sábado, maio 28, 2022

As mãos, a lã, a tradição, a paz nas montanhas

 


Não sei se posso dizer que sou artesã. Gostava de poder dizer. Contudo, agora de artesanato apenas faço o blog. Mas, durante muito tempo, fiz tapetes de arraiolos. Já tinha feito tricot e quando mudei de casa reencontrei várias camisolas feitas por mim, geralmente com um design improvisado enquanto ia fazendo. Apenas para os meus filhos e marido fazia peças normais. Para mim era sempre um design fora da caixa. Também houve uma altura em que fazia crochet e até uma colcha eu fiz. E bordei e tenho vários 'quadrinhos' abstractos feitos em bordado. Mas aquilo de que mais gostei de fazer foi, sem dúvida, os tapetes de arraiolos.

Para já, gosto de tapetes. Não apenas gosto de fazê-los como de os ver e sentir na casa. Digo 'sentir' porque frequentemente ando descalça. Acho que uma casa, para ficar confortável, tem que ter tapetes. E gosto de tapetes de lã. Um dos mais bonitos, comprei-o em Londres e é um tapete afegão. É um tapete frágil, lindo, em lã que parece prensada e, depois, sobre a base da lã prensada, é bordado. É uma pequena carpete, talvez de 1,2 por 2m. Está in heaven e por isso agora não posso medi-lo. Com medo que se desfizesse, pedi à minha mãe que o forrasse. A parte que agora contacta com o chão é de algodão espesso e pespontou o tapete ao forro. Tenho também um outro tapete afegão mas mais simples, menos frágil. Tem um bordado em quadrícula, em cada quadradinho um desenho quase infantil. São peças especiais. 

Às vezes penso que, um dia que tenha tempo, poderia fazer tapetes e quadrinhos bordados para vender. Mas, deformação profissional oblige, mentalmente faço um business plan e concluo que não dá. Fazer um tapete leva tempo. E as lãs são caras. Teria que vender o meu trabalho a valor abaixo do de terceiro mundo para que alguém os quisesse comprar. E estar a trabalhar para aquecer não me parece que faça qualquer sentido. 

No entanto, vejo imagens como as do vídeo abaixo e fico encantada, as mãos a fervilhar de vontade de fazer coisas assim.

Trata-se de uma família ucraniana que, numa aldeia remota, continua o seu ofício de trabalhar a lã, de fazer tapetes e outras peças. E todos colaboram, a mulher, o homem, a filha. A filha, jovem adolescente, trabalha ao lado da mãe e é geralmente ela que aparece nas fotografias a usar os casacos. 

A lã, depois de tosquiada, tem que ser desfiada, fiada, tingida (quando é o caso), lavada, penteada, tecida, lavada de novo, escovada. Muito trabalho até que fique pronta e apta a durar anos. Uma maravilha. 

Estive a ver as peças que estão à venda e fico tentada. O conforto que um tapete ou um cobertor ou um poncho assim transmitem é palpável apesar da distância e apesar de não poder fazer o que apetece: passar a mão para lhes sentir a macieza.

As sapatinhas, por exemplo, devem ser tão boas de sentir, devem ser tão confortáveis... O pior nelas é que uma pessoa, com umas sapatinhas destas calçadas, nem deve ter vontade de sair de casa.

Mas o melhor é vermos o vídeo.


Ukrainian Mountain Weavers Refuse To Surrender Their Traditions In War Or Peace | Still Standing

Ukrainian’s Hutsul ethnic minority is keeping a century-old weaving tradition alive by using the same tools and techniques that their people have for generations. In war and in peace, they’re determined to keep their craft alive, and they sell their blankets on Etsy (www.etsy.com/ie/shop/WovenWoolArt). We visited their village in Western Ukraine to see how their tradition is still standing.


-------------------------------------------------------------------------------------------

Viver poderia ser sempre uma coisa simples, boa.

2 comentários:

Isabel disse...

Gostei imenso de ver o video da família a fazer as peças de lã. Bem gostava de ter uma manta ou tapete. São lindíssimos e dão tanto trabalho a fazer...Quando compramos peças artesanais, muitas vezes não imaginamos o trabalho que está por trás. Gosto muito deste tipo de trabalhos.

Beijinhos. Boa semana:))

Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel,

São tão bonitas, não são? E devem ser confortáveis. E macias. Tão tratadas. escovadas, lavadas. O trabalho que dão e o cuidado com que são feitas. Achamos caro e por isso o fabrico artesanal tem o seu quê de inglório pois quem paga acha sempre que paga demais. E quem recebe, como conseguir receber o preço justo, com tantas horas de trabalho investidas em cada peça...

Beijinhos, Isabel. Gostei de vê-la por aqui.