Estava eu na Fnac a folhear alguns livros quando, ao meu lado, uma mulher na casa dos late-trintas, talvez até dos early-quarentas, não sei bem, começou a falar ao telemóvel.
Estava absorta como se não estivesse em público, falando suficientemente alto para que eu, mesmo sem querer, ouvisse a conversa.
Pela conversa fiquei com a ideia que seria professora e relatava que, por estes dias, estava cá em Lisboa, contava onde já tinha ido, falava de bares, de amigos comuns com quem tinha estado e desafiava o interlocutor a ir jantar com ela antes de voltar à província. Não me pareceu que tivesse havido entusiasmo do lado de lá porque me pareceu sentir nela algum recuo, uma frustração disfarçada, a mão que não segurava o telemóvel a mexer nos livros com algum nervosismo.
Olhei para ela. Sem maquilhagem, cabelo, que era fraco e liso, cortado segundo um corte pós-moderno, digamos assim, abaixo da nuca mas com alguma assimetria, uma ponta mais comprida de um dos lados, franjinha colada á testa, pelo meio da testa. Uns óculos com uma armação também moderna, linhas direitas. Aquele ar vagamente alternativo. Depois tinha uma saia direita de tons cinzento e castanho, bem abaixo do joelho, uma blusa escura que, seguramente, era de algum criativo pois não era banal mas, quanto a mim, um conjunto sem qualquer ponta de graça. Toda ela baça. Tinha umas sandálias rasas, um saco também com design, ao ombro.
Não me lembro bem do rosto, mas todo o conjunto, a meu ver, se tornava, mais que triste, desengraçado e sem qualquer pitada de charme. Imagino que, se eu fosse homem, uma mulher assim jamais despertaria em mim qualquer interesse.
Olhei para ela e pensei que, pudesse eu aplicar-lhe um tratamento de choque, a viraria do avesso. Cortava-lhe o cabelo bem curto, dava-lhe uma cor (ou umas luzes como os cabeleireiros gostam de dizer), vestia-lhe um vestido justo, por cima do joelho, calçava-lhe uns saltos altos, ou, sendo isso uma mudança muito brusca, umas calças justas, uma tshirt ou uma camisa bonita, com decote, mudava-lhe as armações dos óculos, punha-lhe um rímel ou uma sombra nos olhos, um blush na cara, um brilho nos lábios, tudo natural mas feminino, confiante. Ficava outra. (Gosto de pensar nisto: quando olho para pessoas que acho que precisam de um restyling, mentalmente visualizo a alteração que eu lhes aplicaria e imagino o output, que é sempre bem melhor do que estão na actualidade)
Katie Holmes, criatura pouco interessante mas, ainda assim um bom exemplo de um 'antes e depois' de uma transformação que valeu a pena |
De notar, com isto, que não acho que todas as mulheres tenham que ser do tipo sex-symbol. Claro que não. Mas acho que também não nos devemos esquecer que, para além de seres pensantes, também somos animais e que, portanto, há que não perder de vista alguns conceitos básicos. Em qualquer espécie animal o aspecto conta. É aliás um dos principais aspectos na escolha de um parceiro. Também não acho que a maquilhagem seja indispensável. Até aos trintas e tais pode ser dispensável pois a pele e o cabelo têm uma firmeza e brilho que valem por si. No entanto, a partir daí ou pelo menos de vez em quando, há que compensar com um colorido e uma graça que são fáceis de aplicar.
Julia Roberts: faz falta ou não um bocadinho de maquilhagem? |
Voltando a esta mulher na livraria. Havia nela qualquer coisa de perdido, de carente, não era apenas a voz, era todo o aspecto. Aliás, acho que as mulheres (e os homens, também) que chegam aos trinta e tais e não se acertam com alguém ficam assim, com este ar vagamente desprotegido, de quem ficou esquecido para trás, de alguém que, num daqueles bailes de antigamente, está sentado à espera que alguém o venha buscar para dançar e, com angústia, vai vendo que quem se aproxima escolhe sempre outra pessoa.
Tenho conhecido pessoas assim, acabam por não conseguir disfarçar uma quase vergonha, como se fosse culpa delas o não conseguirem que alguém se interesse por elas. E depois carregam um tão grande peso, uma ansiedade, que assustam até potenciais interessados; e, com alguma frequência, algum relacionamento que conseguem, acaba por não vingar.
Mulher infeliz |
Muitas vezes tentam compensar este estado de abandono que sentem, dedicando-se afincadamente a outros interesses, como se quisessem demonstrar que é por opção própria - e não por infortúnio - que estão sozinhos. Tenho visto quem se dedique sofregamente ao voluntariado, à igreja, à erudição, ao estudo de actividades alternativas, etc.
As divorciadas e viúvas (idem para os homens) são também um caso complicado, embora diferente.
Os divorciados ficam muitas vezes com um sentimento de derrota, ficam ressabiados, ressentidos, magoados, não se ensaiam nada para se vingarem a qualquer custo. Há neles uma fragilidade de quem está sempre em vias de fazer disparates de uma forma vagamente inimputável.
Já os viúvos ficam com aquele sentimento de vítimas da vida, sofridos, despojados, uma tristeza lá no fundo (e imagino que seja mesmo uma infelicidade e um sofrimento enormes, difíceis de aceitar), uma dificuldade em sair do estado de solidão -- por um lado porque não querem ser infiéis àqueles que sofreram e partiram e, por outro, porque receiam a opinião dos outros, não vá alguém pensar que curaram depressa demais o desgosto. Sentem a necessidade de lembrar a história de amor interrompida e, logicamente, se alguém se quiser aproximar, encontrará sempre uma fasquia demasiado alta.
Mas, em qualquer destes dois casos, será sempre uma questão de tempo. Como referi no post em que falei do último livro de Eduardo Punset, o amor não resiste à distância e, mais cedo ou mais tarde, a pessoa estará disponível para outra relação. Assim a sua auto-estima ou auto-censura o permita.
Agora o caso dos solteiros tardios é mais dramático (dramático para os próprios) pois desenvolvem um conjunto de complexos de que não será fácil sair, gerando-se frequentemente um ciclo vicioso (sentem-se infortunados, por isso perdem a auto-confiança, o que os leva a ensimesmarem-se, o que faz com que se fechem, o que leva a que os outros não os vejam, etc, etc).
Assim e porque a vida é melhor se for vivida em felicidade, a dois, com o coração quentinho, com amor, se possível com salpicos de paixão - mesmo depois da grande onda de paixão do início - aqui deixo a minha recomendação.
- Mudança de visual - seja homem ou mulher: mude de corte de cabelo mas mude mesmo, no caso das mulheres, inclusivamente pode passar por mudança de cor, e, no caso dos homens, para além da mudança no corte de cabelo, deixe crescer barba ou pêra e bigode ou então, o inverso se já o tiver.
- Roupas bonitas e não precisam de ser de marca - esqueça as roupas de velho(a) ou as roupas alternativas (^).
- Um bom perfume também é essencial (aqui, santa paciência, tem que se gastar algum dinheiro pois só pode ser, se for bom; nada pior que um cheiro desagradável, intenso e vulgar).
- E, agora uma coisa importante: olhar em frente, olhar de frente os outros - todo o amor carece de uma troca de olhares; nada de olhar para baixo ou olhar para ontem ou olhar para dentro. Nada disso. Cabeça erguida, andar confiante, corpo descontraído, disponível.
(^) Isto de esquecer as roupas alternativas é uma opção pessoal, claro. Eu acho-as geralmente destituídas de charme mas a verdade é que os alternativos buscam alternativos e, portanto, pode acontecer que, vestindo-se dessa forma, consiga despertar interesse noutro alternativo. Como a minha mãe costuma dizer quando vê um casal em que são os dois destituídos de graça: 'há sempre um pé coxo para uma meia rota'.
* Se é muito míope ou tem estigmatismo severo e tem necessidade de lentes grossas, esqueça: mude para lentes de contacto ou faça operação. Lentes de fundo de garrafa ainda acentuam mais o ar perdido, de quem anda à toa, à espera de ser encontrado. Óculos só se forem de lentes relativamente finas, que não desfigurem e que até podem valorizar.
* Se está muito gorda(o), balofa(o): faça caminhadas ou ginástica e, se necessário, alguma dieta.
* Se está muito magra(o): coma cerelac, ganhe peso - gente magrinha demais tem um ar frágil o que, a juntar ao resto, ainda agrava mais o ar de desamparo.
! Lembre-se: gente com problemas, perdida na vida, complexada, cheia de saudades, cheia de mágoas, insegura, etc, não desperta interesse nenhum. Quem é que quer arranjar um relacionamento com uma pessoa assim? Quem é que quer ter um relacionamento com alguém cheio de complicações na cabeça, ou com alguém sempre a lembrar-se de outra pessoa, ou com alguém cheio de inseguranças? Ninguém quer meter-se em situações complicadas. Mas é que nem pensar.
E quanto ao aspecto, a mesma coisa. Um tipo (ou uma mulher) mal arranjadinho, com ar acabado, esquisito, alternativo, ou com ar de quem, para dormir, veste um pijaminha à velho com calcinhas com cordão e casaquinho com botões (ou camisa de dormir à velha), que interesse é que pode despertar a uma pessoa normal? Zero.
E agora, para todas as mulheres que andam com a cabeça enfiada nos ombros, sem olharem de frente, sem conseguirem dar aquele requebro de ancas que se impõe, aqui vos deixo uma aula de cat walk. A professora é, of course, Miss Kate Moss. Aqui era bem novinha mas não arranjei nenhum video de duração razoável e que a mostre como ela está agora, perto dos 40, já com alguma celulite mas ainda com o mesmo ar de malandra, de bad girl.
(Depois a ver se me lembro de arranjar também uma aula prática para cavalheiros inseguros)
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PS: Nada do que escrevi se aplica às solteiras(os) por opção. Essas geralmente são mulheres livres, felizes, que não gostam de misturas e que estão muito bem assim.
PS2: Claro que isto também não se aplica às casadas(os) que parece que perderam a noção que são gente. Para esses, ainda um dia destes apresentarei um conjunto de conselhos matrimoniais que serão de ordem diferente.
PS3: Se quiser testar a eficiência dos meus conselhos pode enviar-me uma fotografia e a explicação dos seus problemas. Na volta receberá uma receita infalível. A sério: não falha.
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NB
Este post foi publicado há imenso tempo, 2011, estava eu nos primórdios do blog, já nem me lembrava de o ter escrito, coisa de uma outra encarnação. Provavelmente mais de metade dos que me lêem ainda não tinha nascido. No entanto, agora fui surpreendida pelas estatísticas ao ver que, só hoje, já foi visto mais de 1.100 vezes. Por isso, espantada, fui relê-lo e, para o caso de não se encontrarem entre os que já o leram hoje, aqui o passo para primeiro plano para que tentem perceber a razão deste súbito interesse.
4 comentários:
que conjunto de cenas estúpidas.
Sou uma viúva muito diferente do que descreve.Sou doente oncológica muito magra com ar frágil.Gostei da ideia do cerelac.Bjs.
Olá Anónimo/Anónima
Pois, é capaz de ter razão. E eu, na volta, também tenho razão nalgumas coisas. Escrevi aquilo há uns sete anos. Como explico no fim do post, repesquei-o porque me apareceu nas estatísticas diárias com um montão de visualizações (agora já mais de 1.200). Se fosse hoje já não escreveria algumas coisas. Outras sim. Mas, enfim, nada de muito importante.
Uma noite agradável para si (e volte sempre pois, na volta, de vez em quando, quando me distraio, talvez me saiam umas cenas menos estúpidas)
Olá Marieta,
Não se sinta incomodada com o que escrevi. Escrevi-o há tanto tempo que já nem me lembrava. Contudo, ao reler veio-me à memória a imagem da mulher de que ali falo e lembro-me que foi tal como descrevi.
A minha filha enviou-me há bocado uma mensagem a dizer que o que escrevi sobre as divorciadas é redutor pois a maioria não é nada daquilo. Pois, se calhar não. Mas há algumas que sim e ela (a minha filha) conhece algumas.
Quando se escreve sobre tipos de pessoas, volta e meia caímos na tentação de caricaturar ou extremar ou juntar num único tipo características que não aparecem geralmente todas juntas.
Do que diz fica-me é a preocupação da forma como se descreve. Mas...
Ser doente oncológica é ser uma lutadora. Ser frágil é ser forte pois tem que lutar para não se ir abaixo. Ser magrinha pode ser bom e toda a roupa lhe deve cair bem pelo que não sei se comer cerelac é boa ideia... :). E ser viúva pode ser triste e solitário mas ser triste e solitária não é forçosamente uma fatalidade que deva durar até ao fim dos seus dias.
Mas se lê o que costumo escrever é porque é também paciente e uma resistente (pois não é qualquer uma que aguenta as parvoíces que por aqui vou plantando...)
E o que, do fundo do coração, lhe desejo é que supere as dificuldades, encha o peito de ar, acredite em dias melhores, aprecie o que há de belo à nossa volta. Força.
Com afecto, envio-lhe um abraço.
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