quinta-feira, agosto 19, 2021

Perseguições, tiros, esguichos, cartazes, slogans e etc.

 

Foi a minha filha que, no outro dia, in heaven, se lembrou de que ali seria bom para fazerem paintball. Claro que isso desencadeou logo um movimento a favor. E até que a coisa se concretizasse foi um ápice. O meu filho, antes fervoroso praticante, ocupou-se do procurement. 

Hoje juntaram-se todos aqui para jogar na zona da horta. Não há a largueza que há lá no campo mas dá para principiantes. Antes, o meu filho enviou as regras para que todos os guerrilheiros as soubessem de cor e salteado. Enviou também instruções para o dress code (calas de ganga, blusas de manga comprida, ténis).

Portanto, todos vestidos a rigor e na posse da sua arma, com a máscara posta e sabendo já as regras, deu-se início à refrega. O meu marido esteve de árbitro. Num lugar mais elevado zelou para que não houvesse batotas nem lesões desnecessárias. A minha filha ficou a cronometrar os ataques. Eu a fazer a reportagem. Os demais participaram, alinhando-se em equipas adversárias. O mais pequeno, que estava de máscara mas como mero acompanhante do pai, aborreceu-se fortemente, também queria uma arma. Como tal não é possível, desatou a chorar, desgostoso. Melhor: furioso. Felizmente a tia tinha no carro uma arma de água, usada na praia. E assim foi que, no meio daquela guerrilha, o mais pequeno desestabilizou toda a gente, guerrilheiros, árbitro e repórter, encharcando-os a todos. Creio que apenas poupou a tia, vá lá saber-se porquê.

Durante os raids, com disparos, gritos e corridas, o que se ouvia mais eram os gritos contra o jovem aguadeiro.

E, no final, no rescaldo, ninguém se tinha lesionado ou ficado especialmente magoado mas quase toda a gente estava um pinto. 

A maior vítima foi a irmã, jovem guerrilheira que evidenciou ter, sobretudo, espírito pacifista. Ao invés dos demais que se perseguiam, atacavam ou armavam emboscadas, ela ficava escondida, esperando que ninguém desse por ela. De vez em quando disparava umas balas (para quem não saiba, as balas aqui são umas bolinhas biodegradáveis, de gelatina com tinta no meio), sem se perceber qual o objectivo pois, aparentemente, não visava nenhum alvo. Foi, pois, vítima fácil do irmão que a deixou a pingar.

Entretanto, eu tinha encomendado pizas. Por razões que devem ter tido a ver com a elevada procura, apenas chegaram cerca de hora e tal depois, já tudo estava cheio de fome e o meu marido impaciente e, como é seu costume, a atirar-me as culpas, no caso por não as ter encomendado logo às seis da tarde.

Jantámos já noite, de luz acesa -- na rua, claro -- e toda a gente conversou enquanto devorava as ditas. 

Quando aqui cheguei ao sofá pensei que não ia conseguir escrever nada, de tal forma estava cheia de sono. É que hoje, para mal dos meus pecados, a alvorada tinha sido, uma vez mais, com as galinhas. E, também para mal dos meus pecados, não apenas, de véspera, tinha ido para a cama a horas inconfessáveis como tinha ido sem sono. Portanto, foi mais uma noite de descanso insucedido. Enquanto eles cá estão, estou bem, sem sono ou cansaço. A alegria de os ter juntos e alegres na companhia uns dos outros é tanta que qualquer vestígio de cansaço se dissipa na íntegra. Mal viram costas e chego ao sofá, volta em força. Chama-se a isto falta de férias. E, para esse padecimento, só há um tratamento possível: férias.

No meio destas minhas azáfamas e little afazeres ainda nem prestei atenção às autárquicas. Os cartazes já por aí andam mas parece que o espírito da coisa ainda não baixou em mim. Acho que já tenho claro em quem vou votar mas, ainda assim, gostava de conhecer as alternativas. 

Mas há com cada cartaz... Em alguns casos é o mau gosto da pose ou o ridículo excesso de photoshop tirando vinte anos aos visados, noutros é o próprio fácies dos próprios que não ajuda. 

Sei que não o devia revelar pois há coisas que, a priori, se sabe que não são especialmente bem comportadas ou politicamente correctas. Mas ninguém aqui é perfeito nem tenta fazer-se passar por isso. Portanto, vou contar.

É que o máximo de atenção que temos prestado às autárquicas é quando, indo de carro, nos deparamos com os cartazes. De um, o meu marido disse: 'Não deviam ter feito um cartaz com esta gaja. Com uma cara destas, haverá alguém que vá votar nela...?' e eu dou-lhe razão. Há caras que não enganam. Pior foi o comentário quando viu um cartaz com três mulheres. Disse: 'Deixem passar, deixem passar, nós somos fufas e o mundo vamos mudar'.

Parafraseava, como é óbvio, os ditos da célebre manif abaixo reportada e da qual tive conhecimento através de Mestre Plúvio ao partilhar tão preciosa pérola:


E, de facto, olhando aquelas três naquele cartaz, a ideia de participarem numa manif com aquele maravilhoso grito de ordem parece-me muito possível. Não que a orientação sexual dos candidatos tenha alguma coisa  a ver com a orientação política de quem neles vota mas, ainda assim, não sei se aquele cartaz, com aquelas três, com as expressões e, sobretudo, os penteados que têm, faz muito sentido.

Apenas acrescento que o meu marido tem uma característica: pega na letra de uma canção e mantendo a métrica e o tom, troca-lhe as voltas, vira-a do avesso, torna-a absurda ou maliciosa. Felizmente só exercita esse seu dom ao pé de mim pois, geralmente, é altamente inconveniente. Desta vez, trocou parte do slogan e tornou-o absolutamente impróprio para salão. Mas, lá está, manteve a métrica e o sentido. Levou-o foi ainda mais longe. Tanto que obviamente não o posso aqui revelar. Private, private jokes.

E, para já, sobre autárquicas, é o que me apraz dizer. E, sobre qualquer outra coisa, para já, é a mesma coisa: aos costumes digo nada.


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Pinturas de Hsiao Chin ao som de Catrin Finch que interpreta Clear Sky

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Um dia bom.
Saúde. Alegria. Força. Esperança.

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