Fui hoje a um dos grandes hospitais, um daqueles que, por isto ou por aquilo, volta e meia anda nas bocas do comunicação social. Mas não fui por estar com uma terrível carraspana, foi por outra coisa.
Sobre a carraspana, ontem à noite tomei um comprimido de Ceterizina. Depois, como estava com um pingo que não estava a dar-me tréguas, olhos e nariz numa pingadeira, lembrei-me do Avamys. Estava fora de validade mas não muito, coisas de apenas mês e tal. Como estava mesmo aflita, lá foi disto, bombada para dentro.
O que aconteceu é que hoje acordei sem pingo, sem espirros, sem nada. Mas KO. Totalmente KO. Não sei dizer se era apenas sono, um sono profundo, um cansaço, uma ausência de forças. A voz alterada, o corpo rendido. Nem sei se isto foi do comprimido, se foi da própria gripe. A minha filha perguntou se eu tinha feito teste. Por isso, agora fiz. Negativo para covid ou para as gripes. Ou seja, apenas uma constipação das antigas, mas uma senhora constipação. Ou gripe de uma estirpe não enquadrada pelo teste.
Seja como for, não vou tomar outro comprimido senão amanhã não consigo pôr-me de pé. E tenho um compromisso em que é suposto estar bem acordada.
Mas a ida ao hospital não teve a ver com isto. Antes, quando trabalhava, dado ter um bom seguro de saúde, só frequentava hospitais e clínicas privadas. Agora, que nos reformámos, continuamos a ter seguro, mas menos generoso. As Seguradoras, que sabem fazer contas (e se o cálculo actuarial é uma maravilha...), sabem que à medida que a malta vai para sénior, o recurso a exames e consultas e tratamentos vai aumentando e, portanto, carregam, e carregam bem, no valor do prémio. Mas nem é isso, é mais uma questão de princípio. Durante toda a vida descontámos balúrdios sem usufruirmos. Achámos que agora, reformados, poderíamos tentar. Fomos experimentar o médico de família e, como já aqui falei, gostámos bastante.
Na última vez que fui a uma consulta de oftalmologia foi há uns 3 anos e tal. Nessa consulta, para meu espanto, a médica disse-me: 'Tem aqui uma catarata...'. Fiquei de boca aberta. 'A sério...?' Para mim, catarata era coisa de velhas. Mas velhas mesmo velhas. Ela tranquilizou-me: 'Ainda é uma catarata pequena, ainda não está madura, nem é coisa que se pense em remover'. Vim de lá a pensar 'Quem te viu, ó maria-papoila, com que então já com cataratas...?'. Até me lembrei de um amigo, um gozão que deixou a mulher para se juntar com uma 'moça' mais nova. Uma vez disse-me que essa moça tinha sido operada às cataratas, e acrescentou: 'Já viu? Deixei a minha mulher para me juntar com uma velha já com cataratas...'. O que me ri. Agora já sou eu. Mas assim como as ideias me vêm, assim se vão. No outro dia, a minha filha ficou admirada por eu nunca ter falado na catarata. Ao meu filho, a mesma coisa. Varreu-se-me, que hei de eu fazer?
Mas, na primavera, quando fui àquela consulta em que se concluiu que o mais certo é que andasse a tomar um medicamento para o coração sem necessidade nenhuma e, pior, com efeitos secundários críticos, ocorreu-me falar no tema da catarata. O médico disse que ia marcar-me uma consulta de oftalmologia no hospital e que, com o tempo que geralmente demoram a marcar, se calhar, quando lá fosse, já a catarata estaria madura.
Nunca mais me lembrei de tal coisa.
Até que no outro dia recebi uma mensagem a dizer que estava marcada uma consulta. Afinal foi antes do que eu estava a pensar: apenas 6 meses.
Depois recebi um telefonema a informar-me da mesma coisa. Reparei depois que na mensagem não dizia onde era a consulta. Enviei mail e responderam de imediato, informando que, de qualquer modo ainda iria receber uma carta. E assim foi.
Ou seja, enquanto no Privado onde eu ia recebia uma mensagem à qual deveria responder com um SIM ou NÃO. E estava feito. Não havia funcionários a telefonar, cartas a imprimir, a dobrar, a mandar pelo correio -- tudo tarefas que ocupam pessoas que poderiam estar a fazer outras coisas (e que custam dinheiro...).
Hoje lá me apresentei. Pela primeira vez, fui a uma consulta naquele hospital. Portanto, inexperiente, chegada à recepção, vi uma máquina de senhas. Escolhi a opção de consulta marcada e fiquei à espera que a máquina me pedisse o NIF ou que introduzisse o cartão de cidadão. Mas não. Fiquei intrigada. Então, chegou uma senhora que me disse que não era assim, tinha que me dirigir a Oftalmologia e fazer lá a inscrição. Nos hospitais privados em que eu ia, a recepção era centralizada, ou seja, em qualquer máquina podia fazer a inscrição. Depois de digitar o meu NIF ou de introduzir o cartão, a máquina dava-me uma senha já com o piso e a sala em que teria a consulta, bem como o meu número -- e estava a inscrição feita.
Chegada à dita recepção, dirigi-me à máquina. Voltei a escolher a opção de consulta marcada e, mais uma vez, fiquei à espera que me pedisse alguma coisa que me identificasse. Uma senhora que estava ao pé, explicou que ali era mesmo só isso, só para tirar o número. Ou seja, passado um bocado, na verdade um bocadão, chamaram pelo meu número. Lá fui a um guichetm pediram-me a carta, que entreguei, a lá fiquei inscrita. Ou seja, mais uma tarefa desnecessária. Se estava marcada, desde o momento em que me identificasse na máquina, deveria ficar a inscrição feita.
Somando todas estas ineficiências, e multiplicando por todos os serviços, rapidamente pouparia muitos custos que estão a empolar o SNS.
Quanto ao médico, muito jovem, dira que nem 30 anos, sem bata, um puto. Mas simpático, gentil. Examinou-me e disse-me que já estou no limiar de poder ser referenciada para a cirurgia, mas que também não lhe parecia urgente. Contou-me como é a cirurgia, os riscos e as vantagens, e eu que decidisse. Decidi que para o ano lá volto. Achou bem e logo ali marcou a consulta.
Por isso, a esse nível tudo bem.
E, mais uma vez, pensei: se eu, ou outra pessoa como eu, habituada a olhar para as coisas e a ver onde se pode melhorar, ao fim de um mês teria melhorado consideravelmente o funcionamento dos serviços e teria poupado muito dinheiro. Claro que a seguir iria ver as escalas dos médicos e enfermeiros, iria avaliar as 'barbudas' que por ali se acumulam e que estão a levar o SNS para o buraco. E depois iria para os contratos de manutenção do edifício e dos equipamentos. E depois iria para as compras (de todos os tipos). Em meia dúzia de meses teria conquistado uma mão cheia de inimigos... mas, não tenho dúvidas, tudo estaria a funcionar melhor e mais economicamente.
Mas, claro, isto tudo é chinês para esta ministra e para todos os boys que têm estado a ser plantados em tudo o que é hospital, instituto ou cenas ligadas à Saúde.
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