segunda-feira, dezembro 17, 2018

Crónica de um domingo a deitar por fora, com a memória de uma noite muito louca




A ver se, sem me alongar, aqui deixo registo da trabalheira deste domingo. Mal me levantei pedi ao meu marido que me ajudasse no registo de, para cada uma das fotografias seleccionadas, resolver quantas e para quem. Quis dizer-lhe quais os critérios mas não teve paciência para me ouvir. Quando fui ver, estava a dar quase todas a toda a gente. Não podia ser senão ia dar milhares. Ficou logo mal disposto. Na segunda vez, estava minimalista e fotografias de que as outras avós ou as tias ou as primas iriam gostar não tinham sido contempladas. Chamei a atenção e ainda mais mal disposto ficou, que eu só faço coisas sem jeito nenhum, se alguma vez se viu tanta fotografia para tanta gente, que não tem paciência e que lhe peço ajuda mas que depois só quero as coisas feitas à minha maneira e que fizesse eu o resto.

E acabei por ser eu a acabar aquela maratona. Mas, apesar de tudo, muito menos que o ano passado em que, que me lembre, ultrapassaram as mil. Este ano ficaram-se pelas quinhentos e noventa e oito.

Depois da lide caseira e desta empreitada, fomos almoçar à Gulbenkian. Almoçámos lá como tantas mil vezes antes. Os meninos, apesar de mais crescidos, continuam a gostar de ver os patos e de brincar nos esconderijos entre os bosques de bambus e de outras árvores.

Ainda me fartei de rir, mas de ir às lágrimas, quando recordámos aquela vez em que lá fomos as duas sozinhas às compras de livros à noite. De sacos na mão, resolvemos ir para o carro por dentro do parque. Afinal conhecemos aqueles jardins desde sempre, como as palmas das nossas mãos. 


Pois, pois. O pior é que estava escuro, não havia iluminação e perdemo-nos completamente. Desorientadas, não dávamos com os portões, não dávamos com nada. Quando pensávamos que estávamos num sítio, está quieto, não dávamos com ele. Até que demos com um muro. Mas o muro era alto. Resolvemos que a única solução para sairmos dali era saltarmos o muro. Claro que, no meio disto, dava-me uma vontade de rir que só visto. Cena mais maluca. E subirmos para o muro...? Está bem, está. Até que percebemos que havia uns rolos de mangueiras. Lá conseguimos ganhar altura. Os carros passavam na rua e paravam num semáforo. Quando viam duas malucas em cima de um muro faziam-nos sinais, diziam que não, apontavam nem sei para onde. Ela, afoita, saltou. E dizia-me que eu saltasse também. Mas eu olhava para baixo e achava que, se me atirasse, me haveria de espantilhar toda. E sobretudo ria, ria, ria. Só de ver a maluqueira em que estávamos, perdidas de noite na Gulbenkian, a saltar um muro alto, ria, ria, ria. Ela ria-se e dizia-me que saltasse. Lá saltei.

O meu marido diz: 'Ficaram sozinhas durante um bocado e olha no que deu'.

Bem. A seguir, já só os dois, a exposição do Eça. Bela exposição. A ver se amanhã consigo ocasião para falar dela. Agora não que já é tardésimo e daqui a nada tenho que estar a pé e temo os pincéis que me aguardam.

Dali fomos para a catedral do consumo. Teoricamente, a pior ideia possível. Na prática, a pior ideia possível. Uma multidão. O ar quente, quente. Gente vagarosa, gente aos magotes, gente por todo o lado, filas abissais para pagar. Um horror.

Mas já encomendámos as fotografias (séculos para encomendá-las), já comprámos quase tudo o que faltava.


No fim estávamos desidratados, exauridos, tivemos que ir comprar uma garrafa de água. E depois, percebendo que estávamos também cheios de fome, fomos comprar uma bucha: ele uma queijada de requeijão e espinafres e eu um pastel de massa tenra. E eu, se era para o nonsense, pois que fosse para o nonsense total: comi também uma azevia de grão. E que se lixe a alimentação equilibrada.

Dali passámos por casa do meu filho para deixar a mochila que tinha ficado esquecida, com coisas do bebé que podiam fazer falta. 

Claro que chegámos a casa já bem de noite. Estive a fazer a janta e a adiantar a de amanhã, estive a fazer arrumações e etc.

Segue-se ainda separar os presentes por destinatários pois agora tenho a sala de jantar pejada de sacos, a eito. Quando for buscar as fotografias tenho que separá-las e emoldurar algumas e envelopar as restantes.

E estou a pensar que aquela sugestão de, em vez de dar presentes a toda a gente passarmos a optar pelo amigo escondido, é capaz de ser coisa a explorar. Só se comprava um presente e só se recebia um presente. 

Claro que isso vai contra a minha tentação por excessos e o meu prazer em oferecer mas, por outras, resolvia-se esta obscenidade. 


E pronto, por agora é isto. 


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5 comentários:

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Imagino a odisseia de se perderem nos jardins da Gulbenkian à noite e terem de saltar o muro. Muitos fins de tarde lá passei e agora pelo menos umas duas vezes no verão lá estou.

A uma tia minha aconteceu uma pior nos jardins, ela toda claustrofóbica, ficou trancada numa casa de banho, a sorte foi que um funcionário deu logo com os gritos e chamou os bombeiros para mandar a porta abaixo.

Não lute contra a tentação de dar, a UJM é uma mãos-largas e ainda bem.

(Mais logo enviarei o mail com as fotos sãomartinheiras).

Um abraço.

Jumento disse...

Ainda hoje de manhã estive por lá tirando mais umas fotografias....

Isabel disse...

Ando há anos para fazer uma selecção de fotos, para imprimir, dos milhares que fui acumulando. Mas já só na reforma...tenho medo que se percam, como aconteceu a uma pessoa de família, que quando se avariou o computador perdeu centenas de fotos irrepetíveis, porque uma pessoa muito querida, já tinha falecido.

Isto das fotos digitais é muito bom, mas tem esse senão!

Um bom dia para a UJM:))

Um Jeito Manso disse...

Olá Jumento,

E que bonitas costumam ser as suas fotografias. E tão raramente as publica... Não está certo...

Quando vejo por lá algum cavalheiro de máquina apontada às árvores lembro-me que pode ser o Caríssimo Jumento. Mas como vejo mais do que um, não chego a nenhuma conclusão...

Bons disparos, Jumento, sejam eles feitos com a máquina sejam com palavras.

Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel,

Pode crer: estragam-se os computadores, vai-se o que lá está dentro. Ou, se guardamos os ficheiros noutro sítio, passados uns anos já não nos lembramos onde os guardámos. Por isso, assim, pelo menos as melhores ficam em papel. Mas, tem razão, é uma trabalheira andar a ver milhares para escolher o best of.

Beijinho, Isabel