terça-feira, novembro 04, 2014

Duas irmãs cegas vêem pela primeira vez e 56 galinhas antes aprisionadas pisam o campo também pela primeira vez. A alegria da liberdade e do respeito, a alegria das coisas simples.


Ora bem. No post a seguir a este mostrei a boa relação que Cavaco estabelece com os animais. Já o tínhamos visto derretido com as vacas, com as cagarras e, mais recentemente, com os cavalos. Faltava-lhe um peixe. Foi esta terça feira: condecorou um cherne.

Mais abaixo ainda falei de outra que se dá melhor com animais do que com gente: a ex-jornalista Eva Cabral que agora ganha a vida a assessorar o Passos Coelho e a destratar quem ganha a vida a trabalhar honestamente. Mostrei ainda o que é aquilo lá pelo Gabinete do láparo: gente que nunca mais acaba, uma coisa completamente gordurosa.

Mas tudo isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra. Outra, muito outra. Não podia acabar o meu dia com aquela bicharada mal escamada ou cagarreante agarrada aos dedos.





Por isso, abro a janela, deixo que entre o ar fresco e molhado da noite. E vou partilhar convosco dois momentos especiais.

Quem por aqui me acompanha sabe como defendo as pessoas em geral. Pode parecer um lugar comum ou uma afirmação gratuita mas eu acho que não, que é uma opção determinante. Acho que as pessoas devem ser o centro de qualquer actuação política. Pelas pessoas deveremos lutar contra tudo, e contra todos quantos queiram preterir os direitos e o bem estar das pessoas em detrimento de entidades abstractas como os mercados, o sistema financeiro, interesses escusos e inconfessáveis. Pelas pessoas acho que, se necessário, vale a pena percorrer o último quilómetro, escalar mil vezes o mesmo monte, vencer mil demónios.

E preservar o planeta para que as pessoas o conheçam, geração após geração, limpo e belo, e investigar para melhor usar os recursos, e apostar na investigação e no saber, ensinar, curar, entreter.

Pela felicidade das pessoas em geral deveremos deixar de parte pequenas ambições pessoais, ressentimentos, atitudes mesquinhas.

É isso que penso, é assim que ajo.

Mas colocando as pessoas em primeiro lugar, não descuro o amor pelo planeta no qual me foi dada a graça de viver. Respeito e amo a natureza como alguns veneram um deus.

Uma árvore, um rio, uma rocha, um animal, a chuva, a luz, a sombra, o vento, um céu que se ilumina, um solo que se cobre de musgos, uma flor que aparece e desaparece, o tempo que passa. Comovo-me perante a natureza. 


Por isso, respeito também os animais. Respeito a sua dignidade. Sei que são inteligentes. Convivi, dentro de casa, durante treze anos, com um animal inteligentíssimo, meigo, amigo.

Observo os animais na natureza e admiro a sua auto-suficiência, a sua liberdade, a forma inteligente como vivem.

Não consigo, portanto, aceitar que haja animais maltratados, tratados de forma indigna, não suporto que se ignore a sua dor.

Não consigo ver filmes que mostram as quintas em que os animais vivem de forma ultrajante, sujeitos a total desconforto e mortos com terrível sofrimento.

Mas, em contrapartida, foi com gosto e emoção que vi um vídeo que a Margarida, grande defensora dos direitos dos animais, me enviou. Galinhas retiradas de aviários infernais são colocadas pela primeira vez no campo, num chão com erva, sentem a frescura da natureza. A surpresa e hesitação das galinhas é comovente.

Igualmente comovente é o outro vídeo que descobri. Queria fazer um paralelo, encontrar imagens de alguma criança que visse pela primeira vez. E encontrei. É emocionante. Tomara que haja cada vez mais consciência cívica e mais condições para tratar todos quantos precisam.

A alegria das duas irmãs quando conseguem ver pela primeira vez é uma alegria também para quem as vê.


Sonia e Anita, duas irmãs que vivem na Índia, eram cegas desde o nascimento mas uma simples operação tornou possível que vissem a sua mãe pela primeira vez. A organização não lucrativa 20/20/20 providenciou operações gratuitas a estas irmãs - assim como a milhares de outras pessoas em países em desenvolvimento. Isto dá às pessoas de comunidades pobres a possibilidade de construírem um futuro melhor. Neste pequeno filme, a Blue Chalk Media mostra a tocante história das duas irmãs e revela a sua reacção quando lhes retiram as compressas dos olhos.





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E então agora, depois das crianças, os animais. Ao ver o filme abaixo, lembrei-me de quando eu era pequena e ficava com uma das minhas avós. Isso era antes de eu ir para a escola infantil ou, depois dos 4 anos, quando saía da escola e até a minha mãe me ir buscar.

Essa minha avó vivia numa casa com muito campo à volta, uma largueza, uma vista até ao mar. E tinha patos. Mas os patos andavam à solta. Passavam em grupos e iam à sua vida. Nem eles se condicionavam pela nossa presença nem nós achávamos fantástico que os grupos de patos passassem por nós, saracoteando-se. Era normal. Depois, por volta das 5 da tarde, antes da minha mãe vir e, no tempo frio, antes que escurecesse, a minha avó dizia que fossemos procurar os ovos. Ia eu e o Tó, meu grande, grande amigo, um ano mais velho que eu, rapazinho muito atilado e inteligente de cuja companhia eu não prescindia.

Espreitávamos debaixo dos arbustos, percorríamos os caminhos que os tínhamos visto a percorrer, já conhecíamos os esconderijos onde costumavam depositar os seus tesouros. A minha avó dava-me uma cestinha onde nós depositávamos os ovos com mil cuidados. Às vezes, logo ali, quando chegávamos com os ovos, preparava-nos uma gemada, ovo batido com açúcar. Por vezes, fazia só com a gema, ficava mais macia mas não rendia, ia-se num instante. Geralmente fazia com o ovo inteiro. 

Éramos muito felizes, eu, o Tó e os patos. Nunca nos passaria pela cabeça tratar os patos com desrespeito. Eles habitavam aquele espaço tal como nós. E davam-nos o melhor de si pelo que era de elementar justiça que nos sentíssemos agradecidos.



56 galinhas resgatadas de um aviário foram trazidas para uma quinta para aí viverem à solta, à vontade, vêem um campo a sério pela primeira vez.





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As fotografias foram feitas in heaven. Claro. A terra dos meus mil amores.

A música lá em cima é: Romance para piano e violino, Op.11 de Dvorak


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Relembro: continuando por aí abaixo encontrarão mais dois posts, qualquer deles relativo a gente que parece que está no seu melhor quando está a lidar com animais. Mas atenção com as extrapolações: há animais e animais (coisa que Orwell tão bem demonstrou).

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Desejo-vos, meus Caros leitores, uma boa quarta-feira. 
Saúde, sorte e boa disposição são os meus votos.
(em vez de 'são os meus votos' ia dizer 'é o que vos desejo' mas lembrei-me a tempo: duas vezes desejo é exagero)

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5 comentários:

Anónimo disse...

uma dica para a malta do escritório - http://www.youtube.com/watch?v=LT_dFRnmdGs


bob marley

Anónimo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=dsf_z4urc4s#t

bob marley

Anónimo disse...

por isso é que desprezo todo aquele, ou religião ou outra merda qualquer que maltrata uma mulher. basta ter a mãe no pensamento para perceber isso

são chatas ás vezes, mas ninguém é perfeito-))

Anónimo disse...

Mais um post fantástico, que revela grande sensibilidade. Se me permite, subscrevo inteiramente o seu texto.

"Many blessings to you for loving and respecting Mother Nature!"

Conceição Teixeira

Anónimo disse...

Este seu video sobre as raparigas cegas que recuperaram a vista, ou visão, é absolutamente incrível. E comovente até. Um maravilha da Ciência Médica.
Ainda bem que em certos países – “curiosamente” economicamente subdesenvolvidos – ainda se consegue ter em atenção a situação médica dos mais pobres.
Este seu Post é excepcional. E você, UJM, para colocar uma coisa destas neste seu Post, tem de ser um pessoa excepcional também.
Grato pelo que me proporcionou. Emocionante!
P.Rufino
(PS: em relação ao outro das galinhas é terrível como as pessoas tratam os animais, que não têm defesa perante os homens. Qualquer que seja o animal tem os seus direitos. Até na forma de morrer – com dignidade e sem sofrimento (a Margarida compreende-me, pois eu concordo inteiramente com as suas posições quanto a esta questão).
Ainda outro dia quase me passei com um imbecil que estava a tratar mal o seu leal, obediente e pobre cachorro.)