segunda-feira, julho 23, 2012

Peter Doyle demite-se, envergonhado, do FMI. Mas a maioria não sente vergonha nenhuma. Enquanto isso, pululam as Akoyas, as Perellas e outras que tais. E ainda: os muito-ricos, os Governos, a Comunicação Social - e nós, os votantes. E, de novo, vos mostro o espaço que habito aqui in heaven.


Música, por favor

Brahams- Akiko Suwanai interpreta a Sonata Nº3 para violino

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Leio que em Espanha, no primeiro trimestre, os tribunais espanhóis ordenaram uma média de 510 despejos por dia.

Leio que o FMI não tem vontade de libertar mais nenhuma verba para a Grécia, podendo o país entrar em bancarrota já em Setembro, e que a Alemanha já admite como provável que a Grécia saia da Zona Euro.

Leio que em 2010 os super-ricos tinham a bom recato, em paraísos fiscais, 17 biliões de euros (número por defeito já que não contabiliza propriedades ou outros bens) o que, pasme-se!, equivale ao conjunto do produto interno bruto dos EUA e do Japão.

Leio que Peter Doyle, um economista do FMI, depois de lá trabalhar durante 20 anos, se demite envergonhado pelo falhanço das políticas daquela instituição nomeadamente na incapacidade de prever a crise e nas condições que impõe aos países resgatados, levando-os à recessão.

Leio que, por cá, a factura do IMI vai aumentar 60%. Leio que 30% dos imóveis vendidos pela Remax pertencem à banca. Leio que, ainda por cá, o FMI insiste na redução da TSU (apesar de estar mais do que demonstrado que isso provocará um rombo fatal na Segurança Social) e, para o compensar, sugere-se novo aumento no IVA, ou seja, mais pobreza a eito [a este propósito, sugiro a leitura do artigo de Manuel António Pina, "O preço de sermos 'bons'"] .

Leio que Passos Coelho diz que mantém o Relvas em funções porque não o escolheu para ele ser Ministro da Educação (e eu pasmo com isto; segundo o critério de Passos Coelho, apenas para se ser ministro da educação é que tem que ter estudado de acordo com as habilitações que diz que tem?! Só visto!).




Estes são apontamentos isolados ilustrativos do abominável mundo que, passivamente, temos vindo a deixar que se construa.

Um mundo em que gente (*) sem formação, sem conhecimentos, prolifera por este país e por este mundo fora, desfazendo sem pudor ou rebates de consciência o que, antes, outros, com tanto esforço, haviam conquistado, deixando que o mundo fique isto: um pântano em que o saber, a aprendizagem e princípios como o respeito pela pessoa, a ética, a verdade, a igualdade, a liberdade se tornam conceitos sem significado.

De cada vez que fechamos os olhos e nos calamos, há alguma larva que aproveita para se desenvolver, há direitos que se destroem, há mais um passo de regresso à barbárie.

Escolas sem rei sem roque, professores desconsiderados e desmotivados, alunos a monte nas salas, sem perspectivas de futuro, famílias sem dinheiro e sem esperança, hospitais sem medicamentos e com médicos e enfermeiros pagos como empregadas domésticas ou menos que isso, jovens a abandonar o país, uns a seguir a outros, bombeiros sem dinheiro para apagar fogos, velhos sem dinheiro para pagar o transporte para ir ao médico - é este o país que queremos?

E não me venham com moralismos ou argumentações armadas em engraçadas (e refiro, como exemplo, o que um rapaz insuportável costuma escrever, o Henrique Raposo, que à custa de escrever coisas pretensamente mordazes ganhou direito a coluna no Expresso), como se os portugueses no seu conjunto fossem culpados pela desgraça a que o País chegou, devendo, portanto, ser todos punidos pela medida grossa, ou, outra teoria, como se a culpa fosse do Sócrates que, em dois ou três anos deu cabo do país, havendo agora que espiar os desmandos desse período. 

Ora nem a culpa (o que eu odeio esta palavra) é dos portugueses no seu conjunto, nem do Sócrates em particular.

O que se passa é que, desde há anos, a incultura vem grassando, a mediocridade vem grassando, a falta de uma liderança esclarecida e humanista vem grassando - e com a conivência de uma comunicação social virada para o lucro, que (salvo excepções) não atende a critérios de exigência e qualidade, que contrata e mantém gente desclassificada. Contam sobretudo os sound bites e o cavalgar airoso de cada onda que se forma. Ouço ou leio jornalistas, tal como leio bloggers, tal como ouço comentadores feitos à pressão, que opinam sem fazer a mínima ideia do que estão a dizer, como se a política fosse um mero exercício de comunicação e de imagem, como se disciplinas basilares como a demografia, a economia ou a cultura fossem negligenciáveis na equação governativa. Degladiam-se entre eles e opinam sobre vacuidades, ajudando a formar a opinião pública, com base em ideias feitas, em parvoíces, em graçolas. E nós, a massa informe de votantes, assiste passivamente a isto, sem um pio. 

E, perante esta mansidão inerte, o capital desbragado, os muito-ricos, as empresas que gerem assets, as Perellas desta vida, as Akoyas, os Canals, os consultores em optimização fiscal, os assessores e gestores de fortunas, os Fundos Internacionais, etc, etc, etc, encontram terreno livre para se expandirem sem regulamentação nem oposição. É deles e só deles, neste momento, a condução dos destinos de parte do mundo, porque em grande parte dos países não há quem se lhes oponha. Pelo contrário, em grande parte do mundo, o que há à frente dos órgãos de poder são fantoches, marionetas, que só fazem o que lhes é mandado fazer e que, ignorantemente, cegamente, acriticamente, obedecem. 

Uma tristeza.

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As duas pinturas que ilustram o texto são de Francis Bacon (1909, 1992), pintor britânico que tantas vezes transpôs para a tela o corpo em decomposição, corpos que perdiam a consistência,  um mundo de vísceras e sangue, um mundo em desfalecimento onde o fim dos tempos parecia ter pousado.

(*) Agradeço ao Leitor que gentilmente me enviou por mail o link para o divertido filme sobre o extraordinário Cartão Relvas.

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Bom. Já chega de vos cansar com assuntos que incomodam - mas, sabem?, começo a pensar nisto e fico revoltada. 

Para amenizar, seria bom se vos pudesse convidar a virem até aqui para beberem uma bebida fresca, saborear um gelado de chá verde, sei lá, qualquer coisa de agradável. Não podendo, volto a mostrar-vos um pouco aqui do meu bocado de céu na terra.



Este ano parece que há menos marmelos do que é costume mas alguns já estão vistosos,
ainda com a penugem da juventude mas já com boas cores



Há tempos o meu filho ofereceu-me este ninho feito de cortiça. Pendurámo-lo nesta azinheira
de que tanto gosto mas, não sei porquê, ainda não atraíu nenhum passarinho
Vou lá pôr umas sementinhas.




Este foi um dos primeiros quadros que pintei, ainda sobre papel.
Usei a ideia da Vénus mas coloquei-a numa casa à Manuel Amado, com um livro aberto por perto



Este casal de bonecos foi-nos oferecido pelos meus pais pouco depois de estarmos cá,
como brincadeira pelas trabalheiras em que sempre andamos quando cá estamos
A figura redonda é uma vela e pretende ser uma galinha
Estão em cima da escrivaninha que é, como se costuma dizer nas revistas de decoração,
 herança de família (mas é mesmo: pertencia a uma tia do meu marido).

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Era para ter transcrito uma passagem do livro da Rita Ferro na qual ela descreve as idas de Fernando Pessoa a casa da avó, Fernanda de Castro. Contudo, dado que isto já vai sobejamente longo, não o farei. Fica para outro dia pois tem graça.

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E é isto. Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela semana a começar já nesta segunda feira. Descansem ou divirtam-se ou, se possível, as duas coisas!

(Para mim é dia de festa, mais um aniversário na família. Por estas alturas, é semana sim, semana sim. Entre caranguejos e leões há para cima de uma data deles. Tudo boa gente, portanto.)

19 comentários:

Isabel disse...

Politicamente: desgraças, desgraças, desgraças...

In heaven: maravilhas, maravilhas, maravilhas...

O casal de bonecos é mesmo giro! E a sua pinura também é muito bonita.

Parabéns aos seus aniversariantes e muitos anos de vida, com felicidade.

Um beijinho e continuação de boas férias

A Matéria dos Livros disse...

Começou o "post" com horrores e acabou de regresso ao paraíso. Só posso dizer que a sua casa é linda, uma festa de cores e formas. Transpira alegria e hospitalidade, como se vê e se lê. Nota-se que o seu estado de espírito também rejubila. Ainda bem.

Muitos Parabéns aos aniversariantes!

Um beijinho e Bom Verão!

Tété disse...

Deixando de lado a política que me faz urticária, quero dizer-lhe que a sua casa in heaven é o espelho do seu acolhimento, sensibilidade, gaiatice e bom gosto.
Continuação de boa recuperação e boas férias.
Parabéns aos familiares e que continuem sempre por perto. Cuidado com tantos doces!!!

Anónimo disse...

Brahms chegou a ser considerado um novo “Messias” da música, à época (o período Romântico), pela mão de (Robert e) Clara Schumann – com quem veio a manter uma relação amorosa depois da tentativa de suicídio do grande compositor (Schumann). Brahms, curiosamente, na sua vida privada, teve várias relações amorosas. Mais ou menos por essa altura, Berliotz (e o seu amigo Baudelaire – tenho uns vizinhos cuja casa fica a uns escassos 50 m da nossa que a designaram de...”Les Fleus du Mal”. Ainda um dia destes lhes perguntarei porquê esta referência a Baudelaire) mantinha relações amorosas com a famosa “Cocotte” Apollonie Sabatier (“La Presidente”), Chopin e a escritora George Sand envolviam-se intimamente, Franz Listz, o sedutor, relacionava-se com a condessa Marie d`Ágoult e, de permeio, com a bela “Cocotte” Marie Duplessis (a inspiradora do romance a “Dama das Camélias” de Dumas Filho). Brahms tinha grande consideração pelo trabalho de Johann Strauss II, e não se coibiu de dizer que teria gostado de ter sido ele o compositor de o “Danúbio Azul”. Passando á música mais moderna, Paula Fernandes, a brasileira, tem uma voz de encantar! Quanto ao resto e de muito mais relevância do que aqui é dito neste excelente Post...só me resta subscrever o que aqui é dito – pois é o que igualmente penso. Estamos a bater na lama – ponto! Este fim de semana estive num daqueles jantares em que uns tantos “preocupados” com a Crise se “angustiavam” com o futuro. Gente que simplesmente não sabe o que fazer ao dinheiro e aos investimentos em “Off-Shore”. Entusiastas desta Desgovernação – chegando ao ponto de desculpabilizar o “pobre Relvas...que até não é mau tipo, etc”. Com elogios rasgados à equipa Passos-Gaspar-Álvaro e Afins” (“se não forem eles a salvarem esta bagunça e pôr ordem nesta malta dos sindicatos”...sic). Mantive-me em silêncio, por algum tempo, com um sorriso, ouvindo aqueles comentários alvares, até que que “rebentei” e, numa linha de algum modo semelhante aquilo que aqui diz e muito bem, zurzi – mas com calma, e sibilina e racionalmente, e com algum humor caustico à mistura - sobre aquele corja de maraus. E foi uma patuscada. Pensavam que eramos todos “da mesma equipa futebolística” e daí exprimirem-se com o à vontade de quem se está nas tintas para quem mais sofre e menos tem. Estavam, no fim de contas, em sintonia com esta insensibilidade social que vem grassando desde que este Governo foi eleito. Em jeito de humor “negro” ainda lhes disse: “fosse eu o Ministro Primeiro (não gosto de PM) e, meus caros, entre outras das medidas que aqui defendi, punha-vos com 75% de imposto sobre os vossos rendimentos – prémios, salários, etc. E se não se importam, vou acabar de saborear este excelentetinto do Alentejo na mesa ao lado”. E deixei-os. Chega de empastelanços!Bonito quadro aquele que ali nos mostra! Sabe, por falar em quadros, no Renascentismo usava-se muito a gema de ovo sobre a “tela”, ou papel, ou parede, para compor certas cores pretendidas. Que curioso! Seguramente que não foi o seu caso! E tenha um boa noite e uma boa recuperação,
P.Rufino

Pôr do Sol disse...

Cara Jeitinho,
Entendo-a perfeitamente que mesmo no Ceu não consiga alhear-se do inferno. Comigo passa-se o mesmo.

Aqui,na Terra, só vamos tendo mais do mesmo: mentira, oportunismo, desfaçatez, ignorancia(não, estupidez mesmo).

A nossa revolta é igual. Mas eu cada vez que oiço ou leio noticias só me apetece desatar ao estalo.

Não há maneira destes politicos pensarem duas vezes antes de agirem e de fazerem declarações.

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Obrigada por mais uma vez nos levar consigo para esse seu bocadinho de Ceu. É um encanto e as suas peças são muito curiosas e originais.

Em tempos tivemos o desejo de ter um refugio para os fins de semana e férias. Mas tornou-se uma preocupação. Quizemos perto de Lisboa para irmos mais vezes, o que na altura, por afazeres profissionais não conseguíamos.
Quando lá chegávamos, ao fim de uma semana de trabalho havia que limpar, das ervas ao pó. Embora tivéssemos deixado tudo em ordem na semana anterior. É como diz, os bichinhos tomavam de assalto o espaço. Enquanto não passou de aranhas, formigas, lagartixas, enfim, quando uma noite chegámos e fomos invadidos por grilos negros enormes que para mim eram baratas, acabou a obrigação de ir sempre para o mesmo sitio, caiar, apanhar ervas etc.
Porque estava um pouco isolada não tinha visinhos. Pouco antes de vendermos foi assaltada. Não foi grande o prejuizo mas o suficiente para não pensarmos noutra. Tinha uma paisagem linda e um por de sol fantastico depois das Berlengas.
Hoje faria diferente, mas já passou.

Aproveite bem as férias e recupere em pleno.

dbo disse...

Cara UJM,
Obviamente, ao fim de algumas leituras jornalísticas e polémicas notícias propaladas, só não entramos em transe porque já, quase afogados, nele vivemos. Até parece que, com as vestes sujas das pinturas, pedimos aos netos ou filhos que nos borrem ainda mais, oferecendo-lhes pincéis e tintas. Não é, mas até parece surreal.

Na realidade a tortura de todos os nossos sentidos e desejos começa a tornar-se infindável e num autêntico avolumar de cúmulos, nimbos e cirros já adivinhamos a proximidade da procela. Só os falsos deuses andam inebriados, tentando completar a sua maquiavélica obra.

É bem verdade quando diz: “De cada vez que fechamos os olhos e nos calamos, há alguma larva que aproveita para se desenvolver, há direitos que se destroem, há mais um passo regresso à barbárie.” Esta, efectivamente, já esteve mais afastada.


Ainda bem que convalesce nesse celestial recanto, onde se nota a sua mão feminina em cores quentes e volúveis. A pintura, algo afastada, transmite-nos o calor e a lascívia de uma “maja desnuda” quiçá mirando o Tejo, pela janela angular. Não sei se estarei inusitada e excessivamente imaginativo!

Aí, nesse leniente e bucólico “Heaven”, deverá sentir as forças que a natureza lhe transmite e nem precisará de outras alternativas para suavizar as sequelas dos seus males. Gostando de a ler, acho, no entanto, que deverá fazer algumas pausas, pois o silêncio, bem ritmado, também é paliativo.

Boa recuperação!

Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel,

Com algum atraso, aqui estou de volta e a responder.

Fico contente que ache piada ao meu recanto. Eu Gosto muito mas sou suspeita, não é?

Gosto muito daquele casal de bonecos pois tem servido, ao longo de anos, para gozarmos connosco próprios, sempre a trabalhar e sempre parecendo que está tudo por fazer.

A festinha ontem foi muito gira, todos muito bem dispostos, muita gente nova, e as crianças, sempre na brincadeira, ainda acentuam mais a alegria.

Obrigada, Isabel e um beijinho!

Um Jeito Manso disse...

Olá Leitora de A Matéria dos Livros,

Pois é, horrores mesmo. E eu tento abstrair-me, pensando que estou a alienar-me. Mas a minha natureza impede-me de me amargurar durante muito tempo. Chateio-me à brava mas, a seguir, tenho que descomprimir. Por isso, a seguir a falar destes governantes que existem por aí e que estão a destruir tudo, preciso de cor, palavras descontraídas, música.

Sinto a minha casa como diz: um lugar de hospitalidade alegre. Quem cá vem pela primeira vez, gosta de andar a cirandar e a ver. Quem já é conhecedor, avança tentando descobrir novidades. E eu gosto disso, gosto que as pessoas sintam curiosidade e gosto em estar por aqui. Adoro, sobretudo, a curiosidade fascinada das crianças.

Em nome dos caranguejos e leões (e já agora agrego uma gémeo, que inaugura a saison dos aniversários em série, pois por pouco não era caranguejo e antecede de uma semana o primeiro caranguejo. Claro que há outros signos mas são uma minoria face a estes que transformam o verão numa festa permanente (...e eu que agora ainda não posso fazer caminhadas para queimar tanta caloria...)

Bom Verão também para si, Leitora e umas belas férias!

E um beijinho!

margarida disse...

Isto é sempre lindo...
Quase é precisa dedicação exclusiva para se abranger o mundo que a nossa UJM nos apresenta sempre numa bandeja pantagruélica para todos os sentidos!
...
E, já agora, nem preciso de chegar ao 'P.Rufino' para "saber" que é o 'P.Rufino'! :))
Olá 'P.' querido amigo!

Um Jeito Manso disse...

Olá Teresa-Teté,

Gostei dessa da 'gaiatice'... É que eu, sabe?, se penso em mim, parece que ainda me sinto mesmo agaiatada, não consigo nada pensar em mim como uma mulher de meia idade... No outro dia, o meu netinho mais crescido (do alto dos seus 4 anos), falava com a mãe sobre dentes postiços e a mãe dizia que quem usava eram as pessoas já com mais idade. E ele perguntou se a avózinha já usava (a 'avózinha é a outra avó) e a minha filha lá lhe respondeu. E depois perguntou se ele achava que a Tá também usava. E ele respondeu 'Não! A Tá ainda é nova!'. A minha filha contou-me isto também toda contente.

Quando eu fiz 30 anos ela (que tinha quase 7) fez-me um bilhetinho com um desenho e a dizer assim. 'Muitos parabéns, mãe, e não tenhas pena por já teres 30 anos porque ainda és muito bonita'. Achei um piadão porque ela, na cabeça dela, devia achar que eu, com 30 anos, já me sentia velha.

Mas nem me sentia naquela altura, nem me sinto ainda. E gosto que a Teresa-Teté ache que a minha casa tem um pouco dessa minha gaiatice...

Quanto aos doces... O meu marido diz no gozo, 'Come...! coitadinha estás coxinha, come mais docinhos para compensar...' e todos acham muito bem que eu coma doces para me desforrar. Mas tento moderar apesar da tentação permanente.

Muito obrigada pelas suas palavras e um beijinho, Teresa-Teté!

Um Jeito Manso disse...

Olá P. Rufino,

Sempre um prazer e uma aprendizagem os seus textos.

Sobre Brahms, deixe-me que transcreva o que Eduardo Lourenço escreve no livrinho que referi no outro dia 'Tempo da Música, Música do Tempo':

"Como pôde estar sepultado tanto tempo ou posto em segundo lugar este maravilhoso e angustiado construtor de espaços musicais de uma melancolia inconfundível, áspera e infinitamente solitária? Toalhas de mar batido de luz e noite sobrepõem-se na sua escrita e compõem esta espécie de cristalização crepuscular que é a sua música.'

Não lhe conhecia essa veia de sedutor mas os criadores tendem a cativar quem deles se aproxima.

Quanto a essa cena que descreve, percebo-o muito bem. Acontece-me muito, em certos ambientes, estarem todos animados a pregar contra tudo o que possa vagamente dar ares de socialista ou ter gostos mesmo que remotamente de esquerda ou mesmo centro. Animam-se e falam como se toda a gente alinhasse pelo discurso 'mata, esfola' inspirado na filosofia Passos/Gaspar 'doa o que doer'.

Geralmente também ouço calada a ver se a conversa muda de rumo mas, não mudando, acabo por atirar um inocente 'Não sei se será mesmo assim...' e, calmamente vou dizendo de minha justiça, deixando-os muitas vezes incomodados comigo, por acharem que lhes apareceu ali uma que é do reviralho, ou que é totó e não sabe o que diz. Sabe o que é, P. Rufino? As circunstâncias, os círculos fechados em que geralmente se movem, a ganância que já substituíu a isenção de apreciação ou que acaba por já nem parecer ganância mas apenas um privilégio adquirido, fazem com que as pessoas percam o discernimento. Tenho ouvido gente que me é relativamente próxima, inteligente, a defender o Relvas e respectiva 'entourage', muitas vezes gente que gravita no grande círculo de poder que gira em volta de pessoas como o Passos, o Relvas, etc.

Quanto à gema de ovo, não sabia que se usava como tinta. Sabia, isso sim, que fazia bem ao cabelo. Quando era pequena, lembro-me da minha mãe, às vezes, me lavar a cabeça com ovo.

Eu uso geralmente tintas acrílicas. Mas por vezes misturo-lhes uma espécie de gesso para lhes dar algum volume ou textura. E por vezes no meio colo umas coisas. Por exemplo, numa pintura que fiz para a casa do meu filho, como ele mora à beira do rio, usei cores claras, cinzas, prateados, azulado, rosados (porque o sol se põe ali, em cima do rio, e fica tudo rosado) e depois, para dar o efeito de água espelhada, colei no meio umas tiras de papel de prata. Eles gostaram.

E pintei um quadro para o quarto da minha princesinha linda com uma joaninha, um ursinho, a menina sininho, uma fadinha, e um castelo, e um rio com uma ponte, e tudo com cores suaves e infantis e depois polvilhei tudo com pó brilhante para parecer que tinha sido a fada a espalhar magia e ficou engraçado.

Por isso, uso muitas coisas mas ovo ainda não... Mas um dia destes experimento.

Obrigada pelas suas palavras e tenha, P. Rufino, um belo dia!

Um Jeito Manso disse...

Olá Pôr do Sol,

Também eu: desatar ao estalo! Nem mais!

Quanto à sua ex-casa refúgio, percebo-a muito bem e compreendo a vossa opção.

Aqui também acontece isso: as folhas secas juntam-se e fazem montes, as ervas crescem, o mato alastra, crescem rebentos junto ao tronco das árvores que quase parecem um arbusto, e é preciso regar, limpar, varrer, apanhar, arranjar. E as teias de aranha aparecem por todo o lado e mal saímos de casa aparecem bichos de conta. E há o risco dos assaltos. Aqui também é um bocado isolado e a casa ali mais abaixo já foi assaltada e eu tenho pavor de que isso um dia aconteça connosco. Quando tínhamos a nossa boxer, que era a nossa grande companheira, estávamos mais sossegados pois ela ladrava ao primeiro ruído e, por vezes, até era demais. Mas agora já não a temos a guardar a nossa casa...

Mas tento abstrair-me disso e desfrutar apenas do lado positivo.

E, quanto ao trabalho, já desistimos de ter isto muito arranjadinho porque senão tornávamo-nos escravos. Isto aqui é uma natureza rebelde e não se dá conta. Por isso, fazemos apenas o possível para manter o espaço habitável e circulável.

E, de resto, como gosto de varrer e fazer coisas desse género, faço mas na desportiva, não como uma obrigação.

Mas não sei como será daqui por alguns anos, quando a idade pesar sobre nós... se calhar nessa altura não conseguimos aguentar isto sozinhos. Mas tenho esperança que, nessa altura, os meus filhos, que também adoram isto, passem a ter uma gestão mais 'executiva' já que agora são geralmente apenas hóspedes tratados com mimo até porque andam também cansados com a vida deles e com crianças pequenas que dão trabalho e noites mal dormidas.

Muito obrigada pelas suas palavras. A minha recuperação felizmente vai bem e isso anima-me imenso. Desejo também um Verão muito bom para si.

Um beijinho Sol Nascente!

Um Jeito Manso disse...

Olá Caro DBO,

Leio sempre com gosto as suas palavras. Que bem escreve...

Estes nossos governantes (mas não é só cá... O Rajoy & Cia. também é cá um artista...) são uma desgraça a todos os níveis até na forma como se expressam. É um palavreado... É que há que ter alguma dignidade quando se ocupam os lugares de estado. Mas estes nem isso percebem, é um linguajar de rua que até dói.

Imagine-os a eles, ao Passos e ao Dr. Relvas, a ouvirem-no, a si, falar... Iam achar que o meu Caro tinha aterrado cá vindo de algum planeta estranho, no qual as pessoas se exprimem usando palavras incompreensíveis. A língua que eles falam é mais rudimentar ('pôr porcaria no ventilador', 'que se lixem as eleições', 'não sou cabeçudo', etc... - e não passa disto).

Quanto à maja desnuta não imaginou demais, não senhor, e apenas não mostro aqui algumas outras minhas pinturas para não chocar algumas almas mais conservadoras pois há alturas em que a minha veia me leva para territórios quase proibidos. agora tenho pintado muito pouco porque os blogues me absorvem bastante mas quando pintava, fartava-me de rir com as reacções dos meus filhos: o que descobria primeiro para o outro: 'Nem olhes...'. Ou, uma vez, um familiar meu muito conservador, a ver um quadro que tenho na sala e às tantas perceber lá um pormenor e a ficar quase de boca aberta, disfarçando depois, atrapalhado... (e eu a disfarçar, fazendo de conta que não tinha reparado e esforçando-me para não me desatar a rir...).

Resumindo: divirto-me.

Quanto à minha recuperação. Hoje de tarde fui ao hospital, à última consulta de revisão pós-operatória. Agora só me quer ver daqui por um mês. Fui a andar sem canadianas (embora ainda lentamente e com algum esforço mas cada vez menor). Fiquei toda contente porque ele estava muito admirado com a minha recuperação, disse que estava surpreendido e que nunca esperou que eu recuperasse tão bem. Ainda não estou a 100%, nem pensar, mas vejo progressos todos os dias e isso anima-me muito. Por isso, aqui neste ar puro, sem horários, descansada da vida, acho que isto vai bem.

Saí lá da consulta tão contente que, dali, pedi ao meu marido para parar à beira Tejo e fui a pé tirar umas fotografias e, para festejar a sério, pedi-lhe que me levasse a um centro comercial e fui aos saldos...!

(Devagar e com cuidado... mas ainda comprei umas coisitas... ia lá eu deixar passar os saldos...!)

Só depois nos pusemos a caminho de cá... Mas mal cá cheguei e jantei, deitei-me no sofá e adormeci de cansada que estava...

E agora, portanto, já são 1 e meia da manhã porque eu sou como os bebés, tenho os sonos trocados.

Obrigada pelas suas palavras e um belo dia para si, estimado DBO!

Um Jeito Manso disse...

Olá margarida!

Que contente que fiquei por a ver por aqui! Sempre tão querida, tão simpática. Muito obrigada.

Sabe que eu, sempre que dou por mim a alongar-me na escrita, me lembro das suas palavras, percebo mesmo que deveria ser mais sintética, que quem anda por estes lados não vem à procura de ler páginas e páginas de texto. Mas sou torrencial quando começo a escrever... é mais forte que eu. Não vê que até aqui nos comentários escrevo, escrevo, escrevo...?

Começo a escrever e é quase como se estivesse a conversar, a partilhar opiniões, a discutir ideias, sei lá...

(Espero que o P. Rufino leia o seu comentário e confirme se é mesmo o seu amigo P. porque, da minha parte, o que posso confirmar é que é um leitor com quem aprendo imenso, que escreve saborosos comentários que dá gosto ler e que deve ser mesmo muito simpático).

Um beijinho Margarida e tenha um belo dia!

Isabel disse...

Li as suas respostas, como é costume( bisbilhotice aceitável. Só não leio quando tenho pressa) e acho que o que faz o encanto do seu blogue é a forma como é feito e os textos mais longuitos fazem parte disso. Quando faço a minha ronda pelos blogues diários, costumo deixar o seu para o fim. Como geralmente é o texto maior, para depois o ler sem pressas.
Também acho que este diálogo que trava connosco, é simpático. Eu gosto de vir aqui aprender, porque sempre aprendo e conversar consigo.

Já agora deixe-me acrescentar que concordo com aquela leitora que diz que identifica o seu leitor P.Rufino. Eu também começo a ler e identifico.

Um beijinho e um bom dia

Anónimo disse...

Olá Margarida!
Que bom saber de si! Vou seguindo o seu Blogue, mas não consigo entrar. Felicidades e um grande X-coração!
Estimada UJM, a tal gema de ovo, com água, era misturada com as cores pretendidas e depois aplicada sobretudo numa tábua de madeira. E ao que li, cada pincelada era definitiva, o que implicava uma mão infalível, como só os tais grandes artistas daquela época tinham.
Quanto a utilizações de produtos para outros efeitos (isto a propósito da gema no cabelo), nem lhe conto o que um dia na Ásia uma mulher nos contou sobre a “aplicação” que tinha posto...na cara, para ficar mais bonita e menos envelhecida (assim acreditava ela)! De ir ás lágrimas! Enfim...costumes não se discutem.
Margarida, o meu Timóteo (o whipett) cá nos vai dado muitas alegrias e já com 5 anos vai ter um companheiro (2 meses) em breve. E já tenho, imagine, um neto – de que sou babadíssimo (esperava ser avô mais tarde, mas such is life!).
Tal como a leitora Isabel, também gosto (e muito) de ler este magnífico Blogue, de UJM, com vagar.
Um bom resto de dia de férias a quem assim está.
Vou assar um peixinho, “regá-lo” com limão espremido, sal e já está! Mais umas batatinhas cozinhdas, uma salada e um branquito e assim se termina um dia calmo, sem...vento (e sem maraus)!
P.Rufino

Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel,

Eu também gosto de ler os comentários nos outros blogues. conhece-se melhor o autor e ficam a conhecer-se outros visitantes. Por isso, percebo bem o que diz pois eu só se estiver à pressa ou distraída é que não os espreito.

E os estilos dos leitores/comentadores começam a conhecer-se. Também há pessoas simpatiquíssimas lá no seu Palavras Daqui e Dali.

Um beijinho, Isabel.

Um Jeito Manso disse...

Olá P. Rufino,

Assim sendo vou ficar-me com o uso dos ovos para fins culinários (e, na pele da cara, limito-me aos hidratantes normais...).

Espero que o seu peixinho temperado com sumo de limão e acompanhado com um branco fresquinho estivesse um petisco...

margarida disse...

Querido Amigo 'P.', obrigada por me ir 'seguindo'. é muito gentil da sua parte, agora que nem há comentários; o tempo escasseia e, como certos pintores, esta é 'uma fase'... :)
Fico muito feliz com esse seu júbilo pelo neto! Que maravilha, que estímulo e paixão! Uma criança é, cada vez mais, um milagre. Aproveite bem que, como os seus filhos, depressa cresce ! ;)
O novo cãozinho também é uma belíssima novidade! Que bom!!
Grande xi-coração e continue por aqui, que a casa da nossa UJM é mesmo um 'heaven'!
Beijos às crianças lá de casa!
:)