segunda-feira, outubro 07, 2019

Primeiras impressões sobre as Legislativas 2019:
sobre a Cristas e sobre o CDS, sobre o PAN, sobre a Joacine Katar Moreira como possível deputada e sobre a quebra do PCP.
E sobre a inutilidade das campanhas eleitorais.


Obviamente os portugueses passam bem sem a campanha eleitoral. É um período de ruído a todos os níveis. Dá ideia que naquilo de in vino veritas deveria substituir-se o vinho por campanha eleitoral pois, quando chega o período eleitoral, parece que o pior de cada um aparece à vista: a veia populista e hipócrita de uns, o défice de carácter de outros, a vacuidade indisfarçável de aqueloutros. Mas, mesmo isso, parece não afectar o sentido de voto dos eleitores. Aparentemente a opinião das pessoas forma-se observando a governação de quem está no poder e a oposição dos demais.

Ainda bem.

Mas isto deveria ser motivo de reflexão para as próximas eleições. 

Quanto ao que se antevê face aos resultados, as minhas primeiras observações são estas:

1 - Os portugueses não estão nem aí para o CDS e, notoriamente, não vão à bola com a Cristas. Antevejo que vá de vez cuidar do cabelo, mudar de guarda-roupa recorrendo a toilettes de contrafacção, em especial, indo abastecer-se a feiras onde predomina a ciganada (e, obviamente, a terminologia é do próprio CDS), quiçá até dar banho ao cão.

Não vai recandidatar-se e não faz senão bem. Ninguém tem paciência para os seus disparates e, para dizer a verdade, também não se percebe qual é a do CDS.

Anunciou que vai bazar e bazou mesmo, adeusinho por aqui me desbaldo e aí vai ela de braço dado com o marido.

2 - Parece que o PAN vai ter mais do que 1 deputado, quiçá 3 a 5. E eu, que estava convencida de que as pessoas que tinham dado a cara como candidatos eram figurantes, interrogo-me sobre o que fará o PAN, se a esta hora estão a deitar contas à vida a ver onde irão arrebanhar alguém que possa ir para o Parlamento e não fazer má figura. Mas, aviso desde já, isto é o meu desconhecimento a falar pois não tenho acompanhado a vida dos panistas.

3 - Também pode acontecer que Joacine Katar Moreira vá a deputada. Tenho simpatia pelo Livre e, ao ver a entrevista com a Joacine fiquei com simpatia por ela. Mas a simpatia que tenho é porque acho que é boa gente, bem intencionada. Não sei se acrescentam alguma coisa mas pode ser que sim, que tenham uma visão 'limpa' sobre o mundo.

Agora uma coisa antevejo eu caso a Joacine vá a deputada: vamos ter vídeos bem dispostos de cada vez que ela intervenha. Tempos épicos podem estar a caminho.

4 - Se acontecer o resultado que se antevê para o PCP, já o disse e volto a dizer: tenho pena. Nunca votei no PCP para as legislativas ou para as europeias (apenas, por vezes, nas autárquicas) e não consigo identificar-me com a sua raiz ideológica. Deveriam ter sabido reinventar-se. Deviam manter os nobres ideais mas perceber que os trabalhadores de hoje já não são exactamente o proletariado de antanho nem os papões de hoje são os mesmos do século passado.

Acho, contudo, que é gente honrada, honesta e, talvez por isso e talvez por não ter largado a pele do passado vestindo a dos tempos de hoje, viram-se ultrapassados pelo Bloco. E isso, devo dizer, acho que não apenas é injusto para o PCP como pode ser um factor de desestabilização no país e uma porta aberta a um populismo mais despudorado.

De qualquer maneira, Jerónimo, com o aquele seu fabuloso rosto esculpido pelo tempo, assumindo que o resultado é penosamente fraco, com a sua dignidade habitual, já traçou qual o seu caderno de encargos e promete manter a guarda na defesa dos trabalhadores. É um lutador que não verga a coluna. Merece respeito.

  • Quanto ao PSD e ao PS preciso de ter dados mais concretos para me pronunciar. 

3 comentários:

Paulo B disse...

Eu estou decepcionado.
Sobretudo triste por termos terminado com a excepcionalidade portuguesa na representação parlamentar da extrema direita. E triste pela constatação de que uma comunicação social tradicional, no seu último suspiro, assume-se como plataforma multivitamínica dos fenómenos políticos mais asquerosos (o Ventura é um frondoso fruto da CMTV... Grupo que acabou de adquirir a TVI... Esperemos pelas cenas dos próximos capítulos, com uma impresa onde os bolsominions envagelicos reforçaram o seu papel de financiadores...).

Quanto ao PCP, ainda que eu já tenha dado provas de não ser versado em ideologia, acho que a questão da "raiz ideológica" é o que dá coerência e solidez ao PCP. Infelizmente a matriz do "proletariado" na industria (e serviços) 4.0 é predominantemente atomizada e narcisistica - e a iniciativa liberal aí estará para cavalgar a onda da geração redes sociais, apps e bater punho (sendo que desta vez o proletariado não erguerá o punho pela classe, mas pelo capital). Não é um problema de reinvenção ou de inadequação do PCP ao maravilhoso novo mundo. É a sua derrota perante a erosão de certas aspirações sociais: há, objetivamente, um recuo, na consciência da esmagadora maioria da população, dos níveis (ainda por cima crescentes) das desigualdades sociais. Porque elas hoje já não se medem pelas enormes favelas ali acima da segunda circular, nem pelo mundo rural arcaico, mas também não se atingiu um nível de literacia suficiente para se compreender as variáveis de interesse (e as novas redes de comunicação, naturalmente controladas pela pequeníssima liderança económico social servem os seus interesses, da desinformação).

Por fim, a palavra ao PAN e ao livre (indo o bloco já bem mais a frente, tendo já descartado uma parte considerável das suas facções mais tradicionais...) - estes serão o fruto dos novos amanhãs que cantam: a fé num capitalismo desregrado mas supostamente ambientalmente sustentável, na democracia direta e eletrónica como panaceia para a representatividade e na institucionalização das tendências new age (das crendices homeopatas, medicinais chinesas, osteopata e afins) como a nova religião de estado que nos dará conforto espiritual. Destes, dou o benefício da dúvida ao livre - ainda que tenha detestado aquela atitude do passado, de Rui Tavares, para com o bloco.
Como dizia o Tom Zé:
Menina, amanhã de manhã
quando a gente acordar
quero te dizer que a felicidade vai
desabar sobre os homens...

Abraço!

Um Jeito Manso disse...

Olá Paulo,

A gente, no rescaldo das eleições, face aos resultados, sente sempre uma expectativa boa ou uma decepção mas, dias depois, já estamos a ser confrontados com a realidade e não com o que gostaríamos que fosse e que tentámos espelhar no nosso voto.

Eu não sei qual o partido que hoje melhor pode acolher as expectativas dos jovens pois, sinceramente, uns parecem amadores ou líricos ou palermas e outros talvez muito instalados. Talvez por isso, porque os jovens gostam de ser contra o 'regime', gostam de lutas, de disrupções -- e é natural que assim seja -- é que o voto juvenil seja um voto sobretudo conservador, de direita. Talvez porque, por cá, neste momento, a esquerda está associada ao 'poder', os mais jovens juntam-se à direita. Tenho para mim que nem aprofundam bem quais as 'causas' a que aderem. Por isso, tenho para mim que faz falta um movimento inteligente, organizado, que se debruce sobre causas relevantes como as do ambiente, a da demografia, a da cultura, a do conhecimento, a da qualidade de vida. Coisas assim. Mas sem fundamentalismo, sem espírito de seita, sem rituais da treta.

Chegue-se à frente, Paulo, mobilize colegas, amigos, pensem nisso.

Paulo B disse...

Olá UJM,

Pois, talvez. Em tempos achei mais isso da juventude do que acho hoje.
Na juventude universitária (do que conheço), essa suposta irreverência é então cada vez mais canalizada para a direita (na economia). Embora me pareça que é bem mais do que uma irreverência: é a solução mais natural para uma sociedade mais atomizada.

Por outro lado, o que me preocupa mais ainda é uma outra direita... a do estilo chega, que fez uns brilharetes em áreas suburbanas ou cidades pequenas, onde podemos correlacionar o fenômeno com conflitos sociais latentes. Contínuo a achar que por detrás da cosmética da modernização das cidades,do turismo e de uma bonança macroeconómica se andam a acumular desigualdades preocupantes, muitas não mensuráveis directamente nos rendimentos das famílias no imediato (guetizacao territorial). Se não for estancado (como não tem sido, pelo contrário) dará espaço para esse outro crescimento à direita. E quem sabe se não se fundem os dois...

Eu chego-me à frente é para as vindimas e para a apanha da azeitona (esta última quase aí a começar). É
que para isso tenho algum jeito... De resto, nem profissionalmente falando.

Boa semana!