segunda-feira, março 01, 2021

O que é preciso para se ser feliz?

 


Foi mais um domingo. Teve, contudo, um elemento altamente diferenciador: foi o primeiro último domingo de Fevereiro em confinamento. Não sei se haverá segundo. Espero que não mas, lá dizia o outro, nunca digas nunca.

Quando fomos fazer a nossa caminhada diária deparámo-nos com uma situação que nos deu ideias. Aliás, já andávamos a prevê-la e o meu marido já tinha tido a ideia. Na altura, não a acolhi favoravelmente. Zero. Rejeitei liminarmente. Hoje, ao ver a concretização da suposição, admiti como possível embora com muitas, muitas reservas. Fotografei, partilhei, ou seja, enviei por mensagem. Em parte foi acolhida, em parte desacolhida. 

É daquelas coisas que a razão desacolhe e a emoção acolhe. Mas, mesmo no domínio da emoção, há lugar para a razão e a razão alerta para tantos escolhos que não sei se a emoção sobrevive. Muitos mixed feelings and mixed thoughts. O extraordinário disto é que, ao contrário do que sempre acontece, desta vez é o meu marido que mais puxa e empurra; e isso é muito estranho. Fico ainda mais confusa.

Em alturas assim, congelo as ideias pois geralmente o tempo encarrega-se de desambiguar as situações nebulosas. Não vale a pena fazer análises swot pois, algures, do nada, algo fará acender a luz.

Tirando isso, foi um dia tranquilo. 

No entanto, tenho saudades. Saudades de pessoas, de lugares, de momentos. Mas a gente habitua-se a tudo até a conviver bem com as saudades.

E, portanto, com as saudades arrumadas e aconchegadas dentro de mim, entreguei-me às pequenas coisas do dia a dia. Cozinhei, fotografei, li, sentei-me ao sol. Só os dois, pouco desarrumamos ou sujamos. Pouco há que fazer. E, portanto, pouco ou nada há a reportar. 

Falei ao telefone. De um lado ouvi argumentos a favor, de outro argumentos contra e de um outro argumentos que nem sim nem não antes pelo contrário. Chegaram mails de trabalho mas forcei-me a não os ver. Esta situação de haver muito tempo livre pode levar-nos a ocupá-lo com trabalho profissional. E isso não. Preciso de ter algum equilíbrio. Penso que todos o precisamos embora nem todos o consigam e, porque ainda o vou conseguindo, sinto-me reconhecida e privilegiada.

Não estando já tanto frio e não havendo chuva, ouvem-se crianças a passar na rua. Umass vão a pé, outras de bicicleta, triciclo ou, até, trotineta. Quando fazem mais barulho, os cães das casas por onde passam achegam-se a ladrar. 

Continuei a olhar para as árvores a ver se descobria pássaros para os fotografar mas não consegui. Não que não os visse mas ou tinham ramos pela frente e era difícil focá-los ou, quando o conseguia, já eles iam atrás de outro rabo de penas, voando alegremente para outro poleiro. Sigo-os pelo canto: cantam, cantam. Encosto-me ao muro e fico a ouvi-los e a vê-los. Cada vez os descubro com maior facilidade. Talvez um destes dias também eu consiga voar pelo meio das árvores.

Ao fim do dia fiz o post abaixo no qual transcrevi um excerto de uma das cartas de Rainer Maria Rilke. Pensei: hoje não escrevo mais nada. Para quê? E assim fiquei, decidida. Pus-me a ler. Até me ocorreu ir buscar um tapete de Arraiolos para recomeçar a fazer. Depois comecei a ver vídeos sobre a vida no campo. Distraí-me. Fui vendo. E distraí-me tanto que, ao acabar de ver o que aqui partilho, um vídeo bastante interessante sobre a qualidade de vida e a felicidade, sem me aperceber do que estava a fazer, desatei a escrever isto. Não tenho emenda. 

Será que escrevo para ser feliz? Ou escrevo porque sou feliz?

(Não sei)


What does it take to be happy? The Nordic countries seem to have it all figured out. Finland and Denmark have consistently topped the United Nations’ most prestigious index, The World Happiness Report, in all six areas of life satisfaction: income, healthy life expectancy, social support, freedom, trust and generosity.

Each year, a group of happiness experts from around the globe rank 156 countries based on how “happy” citizens are, and they publish their findings in the World Happiness Report. Happiness might seem like an elusive concept to quantify, but there is a science to it.

When researchers talk about “happiness,” they’re referring to “satisfaction with the way one’s life is going,” Jeff Sachs, co-creator of the World Happiness Report and a professor at Columbia University, tells CNBC Make It.

“It’s not primarily a measure of whether one laughed or smiled yesterday, but how one feels about the course of one’s life,” he says.

Why Finland And Denmark Are Happier Than The U.S.?




As fotografias, como dá para perceber, são obra minha, cá em casa.

Mirrors é de Max Richter e o respectivo vídeo de Yulia Mahr

___________________________________________________________

Uma boa semana a começar já por esta segunda-feira.
Saúde. Alegria. Esperança. 

2 comentários:

Rui Luís Lima disse...

Confinados à força sonhamos em beber uma bica numa esplanada, mas a escrita é um belo vício e mesmo quando nos proíbem podemos sempre escrever livros na cabeça, como fazia aquela personagem de Patricia Highsmith no "Levemente, Levemente ao Vento".
Gostei de recordar o Carlos de Oliveira no seu outro blogue.
Muito boa tarde!

Um Jeito Manso disse...

Olá Mister Vertigo,

A bica agora é na cozinha. E da escrita, vício prazeroso, só me chega o gosto quando a asa adormece.

Na cabeça não escrevo pois sou cabeça no ar, voa tudo...

Nem me fale no meu outro blogue... anda tão desprezado, coitado... Falta-me o tempo. A ver se lá volto.

Obrigada.

Uma boa terça-feira.