Música, por favor
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Rodrigo Leão - Vita Brevis
Falamos, arreliamo-nos, enfurecemo-nos, gritamos,
insultamos, adiamos, negamo-nos, e sempre como se tivéssemos tempo para
corrigir os erros, para viver melhor, para darmos largas aos nossos ensejos.
Mas quem nos garante que esse amanhã existirá?
Às vezes vejo fotografias de festas, casamentos. Tantos
familiares que lá aparecem saudáveis, felizes e que, algum tempo depois,
desapareceram. Às vezes, posteriormente, descobria-se que nessa altura em que riam e festejavam
e que julgavam estar resplandecentes de saúde, estavam afinal a alimentar, no
seu interior, um monstro inclemente que se multiplicava em silêncio,
disfarçado, alarve.
Hoje eu falava sobre uma nomeação pública que não
percebia, tal como não tinha percebido a anterior demissão. Disseram-me: ‘tem
um cancro e é dos mauzinhos’.
(Não explica nada mas, enfim, tendemos, face a isto, a ser mais tolerantes.)
Depois há isto, 'dos mauzinhos', porque, nestas coisas de seres criminosos há
diferenças. Há os maus que, se forem descobertos a tempo, são fáceis de vencer
e há os outros, os que são mesmo maus, maus como as cobras. Mas a natureza é a
mesma, bichos falsos que a fazem pela calada.
Tenho medo. É uma coisa que me mete muito medo.
Tenho medo. É uma coisa que me mete muito medo.
Hieronymus Bosh - pequeno excerto de uma grande tela (aqui pretendo ilustrar o medo) |
Já vi partir alguns que me eram próximos às mãos desta bicheza malvada. Pensa-se que se tem uma vida inteira pela frente e podemos correr o risco de, sem sentirmos nada, estarmos afinal a ser devorados por dentro, invadidos, dominados. Térmitas brancas, sonsas, dissimuladas, manhosas, infestantes. Claro que hoje, felizmente, grande parte destes animais tenebrosos que, em silêncio, tecem horríveis teias, já são, afinal, vencíveis e quem os vence sente-se, depois, vitorioso, feliz, renascido, mas, enquanto não se sabe que a guerra está ganha, que susto, que susto, que enorme coragem é necessária. Tenho, pois, uma sentida admiração por todos quantos têm essa força, essa coragem, essa esperança que os leva a enfrentar o mal e a vencê-lo.
Hoje também, quando ia para o trabalho, do outro lado da
auto-estrada, uma confusão das antigas. Veículos parados, muita gente fora dos
carros, ar aflito, muitos polícias, o trânsito, a seguir, todo parado ao longo de
quilómetros. Entretanto, vinham a chegar ambulâncias do INEM e dois ou três
carros de bombeiros, apitando, numa urgência, e ziguezagueando impacientes entre os carros parados .
Do lado que eu ia, o trânsito fluía sem dificuldade, gente que seguia normalmente para mais um dia de trabalho numa manhã de primavera, quase verão.
Do lado que eu ia, o trânsito fluía sem dificuldade, gente que seguia normalmente para mais um dia de trabalho numa manhã de primavera, quase verão.
Separadas apenas por uma barra metálica, duas realidades
tão diferentes. Eu e os outros que seguíamos no mesmo sentido, chegámos bem ao
nosso destino; do outro lado, alguém que antes ia também descontraidamente para
mais um dia igual aos outros, afinal, naquele momento, sofria na estrada - e tomara que fosse apenas um sofrimento passageiro. E, atrás, muitas centenas de pessoas, fechadas nos seus
carros, pessoas que iriam chegar atrasadas, aborrecidas pelo contratempo e, sabemos lá nós,
se, em alguns casos, esse atraso não ia também causar outros problemas.
/|\
É a precariedade do ‘normal’, do ‘estar-se bem’. É a aleatoriedade absoluta do ‘ser’. É o julgar-se que se está bem e que se é imortal e, no instante seguinte, constatar que se é pouco mais do que um ser vulnerável à espera de salvação.
Por isso – mas talvez também porque geneticamente sou como sou –
não consigo entregar-me a raivinhas, a rancores, a ressabiamentos, a pequenas invejas. Talvez também por isso, tenho muita dificuldade em perceber as
pessoas que perdem tempo a congeminar ajustes de contas, pessoas que se
consomem a remoer o que fizeram, o que deviam ter feito, o que gostariam de
fazer, o que os outros fizeram. Nada disso me interessa. Para trás das costas o
que é passado (especialmente o que não é declaradamente bom) e para a frente é
que é caminho.
Também não posso compreender estratégias políticas que assentam em empobrecimento, desemprego, insegurança, medo. Não as compreendo (porque são estúpidas), nem as aceito (porque são desumanas).
Vita brevis, tempus fugit - que é como quem diz, a vida é curta, o tempo foge. Não a desperdicemos, não sejamos tão mal agradecidos quanto isso, dando-nos ao absurdo luxo de a desperdiçarmos, por um minuto que seja.
Também não posso compreender estratégias políticas que assentam em empobrecimento, desemprego, insegurança, medo. Não as compreendo (porque são estúpidas), nem as aceito (porque são desumanas).
Vita brevis, tempus fugit - que é como quem diz, a vida é curta, o tempo foge. Não a desperdicemos, não sejamos tão mal agradecidos quanto isso, dando-nos ao absurdo luxo de a desperdiçarmos, por um minuto que seja.
.-.-.-.
Se a música de Rodrigo Leão já acabou, então, música, de novo, por favor
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Katie Melua - Blowing in the wind
E porque estes temas são pesados e eu não gosto muito de carregar com eles, voltemo-nos então agora para coisas levezinhas (ou melhor: parvinhas).
- Como a daquele tipo, Jacob Bovia, 28 anos, bem apessoado por sinal, que foi preso por andar a mostrar o pénis às meninas da universidade no estado de Maryland. O engraçado é que não era o verdadeiro, era um pénis falso. Brincadeirinha, terá ele dito – mas olhem, foi dentro na mesma.
- Como a do Nuno Crato que tinha, ao menos, a obrigação de saber fazer contas mas que, ao que parece, nem sabe ler, nem sequer sabe fazer os cálculos mais elementares pois distorceu completamente o relatório elaborado pela Inspecção Geral de Finanças (IGF) após auditoria à Parque Escolar. A ser verdade o que hoje se leu um pouco por todo o lado, parece que nada do que ele diz corresponde à verdade e, para os casos em que há desvios, eles são explicados essencialmente por razões que não têm que ver com a qualidade da gestão. Aliás, há tempo, pessoa conhecedora destas matérias já tinha comentado que o caderno de encargos exigia que se cumprissem regulamentos que foram feitos por alemães (... para obrigarem as empresas de todos os países a comprarem equipamentos alemães que são os únicos que estão conforme os ditos regulamentos; e assim se percebe porque foram gastos equipamentos dispendiosíssimos que poderão fazer sentido em países cujos climas inclementes podem justificar aquecimento a sério mas não entre nós).
Mas, para verem a resenha do relatório da IGF e se
perceber do que se fala, convém ler o artigo do Daniel Oliveira publicado no Expresso Online.
Este Nuno Crato não pára de me desgostar, são umas atrás de outras, francamente.
Este Nuno Crato não pára de me desgostar, são umas atrás de outras, francamente.
> Nos EUA um tipo é preso por andar a fazer uma graçola e
aqui um ministro pode fazer e dizer o que lhe apetece que nada de mal lhe
acontece. Assim como assim, acho que preferiria que, na próxima, em vez de aparecer a deturpar a realidade, Nuno Crato nos aparecesse antes a pregar partidinhas, como por exemplo a mostrar-nos um dildo.
Exibicionista - obtido no Jow Cartoons |
Tinha
mais graça e de certeza que com isso não corria o risco de atirar com muitos
milhares de pessoas para o desemprego nem nos maçava com tão grosseiras faltas de rigor.
«/\»
[Hoje no Ginjal temos Helga Moreira, uma Senhora que é Física e Poeta, uma conjugação virtuosa. Acompanha, claro, com Clair de Lune, um Debussy vintage. ]
«v»
Tenham, meus caros, uma bela terça feira. Aproveitem-na bem e divirtam-se à grande.
6 comentários:
Jeitinho amiga:
Mais uma vez, estamos de acordo. Para quê zangas, má língua, inimizades, odiosinhos de estimação, raivinhas, sorrisos falsos? Tudo é tão fútil, tão vão! Ninguém dura para sempre. E aí, acaba-se tudo. Aí, vemos como tudo foi tão inútil.
Falou de fotos. Curiosamente, há dias vendo as fotos do baptizado do meu filho mais novo, contei as pessoas que estavam: 38. Dessas 38, 20 morreram.
Por uma questão de feitio, gosto de gostar. Isto não quer dizer, que não tenha umas antipatias parvas, à primeira vista. Tento dominar-me e já tem acontecido, nascerem simpatias dessas antipatias primárias.
Claro que há uma excepção: os políticos. Desses não gosto, nem faço por gostar. Detesto-os mesmo.
De si gosto muito.
Beijinho
Maria
Mais um texto de que gostei imenso.
Concordo completamente consigo e é um lema meu, cada vez mais: para quê raivas, ódios...ou outros sentimentos negativos? A vida é curta demais. "Procuremos somente a beleza..."
Nuno Crato "antes" falava tão bem...
Tenha um bom dia
Isabel
Mary,
Pois é, acaba tudo um dia.
Na minha vida profissional tenho visto pessoas que conheci sendo poderosas e temidas, mais tarde tornaram-se pessoas de idade com quem os mais novos queriam correr e, um dia, foram-se, sem qualquer poder.
Inimizades, ressentimentos, amarguras... para quê?
Eu também gosto de estar bem, bem disposta, de bem com os outros, não tenho feitio para andar zangada.
Quanto aos nossos que vão partindo é uma coisa que me custa imenso. Quando vejo fotografias em que estavam todos bem dispostos e em que agora alguns já cá não estão, dá-me sempre tristeza. Mas é mesmo assim. Já cá não estão muitos mas, em contrapartida, há agora alguns que antes ainda nem tinham sido feitos. E é também para os que vão nascendo e crescendo que temos que nos voltar pois dali vem o rejuvenescimento da vida. E os mais velhos adoram ver os filhos dos filhos dos filhos.
Também gosto muito de si, Mary! Obrigada pela sua presença sempre tão amiga. Beijinhos.
Quanto a pessoas que usam a política para se valorizarem a si próprias, esquecendo a população a quem deveriam servir.
Olá Isabel das palavras que andam por aí,
Nada como se ser boa onda... Deito-me sempre com a consciência tranquila, sem ressentimentos ou frustrações. Estou sempre a lembrar-me que temos todos a obrigação de viver bem a vida, de fazer bem, de estar bem.
E concordo consigo, a arte e a beleza tranquilizam, alimentam-nos o espírito, apaziguam as almas.
Por isso, daqui lhe envio um abraço e os meus votos de que assim se conserve, 'na boa'.
Querida Jeitinho,
Quando se faz um check up sem termos sintomas, muitas vezes é por uma questão de consciencia, e temos sempre a esperança de que esteja tudo normal.
Quando o pior dos diagnosticos nos é revelado e muitas vezes por alguem , que se defende ou para quem é apenas mais um caso, esquecendo-se de que para nós é O NOSSO CASO, cai-nos o mundo em cima, falta-nos o chão, só queremos acordar do pesadelo. Depois, vem o apoio especialisado, mas tudo nos soa a breifing bem recebido. Mas, aos poucos,vai surtindo efeito, pois é Deus no Ceu e o pessoal médico na Terra.
Vem a familia,os amigos a força de uns, a homeopatia e o Reiki de outros. Depois mentalizamo-nos que já vivemos, já construímos algo,(mas ainda tinhamos tanto para fazer e viver), o pior é quando acontece às jovens e crianças, vamo-nos conformando e quando damos por isso já estamos mutiladas a caminho de uma reconstrução sem saber ainda se a deveriamos ter iniciado.
Acabamos por nos sentir felizes pois ainda temos esperança de ver por muito tempo o Sol nascer.
Mas o medo do terrivel monstro continua e o remedio para o matar tambem nos vai ferir.
Agradeço o mimo e a força das suas palavras, e como soube bem!
Deus a guarde.
Um beijinho
Querida Pôr do Sol,
A sua coragem e exemplo são um ensinamento muito importante.
Impressiona-me sempre muito a forma como as pessoas confrontadas com uma notícia destas conseguem ter energia para superar o medo, energia para os tratamentos, energia para ver os efeitos da cirurgia e dos tratamentos. Impressiona-me e acho que todos devemos pôr os olhos nestes exemplos de coragem.
E depois acho que devemos todos festejar a recuperação, a cura, e ajudar a superar o medo de cada vez que há novos exames.
Imagino que se deve ir sem pinga de sangue, cheia de medo. Mas supera-se, ultrapassa-se e isso é notável e deve ser muito louvado.
Só lhe desejo a si, querida 'Quase a Nascer o Sol', do fundo do coração, que rapidamente tudo esteja ultrapassado e que se sinta muito feliz por ter sido tão corajosa, por ter passado por tão assustadora experiência, e que fique boa, animada, esperançosa, motivada, feliz.
E que tenha muitos, muitos e muito bons anos numa nova vida, uma vida leve, feliz, uma vida longa e cheia de coisas boas, de afecto, rodeada por beleza, por arte, por amigos, pela natureza, e feliz, muito feliz, cheia de saúde, cheia, cheia de saúde!
Um abraço e um beijinho!
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