acontece?, etc. Depois estivemos na rua a olhar o céu. A lua hoje está cheia, luminosa. Por isso, não tarda o bebé vai ganhar outro estatuto.

De tarde, houve um fogo enorme e relativamente perto. Havia um cheiro a queimado que me intimida e, por um bocado, o céu toldou-se.



Em primeiro plano o meu cedro e, um pouco mais abaixo, o meu pinheiro. A seguir, os campos
dos vizinhos e, por trás da aldeia que não se vê daqui, o fogo.
O cabo que se vê é o do telefone que vai para a casa do meu vizinho lá de baixo.


Tenho imenso medo. Confio nos bombeiros, agora no verão têm um helicóptero mas o fogo, especialmente quando há vento, é muito assustador. Quando vejo as imagens na televisão com as pessoas desesperadas a apagarem os fogos a balde, ou, pior, quando perdem a casa e tudo o que têm, parte-se-me o coração.

Felizmente, o de hoje foi rapidamente circunscrito e, passado um bocado, já se percebia que estava no rescaldo.

Quando o mais crescido era bebé, ficava muito admirado com a salamandra, com o tubo preto que leva o fumo para a chaminé. Mal aqui chegava queria ir ver a 'né' e apontava para o tubo.

Quando os pais estacionavam o carro num parque de estacionamento, apontava, deliciado, para os tubos de circulação de ar e dizia 'né'.

Depois, foi crescendo e querendo ver o funcionamento, vendo o fogo, indo lá fora para ver o fumo a sair da chaminé. 



Em cima de um micro-mini-tapetinho de Arraiolos, desenho inventado por mim,
e junto a um outro que aqui mal se vê, enquanto inspeccionava,
uma vez mais, o funcionamento da salamandra
(Ao fundo, o meu carrinho das tintas)


Mas mexer naquela porta, ver a gaveta da cinza, a grelha, olhar por dentro para o sítio de tiragem dos fumos, ainda é um desafio.

O irmão, por seu lado, especialmente quando está na rua, fica doido com tanto chão para varrer (nisto sai à Tá que também adora varrer).



O baby em acção: quando cá vêm é para trabalhar...! Não param nem um segundo...!

Caíu não sei quantas vezes porque depois descobriu a vassoura a sério e, então, andava com uma em cada mão, como se fosse quase um esquiador. Só que as vassouras fazem três dele... Mas levantava-se e seguia em frente - está tão habituado aos 'encostos' do irmão que o fazem estar sempre a ir parar ao chão que já acha normal cair. 

E vou mas é dormir que já passa da uma e meia da manhã e esta gente costuma acordar cedo (e a ver se o pequenino não acorda de noite)...

**

E vocês, meus Caros leitores, tenham também uma quinta-feira muito agradável! 

4 comentários:

jrd disse...

Do Zeca e do que é ser avó/avô e da sintonia que se partilha e não se explica, sente-se.

http://bonstemposhein-jrd.blogspot.pt/2011/10/e-o-mundo-ficou-melhor.html

http://bonstemposhein-jrd.blogspot.pt/2011/10/saturday-evening-cii.html

Este seu poste é muito bonito e tem tanta gente. Que bom!

Anónimo disse...

Uma ternura este seu Post!
Cá vou, aliás, vamos desfrutando igualmente nosso neto. Tem uma graça danada e como cresce(m)!
Boa recuperação e boas férias em família, que ainda é do melhor que se leva desta vida, o estar em convívio com a famíla! Ainda hoje recordo com carinho os meus tempos em família, quando era mais novo, com avós, pais, tios, tias e primalhada!
Alternando entre sol, praia (para nós pouco ou nada, já nos vai faltando a pachorra! Preferimos...olhá-la) e campo, peixe e carne, branco e tinto, cá se vão passando estes dias de doce remanso.
Cordialidade,
P.Rufino
PS: ah, até...quase me esqueço que existem por aí uns malvados e medíocres – mas convencidos, a estragarem, de forma consciente o que ainda está mais ou menos de pé neste coitado País!

Um Jeito Manso disse...

Olá jrd,

Já lá estive e gostei imenso do que li e partilho inteiramente o que diz. Não se explica mas é, de facto, uma sintonia e uma ternura muito especiais.

E o Zeca transmitiu muito bem a ternura de embalar e adormecer crianças, quer no Menino d'Oiro quer na Canção de Embalar. Aliás o Zeca era um compositor fantástico e não sabia que esta quinta feira era o seu aniversário.

Achei engraçado que tivesse escolhido o Redondo Vocábulo pois, das canções dele, esta é uma das minhas músicas de eleição.

Muito agradeço as suas palavras jrd.

Desejo-lhe um bom dia!

Um Jeito Manso disse...

Olá P. Rufino,

Nem tenho visto praticamente notícias. Ando alienada de todo, aqui na maior paz e alegria. Quando, à noitinha, dou uma passeata pela blogosfera percebo que a vida continua a rolar e que a mediocridade não se evaporou. Mas, de resto, parece que ando a planar noutro planeta. Aliás, o reboliço que se instalou é tal que, como sempre que a 'maltinha' assenta arraias' todas as rotinas levam automaticamente uma volta.

E tem razão: se as nossas memórias com a nossa família em férias, os ajuntamentos, as paródias, são coisas gostosas, então, é bom sentirmos que nós estamos a fazer parte da construção das memórias dos nossos netos queridos.

O seu rapazinho já deve estar grande e a fazer gracinhas. São uma ternura quando são pequeninos.

E eu aqui no campo, que este ano ainda nem fui à praia no verão (mas também não gosto de praias cheias de gente), cá vou recuperando e, na maior parte do tempo, não fora o sentir que preciso de me sentar e não esforçar, quase nem me lembrava do meu estado.

Saudações cordiais para si, P.Rufino, e tenha uma continuação de bom Verão na companhia dos seus!