Como naqueles filmes, assim eu na vida real. Ao fim de muitos anos, aos poucos vamo-nos reencontrando. Algumas vezes todos, outras vezes em grupos mais reduzidos. Hoje foi assim: envoltos em sol, como se o tempo não tivesse passado, um grupo de amigos encontra-se.
Em volta da mesa, conversamos como se sempre tivéssemos mantido o contacto assíduo. As expressões são as mesmas, os risos os mesmos. Os truculentos continuam truculentos, as serenas continuam serenas, as rebeldes e fora da caixa continuam assim só que, como dizem, agora sem filtro. E vai risada. E a nossa artista continua artista, mas agora com obra feita, cotada. E, aliás, de uma maneira ou de outra, todos temos obra feita nem que com obra feita estejamos a referir-nos, sobretudo, à família que constituímos.
Há novos personagens, claro: o marido de uma, a mulher de outro, a namorada de um outro. E todos conversam e riem. Recordamos episódios, muitas vezes esquecidos ou nem apercebidos por alguns.
Contam coisas de mim ao meu marido. 'Não nos ligava nenhuma', confessam os rapazes. (Não lhe contam que não ligava a eles mas havia um e depois outro a quem ligava). E falam-lhe dos meus feitos académicos e, nesse capítulo, como sempre, não consigo dizer nada. É como se dissessem: 'Tinha o nariz grande.'. Que poderia dizer? Nada. A ser verdade, não teria feito nada por isso. Tento mudar o rumo da conversa.
Falamos das eleições. Há interpretações distintas, visões diferenciadas sobre o trabalho realizado. Há quem invoque situações pessoais, há quem se insurja porque tem que se pensar na cidade e não na sua situação pessoal. Os ânimos ficam acalorados. A política, ainda por cima em véspera de eleições, ainda incendeia. Uns desentendem-se e a mulher de um dos assanhados põe água na fervura: 'Isto é só uma tertúlia', ou seja, não um combate de box. Mas o sangue na guelra dos intervenientes mantém-se vivo. Passado um bocado, os dois amigos atiram-se num mergulho e põem-se a nadar, amigos somo sempre.
Fazemos um brinde, dois brindes. Desejamos todos que nos mantenhamos assim, de boa saúde, amigos, com vontade de partilhar o dia, a companhia uns dos outros.
Nunca tinha estado naquele lugar. Dir-se-ia um lugar quase no fim do nada. E, no entanto, uma maravilha. Muito verde, muito amplo, muito iluminado. E com peças de arte, umas adquiridas, outras feitas, que acrescentam beleza àquele espaço.
Chegámos a casa já noite. Fomos passear o cão que, coitado, tinha ficado em casa sozinho. Mas ficou no jardim e isso mantém-no sempre atento e ocupado, sempre em guarda do território.
Por isso não vimos notícias nem sabemos de novidades. Ou seja, nem eu nem o meu marido temos alguma coisa a dizer. Acresce que a noite passada praticamente não dormi, tossi, tossi, tossi, toda a santa noite até às sete e tal da manhã, uma daquelas tosses que resultam de uma comichão na garganta que não passa. Depois ainda dormi um pouco mas, claro, pouco demais. Agora estou melhor mas carregada de sono. Só que, entretanto, peguei ao meu marido, agora está ele. Pôs avamys no nariz e tomou paracetamol e foi enfiar-se na cama. Não arriscou na ceterizina pois viu como eu fiquei (passaram-me os espirros e o pingo mas no dia seguinte fiquei completamente KO).
Concluindo: o dia foi muito bom, adorei, mas se, enquanto lá estive, estive razoável, agora, aqui chegada, estou capaz é de ir para a cama.
Mas, antes de ir, uma nota: ao ligar o computador e espreitar as notícias, vi que morreu a Diane Keaton e isso deixou-me em choque.
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Diane Keaton, by Pablo Lobato |
Há pessoas assim, que, saberemos lá dizer exactamente porquê, nos tocam de uma maneira especial, parece que queremos tê-las a partilhar o nosso tempo, enquanto o nosso tempo existir.
Mais uma estrelinha que foi brilhar para mais longe.
Contudo, a vida continua, a vida sempre continua. E que seja boa para os que cá estão.
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Desejo-vos um belo dia de domingo
E não se esqueçam de votar pois votar é mais do que um dever, é uma obrigação, é mesmo, ok?
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