sábado, agosto 03, 2019

Casadinhos de fresco





Já contei várias vezes como foi o meu casamento. Foi do mais simples que há, em casa dos meus pais. Para além da senhora da conservatória (ou do notário?), apenas a família mais próxima de ambos os lados lá esteve. Não usei vestido de noiva porque, quando fui provar, achei que parecia fantasiada e não me pareceu bem que, para um momento tão importante, eu me apresentasse fantasiada. Além disso, era caro e pareceu-me absurdo gastar (ou melhor: fazer alguém gastar) um balúrdio num vestido que iria usar um único dia. Optei por uns jeans justos, brancos, uma túnica de algodão muito fino, transparente, bordada, também em branco, do Augustus, uns sapatos leves de verão. Toda de branco mas assim, nesta base. O meu marido também foi na descontra e, ao pescoço, levava um fio feito por mim de missangas pretas minúsculas. Quem não visse com atenção nem se dava conta das missangas. Fi-lo para mim, tipo gargantilha ultra-leve, ultra-fina, um discreto risco preto na base do pescoço. E um dia, quando namorávmos, tirei-o de mim e pu-lo nele e ele deixou e ficou com ele. Portanto, quando se casou, ia, naturalmente, com ele. E também não quis levar bouquet, parecia-me uma coisa meio sem jeito, andar de ramalhete. Ele levou-me um botão de rosa, como me oferecia todos os meses, no dia do mês em que tínhamos começado a namorar, e foi essa flor que usei na mão, isto para cumprir minimamente o ritual de ter flores na mão.

Depois fomos para um lugar muito bonito para as fotografias, e estava um lindo dia de sol, e lá juntaram-se os nossos amigos e restante família, seguindo, então, de lá para um restaurante onde comemos bem, divertidos, muita gente nova. E partimos o bolo de noiva também para mantermos a tradição. Ao fim da tarde despedimo-nos e partimos para a lua de mel. O fotógrafo era um colega da faculdade que se ajeitava a fotografar e que às vezes me fotografava quando eu estava por lá, na cantina ou na associação. Também não nos ocorreu contratar um fotógrafo profissional. Tudo sem grandes pensamentos, tudo na base da espontaneidade. Um dia de pura e inocente felicidade. 

Hoje, para a maioria das pessoas, o casamento é uma produção complexa, dispendiosa, muito trabalhosa e stressante. Festas preparadas com muita antecedência, grandes produções, muitos serviços contratados, muita coiseca, muita dor de cabeça. E um dinheirão. Cada um é como é e ainda bem que há gostos para tudo mas a verdade é que isso, a mim, não me diz nada. Pasmo como é que há pessoas que se dão a tanto trabalho para uma coisa que, depois, dura umas horas e, no fim, cá para mim deve é ficar um vazio, uma frustração -- tanto trabalho para afinal acabar em menos de nada. Prefiro a simplicidade absoluta, pouca gente, coisa espontânea, sem dar trabalho ou despesa a quem quer que seja. Mas lá está, na volta sou um misto de bicho do mato e de irmã carmelita, sendo que como irmã carmelita sou daquelas que acaba expulsa do convento. 

Na altura, tinha eu vinte anos, casei-me. Estava farta de namorar e sem grande paciência para não morar com o meu namorado, ter que me despedir à noite já não me fazia grande sentido, e não nos ocorreu simplesmente irmos viver um com o outro. Outros tempos. Parece que, nessa altura, não era muito frequente as pessoas irem viver juntas sem se casarem. Se fosse hoje era isso que faria, juntar-me, sem aparatos de qualquer espécie.

Os meus pais também não fizeram grande finca-fé em que fosse diferente. Conheciam bem a filha e estavam era preocupados com aquela paixão e com a liberdade intrínseca que sentiam nela, uma filha que nunca aceitou arreios. Não fosse aquilo ainda dar em barriga que, isso sim, seria uma situação embaraçosa para eles, acho que até devem ter ficado aliviados com o casamento.

Foi, pois, um casamento muito simples, sem preparações, sem stresses, tudo na boa. De qualquer maneira, nunca depois senti pena de que tivesse sido assim. Pelo contrário, tenho para mim que, se calhar, por nunca ter havido 'armações' ou fantasias, é que dura até hoje. Digo eu mas, seja como for, há mil e uma razões para um casamento durar e muitas não passam por aqui. 

No entanto, gostei muito, muito mesmo, do casamento dos meus filhos apesar de terem sido o oposto do meu.

A minha filha planeou tudo ao milímetro, desde o vestido, às flores da igreja (casou na igreja, não pela igreja, como ela costuma dizer), a toda a decoração do belo solar apalaçado onde decorreu a festa, e foi um casamento todo ele muito bonito, todos os espaços estavam lindamente decorados, o banquete foi primoroso, a música muito boa, os convidados eram elegantes e chiques, tudo de revista. Ela estava linda e muito feliz. Dançou muito, andou abraçada e enlevada e as fotografias mostram um dia muito alegre, inesquecível. Quando vejo aquelas fotografias não apenas recordo esse dia de sonho como pessoas que já não estão entre nós como, ainda, vejo dezenas de pessoas que, até hoje, não voltei a ver. O noivo provém de uma família muito numerosa e nem eles próprios dão bem conta de quantos são. Já aqui contei que quando perguntei ao avô dele quantos bisnetos já tinha, o senhor sorriu, encolheu os ombros e, para meu espanto, disse: 'Não faço ideia, estão sempre a nascer'. Presumo que nem netos ele soubesse ao certo, tantas as dezenas. 

O meu filho sai um bocado a mim, não é grande apreciador de cenas. Sempre disse que não se casava, não tinha paciência para festas, quanto mais para festanças. Mas a minha nora sempre disse que teria um bocado de pena de ser mãe solteira e eu compreendia-a, é coisa que, parecendo que não, ainda tem, socialmente falando, algum peso. Por isso, vivendo juntos há algum tempo, quando ela engravidou, ele lá foi sensível ao argumento e resolveu fazer-lhe a vontade. Mas festa não haveria, disse ele. Só os pais, os padrinhos e, vá lá, talvez os irmãos de ambos os lados. Mas a coisa foi ganhando vida própria e acabou por haver uma grande festa, uma folia, uma animação. A noiva com uma barriga enorme, vestido branco, feliz como devem estar todas as noivas, o meu filho emocionado por ver a noiva feliz, orgulhosamente a transportar, no ventre, a filha de ambos. Muito bonito, tudo, muito alegre, uma festa rija, dezenas e dezenas de jovens bem dispostos.

Escusado será dizer que eu, em qualquer dos casos, me emocionei como gente grande ao ver os meus filhos tão felizes. Mas estar ali no meio daqueles grandes ajuntamentos, a ter que me controlar para não dar barraquinha e a ter que me manter distante dos meus filhos quando gostava era de estar junto deles, a fazer-lhes mimos, a desejar-lhes felicidades e boa sorte e tudo de bom na vida é uma coisa um bocado violenta para mim -- embora disfarce bem, sei comportar-me.

E estou com isto porque quando aterrei no sofá, perdida de sono --
depois de ter ido ver os meus pais ao fim de um dia de trabalho e depois de ainda ir ao supermercado e, no fim, depois das dez da noite, ainda ter estado a fazer o jantar -- 
e me pus a ver as novidades do YouTube, dei com o vídeo do casamento daquela jovem de 26 anos que vive nos bosques do norte da Suécia, Jonna Jinton, e que se descreve assim:
My name is Jonna Jinton, I'm 26 years old live in the woods in the north of Sweden. I practice the art of kulning, which is the name of the ancient Swedish herdingcall. It was used a long time ago to call the herdstock (the cows and goats) and to communicate with other women. Because of it's very high pitch tones the sound can travel through very far distances and makes very load echoes. To me "kulning" has become a form of art and I love to share my music here on this channel.
Besides kulning, I work as an artist, photographer and are running one of the most popular blogs in Sweden. 
E agora casou e mostrou o filme do dia. E gostei de ver a simplicidade deles e do lugar, a beleza das flores do bouquet. Contou-o assim, ela:

On July 13 we got married in our garden. A day I will always remember with so much warmth, joy and love. This beautiful film with glimpses of our day was made by amazing wedding photographer Sandra Hila, as a gift to us. (...) It was truly a magical day. I was not prepared that it would feel so emotional. I have never cried so many tears of joy than on our wedding day. Just being there with my Johan, my soulmate and husband, together with so many people we love, it was just...so beautiful. I will soon make a vlog where I tell you all about our day. Meanwhile you can get a glimpse of the love and magic that we felt on our wedding through this film.


E que sejam muito felizes

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As flores estão no gelo apenas porque me apetecia ter aqui flores e porque estou com calor.
Olga Kulakova foi quem as fotografou.

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E a todos desejo um belo sábado.
Tenham ou não alguém ao vosso lado, sejam felizes, está bem?

2 comentários:

Maria disse...

Olá, Jeitinho e a propósito de casamentos deixo-lhe este portofólio, com o qual me diverti, de um casal de fotografos casamenteiros que já são referência internacional

https://theframers.pt/

Um abraço, GG

Um Jeito Manso disse...

Olá GG,

Que engraçados! Estive a ver e, de facto, bem originais.

Gracias very much pela dica que pode ser que seja útil para eventuais pombinhos que por aqui passem.

Abraço!